quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

a inesperada visita

quando me afagas
com a ponta dos dedos
os pêlos do corpo todo,
sem o tocar,

como se à superfície
de um terreno plano
e inexplorado
ateasses minúsculas
lareiras,

quando o teu dedo
perpassa ao de leve
a periferia dos meus lábios,
provocando pequenos
espasmos:

digo, para mim próprio -
é isto, afinal,
o que chamavam amor,

essa visita que esperei
e de súbito
assim tão subtil
sobre mim se abateu

como a chuva que cai
num deserto
depois de muitos séculos
de secura,

e faz brotar flores
inverosímeis
pela pele das areias...

quando todo o peito,
e até a compreensão do mundo
se abrem

de uma forma inesperada.

voj dez. 2011




para um verão futuro


Dar-te-ei todo o tempo

Para que cures as feridas

Dos homens que amaste

E partiram;


Dar-te-ei todo o tempo

Até que possas voltar

Inteira, tocando-me à porta

Com um sorriso novo;


Intacta, limpa, purificada

Pelo tempo;

E eu, liberto também

De muitas amarras


Incluindo as dos gemidos

Que trocaste com os homens

Que dantes amaste,

E as dos desesperos

Que trouxeram as lágrimas

À flor dos teus olhos.


Esperar-te-ei num dia de sol

Com a porta entreaberta

Sobre as sombras interiores

Da casa, quando as folhas do verão

Quiserem também entrar.




Voj Dez. 2011