Na procura de um animal moribundo
Rastejar
Uma planta de folhas longas, coladas
À areia
Uma planta moribunda, que já foi
Animal
Contorce-se, na berma dos desertos
A planta-animal
Rasteja-se, para a ver contra o fundo
O céu, o sal
A majestade da agonia fóssil,
Monumento
E o tempo passa nas franjas do chão
Rastejante
Junto ao corpo. Onde as nádegas
São ainda gomos
Antes de se entregarem à geologia
Do horizonte
À brutalidade do sol, à voracidade
Das linhas
Que aspiram a imagem irreversivelmente
para longe
E rastejamos, é um texto-animal que foge
para um lugar indeterminado
Horizonte, fóssil, planta rastejante
que se contorce
E debaixo da sua tortura, e debaixo
da sua agonia
Vivem as cobras do deserto
As cobras que não perdoam ao texto
a sua curiosidade
E espreitam o momento próprio
a última sílaba
Foto: Pascal Renoux (rep. aut.)
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