sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Marvelous



" The language of cultural resource management might be termed the language of cultural capitalism It is a practice in which a series of individuals assert a hegemonic claim to the past and organize the temporal passage of this cultural capital from its historical context to the present of spectacular preservation, display, study and interpretation The professional body decides on the basis of its claimed knowledge what is worth either preserving or excavating After subsequent interpretation or conservation the public, or non-professionals, are informed that this is then past, their heritage, and that it should be meaningful to them
The language used and the strident advocacy of professionalism does not make the past produced any less alien from the public (or the 'client') but only more so All that is required of the non-professional is to consume the past presented at a distance and in leisure-time. The past, history or archaeology becomes an other, an alien factor passing before people. For the public the commodified past has the contradictory relation to the buyer of any commodity: available to purchase while mysterious in its origin, in the technology of its production. The production of the past remains a mystery isolated from the present in the hands of the professional elite or the authoritative planner.
Reaction against the sense of alienation created may take the form of pot hunting, metal
detecting or unauthorized excavation.
What is needed is not the promotion and protection of a commodified past but its active reworking in the present by archaeologists who do not assert themselves as managers of some unspecified general heritage, a mythical landscape worn with time. What is at stake is not the preservation or non-preservation of the past but the practice of archaeology. This practice has come to lie increasingly in the power of a professional self-appointed minority and it tends to have the effect of denying people their active participation in history, in the practice of making history and coming to an understanding of the present past. Instead what is all too often presented by the 'managers' is a petrified past which is constantly in need of preservation, a decaying corpse in need of embalming before the smell becomes too strong."

Tilley e Shanks, (1992) Re-constructing Archaeology. London Routledge

Tunísia - nosso circuito, esquematicamente



Agência internacional que realizou estes circuito: Travel Plan.

Empresa portuguesa que nos "vendeu" a viagem: Rumos e Ritos, Esposende.

1º dia - 22. 8 - Supostamente, deveríamos ter partido do Porto após o jantar. Na verdade, a viagem em avião da Tunisair foi realizada já no dia seguinte, e bem tarde: depois das 4 da manhã, devido a atraso excepcional do avião na partida de Tunes. Conclusão: não dormimos, tendo desembarcado em Tunes sob um céu de chumbo, cansativo, e com alguma turbulência na parte final do voo. Quanto à qualidade de serviço, pareceu-me óptima.

2º dia - 23. 8 - Tunes- área de Sousse, uma daquelas onde estão os hotéis de praia. Ali já um minibus com um guia nervoso nos aguardava há horas. Toca a meter as malas no "telhado" do veículo, atadas com corda, e a seguir para a "cidade sagrada" de Kairouan. O nosso grupo era pequeno. Além de nós quatro, mais três casais (destacamos a excelente companhia que nos proporcionou o casal da zona de Viana do Castelo - pessoas excelentes de quem nos fizemos amigos), num total de dez pessoas, mais o guia e o condutor.
Em Kairouan, com uma medina rodeada de imponentes muralhas, as cisternas dos Aglábidas (séc. IX), enormes (consideradas obras-primas hidráulicas do mundo árabe), não nos impressionaram muito, devido à depressão físico-psíquica em que nos encontrávamos, ao calor, e... ao facto de estarem vazias, pelo menos aquelas que me foi dado enxergar do alto de um edifício. Já nos animámos muito mais na Grande Mesquita, e no edifício do túmulo de Sidi Sahib (séc. XIII), conhecido como Mesquita do Barbeiro. Vimos depois uma "fábrica"/loja de tapetes. Embrenhando-nos na medina, em frente a cuja porta numerosos homens conversavam uns com os outros à sombra de árvores (as mulheres não frequentam este tipo de sítios públicos), contactámos de perto com a vida quotidiana daquele gente.
Após a refeição fomos em direcção a Sbeitla (Sufetula - cidade romana importantíssima, ocupada também em época cristã desde o séc. III), que visitámos demoradamente. O jantar e
a dormida foram em Gafsa, onde chegámos meio-mortos.

3º dia - 24. 8 - Visita aos oásis de montanha de Chebika e Tamerza, no SW do país, junto à fronteira com a Argélia. Interessantes construções em terra, restauradas porque há anos sofreram bastantes demolições devido a chuvas de tempestade. Muitos indivíduos a tentar vender fósseis, pedras preciosas ou a fingir que o eram, a famosa cristalização conhecida como "rosa do deserto" (vê-se por todo o lado até à náusea) e até sílex que ali aflora em grandes nódulos. Muita gente aventura-se a mergulhar naquelas águas, que têm uma cor duvidosa, verde... Inevitáveis compras nas tendas locais. Partida para Tozeur (um oásis com c. de 3000 palmeiras) e descanso no hotel (sesta). Visita ao Museu de Dar Cherait, de artes e tradições populares, muito rico, instalado na casa (centrada no característico pátio interior) de um antigo senhor importante da cidade. Participação numa festa colectiva (do tipo "para turista") no centro Planet Oasis, nos arredores da cidade, incluindo demonstração de certos "costumes berberes", danças com cavalos, bailados locais (alguns bastante sensuais) e jantar. Tatuagens nas mulheres.

