domingo, 31 de maio de 2009

as cobras






Na procura de um animal moribundo

Rastejar

 

Uma planta de folhas longas, coladas

À areia

 

Uma planta moribunda, que já foi

Animal

 

Contorce-se, na berma dos desertos

A planta-animal

 

Rasteja-se, para a ver contra o fundo

O céu, o sal

 

A majestade da agonia fóssil,

Monumento

 

E o tempo passa nas franjas do chão

Rastejante

 

Junto ao corpo. Onde as nádegas

São ainda gomos

 

Antes de se entregarem à geologia

Do horizonte

 

À brutalidade do sol, à voracidade

Das linhas

 

Que aspiram a imagem irreversivelmente

para longe

 

E rastejamos, é um texto-animal que foge

para um lugar indeterminado

 

Horizonte, fóssil, planta rastejante

que se contorce

 

E debaixo da sua tortura, e debaixo

da sua agonia

 

Vivem as cobras do deserto

 

As cobras que não perdoam ao texto

a sua curiosidade

 

E espreitam o momento próprio

a última sílaba



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Foto: Pascal Renoux (rep. aut.)

Texto: voj porto maio 2009

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