quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Temporalidade: apontamento






  • T. S. Eliot referido por Zizek: cada obra de arte realmente nova muda retroactivamente o próprio passado (neste caso, das obras de arte, da chamada "história da arte"). Por exemplo, as obras clássicas passam a ser percepcionadas de modo diferente. Há aqui aquilo de certo modo aquilo a que o estruturalismo chamava a prioridade da sincronia sobre a diacronia. 
  • Em cada momento histórico nós não temos
     apenas "o presente". O presente é sempre também todo "o passado", mas na medida em que este forma o que Deleuze chama "o passado puro virtual." 
  • Deste modo, acentua Zizek, devíamos distinguir as diferenças correntes, comuns, que apenas consistem em explorar possibilidades no interior de uma determinada "estrutura" do passado, das diferenças radicais, que, pelo contrário, reestruturam, neste sentido, o próprio passado. 
  • Ou seja, acrescento eu, nada há mais idiota do que a ideia de "reconstituir o passado", obviamente. O "passado realmente acontecido" é uma proposição enganadora, pois parece esconder a manha da história, que consiste sempre em ver "da frente para trás", retrospectivamente, mas apresentando essa visão sempre em mutação e sempre "interessada", posicionada, visando naturalizar, atemporalizar, determinado presente, como a "verdadeira visão".

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Domesticidade






Agora que estou reformado, trabalhando no que gosto e realizando algumas (apenas algumas, é certo) tarefas domésticas, julgo que compreendo ainda melhor a satisfação íntima das antigas "donas de casa" (como foi a minha mãe), tratando exclusivamente da domesticidade, incluindo os filhos. Mau grado todas as canseiras, sacrifícios, e preocupações, essas "ocupações" estabelecem rotinas securizantes (o 
que não impede que por vezes as pessoas se rebelem contra elas, ou entediem com elas, sabendo perfeitamente quão rotineiras são), absolutamente necessárias à manutenção/prossecução/reprodução da sociedade (como ela é), e portanto inclusive a sensação de "harmonia com o mundo e com o que outros esperam de nós" que proporcionam são o álibi por excelência para a pessoa não fazer mais nada de relevante. Pois até nem tem tempo, nem pode por falta de outros meios (sobretudo financeiros, isto é. não pode comprar força de trabalho extra). Por "relevante" quereria dizer algo que, para além da esfera doméstica, contribuísse de forma mais directa/activa para o colectivo. Por isso foi uma grande oportunidade quando as mulheres passaram, sobretudo no século XX, a actuar nessa esfera colectiva. O que seria de desejar, porém, é que ocorresse o contrário das tendências que se vêem. Sobre-exploração da mulher, sobre a qual recaem a maior parte das tarefas domésticas quando não tem meios para pagar o trabalho inerente, frustração por perceber, a certa altura, que a força de vontade e o voluntarismo individual não são suficientes para conseguir os seus sonhos, que, na maior parte das pessoas hoje, como consumistas, consistem basicamente naquilo que o chamado "estado social" lhes prometeu, e que os bancos as estimularam a fazer. Ora bem, agora perceberam que o sistema bancário não é nada fiável, e que o estado social (social democracia) se tornou uma realidade histórica, uma carcaça de fóssil para expor no Museu do Capitalismo.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Eficiência simbólica



Uma preocupação constante em Zizek é a da "tradução" das culturas, a erudita e a popular (para simplificarmos as coisas). Ele quer mesmo fazer-se entender pelo maior número de pessoas possível, e daí o seu constante aparecimento nos media/intervenções públicas (claro que como motivação o seu narcisismo está presente também).
Uma anedota que conta com frequência para tentar tornar claro aquilo que 