4º dia - 25. 8 - Visita de carroça ao oásis de Tozeur, um paraíso de palmeiras, que por sua vez criam a sombra para as árvores frutíferas, e estas para os legumes que se desenvolvem junto ao chão. Prova de tâmaras. Um rapaz subiu ao alto de uma palmeira para nos demonstrar a perícia com que recolhem as tâmaras. Cada família possui o seu pedaço de terra, que é tratada como algo de precioso (lembrou-me as margens do Nilo); a terra fertilizada pela água, a palmeira, são verdadeiras entidades espirituais. De uma palmeira aproveita-se tudo. Maravilhosa arte. Uma saltadinha ao mercado local para ver o ambiente e depois internámo-nos da cidade antiga (medina), caracterizada pelos seus efeitos de parede em adobes, cada um dos quais com o seu significado. Muito belo. Partida para o deserto (lago de sal) de Chott El Jerid (recolha de um pouco de sal para recordação e compras numa choupana transformada em loja à beira da estrada, "in the middle of nowhere"). "Descida" até Douz, onde teríamos o melhor hotel de toda a estadia. Douz fica às portas do "Grande Erg Oriental" que se integra no Sara. Guardei numa pequena embalagem um pouco de areia finíssima, beje, do deserto, de um tacto fantástico. Ao fim da tarde, experiência de andar montado sobre um dromedário, nas dunas. Muito agradável e de passada muito sensual. Jantar no hotel.

5º dia - 26. 8 - Dia pesado: levantámo-nos muito cedo (os guias, dentro do trajecto combinado, têm um grande poder de decisão) para ir ver as "habitações trogloditas" berberes de Matmata. Ficam para oeste de Douz, já não muito longe da costa (golfo de Gabès). Pareceu-nos "muito arranjada para o turista", como aliás quase tudo nestes "pacotes de viagem". Parámos em Gabès e fomos fazer compras para o chamado "mercado das especiarias" de Jara. Almoço e, em seguida, a uma hora de grande calor, visita ao grande anfiteatro romano de El Jem (séc. III), extremamente bem conservado e comparável ao de Roma em magnificência (é o terceiro maior anfiteatro romano do mundo). El Jem foi cidade púnica e cidade romana "livre"; mais tarde, colónia. Compra de essências. Por fim, alojamento no hotel junto à praia de El Mouradi Port El Kantaoui, nas imediações de Sousse. Massificação total, mas apesar disso uma piscina e praia agradáveis. A praia com água demasiado quente e sem ondas (contrariamente ao meu gosto). Animação típica (música pimba local).

6º dia - 27. 8 - Visitei a medina de Sousse, incluindo a respectiva mesquita, e fiz compras interessantes. Entre elas estes dois vasos, um dos quais já sobre a minha estante:




Voltei para a praia e para as minhas companheiras de viagem, resignando-me àquela vida. Graças a poder dormir e ler, aguentou-se bem. Até na loja do hotel consegui encontrar livros (numa prateleira cheia de pó, com a impressão de que àquele sector vai pouca gente...) e também o vasinho de madeira de oliveira que a seguir reproduzo.



7º dia - 28. 8 - Praia, comida, cama, gente, muita gente por todo o lado. Calor húmido fora do ar condicionado. Leitura como refúgio. Esteve-se bem.

8º dia - 29. 8 - Transporte do hotel para o aeroporto, gasto dos últimos dinares, e chegada ao Porto, após uma espera de c. de 2 horas no aeroporto de Tunes, já perto do dia seguinte. Em casa, a arranjar as coisas, acabei por me deitar depois das 4 da manhã de dia 30. A qualidade do voo foi óptima.

