sábado, 9 de maio de 2009

linhas à nossa frente






Às vezes há uma diagonal
Que atravessa o espaço em frente.

Uma geometria de boca aberta,
Uma língua exposta do tempo presente.

Tudo o resto são adornos, dentes,
Narinas, brilhos de sol nos cabelos

O importante é a linha que traça
A realidade e abre uma fenda

Uma possibilidade de abrir
Cirurgicamente o dia em dois bocados

E mexer dentro dele, pôr lá sol, tirar luas,
Fazer trinta por uma linha!

O importante é o risco, o rosto
Esticado; a sua arquitectura, as forças.

O que se levanta no ar e perfaz o dia
Em múltiplas geometrias abstractas

A que os corpos se dobram
como se se entregassem ao bisturi, à broca.

É quando todas as brocas do dia rodam
Que nem doidas, e os médicos voam em saias

Pelo ar, formando uma infindável fila
De cirurgiões, de arquitectos, uma linha de balões

Deixando cair cá baixo os instrumentos
Deixando a vida esticada como um cadáver solar

Os pacientes esperando em salas vazias
Completamente cegos para o que se passa mesmo à sua frente.


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imagem: Frank Herholdt (rep. aut.)
site: http://www.frankherholdt.com/html/personal_detail2.php?id=160&gallery=Personal


texto: voj porto maio 2009

2 comentários:

maria josé quintela disse...

absolutamente rendida à sua linha de horizonte.


"uma possibilidade de abrir cirurgicamente o dia em dois bocados."



espantoso bisturi que segura a mão.

Vitor Oliveira Jorge disse...

obrigado.
fui ver o seu blogue. gostei bastante, fiquei seguidor.
um abraço
vítor