implica um pino mental (toda a sua obra, baseando-se na psicanálise lacaniana e em Hegel é isso mesmo, um pino mental, articulando a dialéctica com as descobertas da psicanálise tal como Lacan a ergueu a um conhecimento verdadeiramente filosófico, voltando a pôr Freud no centro da cultura contemporânea), é a seguinte, a propósito da chamada "eficiência simbólica", ou seja, de como algo que está para além da "racionalidade de todos os dias" e que estrutura a ordem simbólica, funciona (a eficiência simbólica tem a ver com o desfasamento entre a identidade factual, empírica por assim dizer, de um indivíduo, e a sua identidade simbólica, ou seja, a forma como se projecta no Outro, na Autoridade simbólica... a pessoa, em muitas coisas que fez e rituais "vazios" (não são tão vazios assim, porque imensamente eficazes na obturação do Vazio) a que se presta, diz: "acreditar, não acredita", mas... sempre acaba por REPETITIVAMENTE, COMPULSIVAMENTE proceder como se acreditasse, e assim sustém, alimenta e alimenta-se dessa Autoridade).

Havia um louco que julgava ser um grão de milho. Após internamento, foi considerado curado, teve alta do asilo, mas eis que, tendo visto uma galinha pelo caminho, voltou logo ao asilo em pânico. O médico perguntou-lhe então qual a razão de ser do seu pânico, uma vez que agora tinha voltado à normalidade, que sabia perfeitamente que era uma pessoa, e não um grão de milho que podia ser comido pela galinha. O louco respondeu então que sabia muito bem que não era um grão de milho, mas seria que a galinha o sabia??

Eis como uma simples galinha pode ter tanto poder, o de representar a Ordem Simbólica.















Ver por exemplo "O Sujeito Incómodo", Lisboa, Relógio d'Água, 2009, pp. 424-325

sábado, 15 de setembro de 2012

"Crise"

Ver apenas ou sobretudo o nosso assunto presente (governo e país em completo descalabro, desespero das pessoas, etc.) à escala nacional é não ver o assunto, na minha opinião. O problema é de uma crise sistémica do capitalismo, e a solução não está à vista, obviamente. Tivemos uma ditadura de quase meio século. Portugal não se modernizou mesmo do ponto de vista capitalista. Chegou à chamada democracia quando o sistema capitalista entrava em nova e profunda crise. Desabafar contra os políticos pode fazer bem às pessoas, óptimo. Claro que não resolve o problema do capitalismo, e portanto também do nosso minúsculo país. O capitalismo, como sistema envolvente (cada vez mais envolvente, numa espécie de horror ao vazio, destrói todas as fronteiras, tende para a globalização, incluindo os "espíritos") sempre se alimentou de crises. Pode mesmo dizer-se que a CRISE é constitutiva do capitalismo. Já tentou várias soluções, sempre com benefício de alguns, obviamente, em detrimento de outros. Acenou-nos com o Estado social, o estado de relativo bem-estar para (quase) todos. Pois bem, esse estado há muito acabou a nível internacional.  Apenas nos países que se modernizaram "a tempo" (entre o fim da segunda guerra mundial e os anos 70) existem ainda resíduos do "Estado social" ou "Estado providência". Essas raizes, a não se inverter a tendência (o que é imprevisível, estamos hoje sem possibilidade de planeamento, e por isso é que tanto políticos como "sociedade civil" parecem baratas tontas, cada um para seu lado, num desespero atroz, com excepção de alguns que estão a ganhar muito) vão desaparecer. De forma que, a não se dar uma revolução (de um tipo completamente novo, diferente do da Revolução francesa por exemplo), o que não é impossível, o mundo vai cada vez mais ser governado por mafias, protegidas pela lei que elas próprias fabricam porque são detentoras do poder/capital para isso, e a maior parte das pessoas torna-se excedentária, isto é, vai morrer ou empobrecer a um ponto miserável, transformando-se cada um no que Agamben designa, inspirado no direito romano Homo sacer (o indivíduo reduzido à pura existência nua que pode ser morto a qualquer momento). É esse tipo de sociedade que se desenha no horizonte, e de que estes rapazinhos que governam são apenas marionetas. Gritar contra as marionetas faz bem ao ego, todavia. Desabafa-se.

domingo, 9 de setembro de 2012

No Porto, 28 de Setembro de 2012




quarta-feira, 5 de setembro de 2012

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Gonçalo Leite Velho
Adjunct Professor na empresa Instituto Politécnico de Tomar · Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra · Tomar
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