Aliás, a maioria dos tunisinos são muito atenciosos para com os turistas, a sua "galinha dos ovos de ouro". O que se torna mais maçador é o constante chamamento para compras, no que os vendedores são hábeis e psicólogos experientes, quer com homens (convidando para entrar e tomar um chá, por exemplo; quando há ar condicionado, uns lavabos decentes, e um assento, claro está que tudo se transforma num paraíso terreal), quer com mulheres, que evidentemente nas medinas, cheias de lojas, ficam literalmente encandeadas. O tratamento das mulheres (sobretudo solteiras) por "gazela", e muitos outros epítetos do tipo "piropo", é muito frequente.
"Faites comme chez vous", dizem constantemente, sobretudo nas lojas maiores. Mas pode comprar-se um livro (velho) por um dinar, ou trazer qualquer coisa por um terço ou um quinto do preço fixado. O "truque" (melhjor diria, sistema, método correcto) é simples: o cliente diz um preço razoável em função do produto e do que está afixado, e nunca mais deve sair dele. Caso o comerciante não aceite, meia-volta volver. Quando o cliente vai a sair a porta, é chamado por um sinal de aceitação do seu preço. Os comerciantes preferem vender logo e despachar o produto, diminuindo a margem de lucro. De modo que, excepto em lojas mais luxuosas ou hotéis, os preços marcados são uma ficção.




Espelho



"Je suis ce malheureux comparable aux miroirs
Qui peuvent réfléchir mais ne peuvent pas voir
Comme eux mon oeil est vide et comme eux habité
De l’absence de toi qui fait sa cécité"

Aragon, Fou d'Elsa

"A wretch, I am like mirrors
That can reflect but cannot see
like them my eye is empty and like them inhabited
By your absence which makes them blind."

(confrontar com Lacan e a "Fase Espelho")

Tunísia - As ruínas de Seibtla (Sufetula romana)

Cactos - por toda a parte fornecem o seu fruto, e sobretudo servem de muros intransponíveis, dividindo propriedades. Neste caso, delimitando a área visitável das ruínas.

O teatro.

Sistema de aquecimento de pavimentos e paredes... não devia ser nada agradável ser escravo naqueles tempos, a alimentar o sistema que permitia aos senhores viver neste luxos.

Área do "caldarium" de umas termas.


Quem estará espreitando?

Detalhe de processos construtivos. Atenção ao facto de haver zonas restauradas e consolidadas.


"Tepidarium" de umas termas monumentais.
Entrada monumental para o fórum, e o capitólio por detrás. De um lado e de outro do acesso a esta entrada, havia numerosas lojas, como se vê por exemplo em Pompeia.


Sobreposição de estruturas, noutro baptistério.



Outro baptistério, com mosaicos contendo alusões marinhas.


Baptistério sub-elíptico da igreja de Vitalis. A igreja foi construída, sobre as ruínas de uma "villa", no séc. V.


As "traseiras" do capitólio (detalhe).

Uma das duas artérias principais da cidade.
Detalhe do capitólio.

Um dos fóruns mais bem conservados de África, seg. o livro-guia da Tunísia (American Express- companheiro indispensável da viagem), p. 219.








Espantoso capitólio, a noroeste do fórum, com três templos: o de Juno, o de Júpiter e o de Minerva.





Situa-se a c. de 30 km para leste de Kasserine, entre Kairouan e Gafsa.
Foi município, mais tarde colónia romana, e a partir do séc. III d. C. passou a ser ocupada por cristãos, daí provindo as diversas igrejas que se encontram sobrepostas às ruínas anteriores. O fórum e o capitólio (com três templos, dedicados respectivamente a Juno, Júpiter e Minerva) são absolutamente extraordinários.
O pequeno centro de acolhimento tem uma loja, mas as réplicas oficiais não são grande coisa. Paga-se um dinar (c. de 75 cêntimos) para poder tirar fotografias (quase o mesmo em todos os lugares turísticos monumentais, para além do bilhete de entrada). A visita desta portentosa cidade foi um dos acontecimentos mais interessantes da viagem.
Resta acrescentar que as ruínas estão muito restauradas. Não sendo um especialista destas épocas, e também por falta de tempo, não me alongo em detalhes.
Entre as ruínas havia também sempre gente a querer vender-nos coisas, como em toda a parte: aqui cópias (algumas sem qualquer interesse) de objectos arqueológicos, supostamente antigos: fiquei-me por uma pequena cópia de lucerna com a decoração de dois peixes... que me custou 6 dinares e meio.
É sabido que o grande museu nacional da Tunísia, célebre pelos seus mosaicos romanos excepcionais, é o do Bardo, em Tunes. Mas Tunes, cidade cosmopolita, terá de ficar para outra oportunidade... as minhas companheiras de viagem queriam desesperadamente praia depois de tanto deserto e calor no Sul!
A propósito: o calor quando seco, no meu caso, até é agradável: mas com humidade, é terrível: quando, após uma noite sem dormir (o voo charter da Tunisair partiu do Porto depois da 4 da manhã, obrigando-nos a uma directa sem hotel nem pequeno almoço; estivemos assim no aeroporto desde as 7,30 da tarde de dia 22 até àquela hora de dia 23, e a viagem são 2,45 h. - uma "seca" monumental!) aterrámos em Tunes na manhã de 23 sob um céu de chumbo, o ambiente era irrespirável. Turista sofre, e descansar dá imenso trabalho! Sobretudo quando se vai em "pacotes"... que é a única maneirta acessível, julgo, de ir a países visitáveis do Magrebe, como o Egipto (onde estive em 2000) e Marrocos (onde já muita gente se aventura sozinha), onde já não vou desde 1969, quando tinha 21 anos! É um dos nossos próximos destinos, apaixonado que sou, como a Susana, por toda a bacia mediterrânica, o "nateiro" da nossa civilização.



Grande tanque da cisterna para armazenar água para as termas.

Rundale Pils












O Palácio de Rundale perto de Jelgava.
Vi por lá um grupo de turistas portugueses que estavam de visita à "pérola do Báltico - Riga".
Mas atenção! Isto não é Riga. Fica aliás ainda a algumas dezenas de quilómetros da capital, no meio do campo, rodeado de antigos "колхозy (kolkhozy)". Estes aparecem hoje como campos de uma paisagem rural. Para o turista nem parece que esta já foi uma orgulhosa Republica Sovíetica (Latvijas Padomju Sociālistiskās Republikas - Padojmu é sovietica em letão).

É muito engraçado ver o modo como o absolutismo e o barroco se manifestaram por aqui.
A disposição de toda esta mobília fez-me pensar sobre a questão da cultura material e o tempo. A primeira vez que tive essa sensação de falsidade foi numa visita em miúdo ao Palácio da Pena. Foi aí que percebi que tudo o que ali estava não estava como no original. Não existia uma Pompeia abandonada. As coisas não estava como o "Rei" as tinha deixado quando saiu. Este problema que se coloca na musealização destes espaços resulta afinal do mesmo problema que sofre a arqueologia: o tempo é considerado como uma série de momentos, sendo apresentado ao turista a "relíquia" do "último". Contudo a verdade é que raramente o que é apresentado se relaciona efectivamente com o momento que se quer caracterizar. Em Rundale por exemplo passamos de salas de barroco rococó do séc. XVIII (onde se nota o cruzamento de várias influências) para outras com estilo do séc. XIX, marcadas pela a presença de uma certa aristocracia russa . O edifício é tão rico que a cristalização do momento não faz justiça à sua história. E de tudo resulta uma amálgama virtual.
Nota-se também que o que verdadeiramente as pessoas querem (quer turistas quer agentes do património) é criar a ilusão de um dia como elite do barroco, desfrutando do sublime. É isso que ali está: é o desejo. Quer-se encarnar a fantasia. A "jouissance" de Lacan apresenta-se em cada sala. Cada visitante desfruta de Rundale. Mas não completamente claro. É aliás graças a essa repressão (desfruta-se, mas não se pode fazer de tudo, pode-se apenas imaginar) que o jogo se intensifica. Sabemos que não está lá tudo. Há peças escondidas, e mesmo estas que estão expostas revelam apenas o essencial. Por outro lado todo este excesso leva-no a ficar cansados de tanta opulência a determinado ponto. Como quem engole um enorme bolo de chocolate. As nossas pernas já não querem percorrer mais salas, os nossos olhos estão cansados de luxo. Já chega, pensamos.
Mas nunca chega. Em Rundale todos desejam um dia ser...
Que bela maneira de sublimar que o capitalismo nos apresenta em cada Palácio... e não só.
Afinal todos nós podemos ser o que quisermos, não é?

Tunísia - Kairouan - a cidade dos tapetes...

Loja/fábrica de tapetes


Alguns padrões...


Trabalho em teares verticais.

Amy Winehouse: 'Rehab' Live!



Source: http://www.youtube.com/watch?v=GgfrxZlrYR4&mode=related&search=

Better sound and image at:
http://dl.aol.com/index.html?date=2007-01-29&video=1

Amy Winehouse: Stronger than me



Source: http://www.youtube.com/watch?v=FjHQV-SuqNE&mode=related&search=

Amy Winehouse -You Know I'm No Good



Source: http://www.youtube.com/watch?v=HFVM5pVTwkM

Tunísia - Kairouan - Mesquita dita "do Barbeiro"

Túmulo de Sidi Sahib, do séc. XVI (também conhecido como Mesquita do Barbeiro).




As minhas companheiras de viagem: Ana, Susana, Alexandra.