quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

Saudades de Santorini, a mais meridional das Cíclades



Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=27N_CKT4CX0

Este filme está muito longe de dar uma ideia do que é a beleza, a nostalgia,
o fascínio desta ilha incomparável.
Mas depois de ver dezenas e dezenas de videos no You tube, e de confirmar
o que o turismo faz às terras e aos "discursos" que sobre elas se elaboram,
decidi escolher este. Um dia hei-de saber editar o filme que eu ali próprio fiz,
em 1993, com um fundo de cânticos ortodoxos que vinham da igreja ao lado,
e a câmara de filmar virada para a antiga cratera do vulcão, onde o sol se ia pondo.
É indescritível. Sobretudo chocante comparar o que ficou na minha memória
com as imagens standard que o turismo cria... o autor do video que me desculpe!
voj

Lembrança - curso livre a começar na FLUP


Salvaguarda e valorização do Património Arqueológico
Contacte:
Alexandra Maria Ferreira Vieira
alexxandra.vieira@gmail.com

26 Fevereiro a 28 de Maio de 2007
Horário: 2.ª feiras das 19h30 – 22h00



Fonte: http://sigarra.up.pt/flup/
G_FORMACAO.detalhe_accao?
p_id=3021&p_plano_id=3022
Fonte da imagem (rua de Pompeia):
http://www.myblumberg.com/Italy/
Pompei%20Street%20Large.jpg

Voyeur


In my computer's dictionary, the term "voyeur" is discrebed as follows: "a person who gains sexual pleasure from watching others when they are naked or engaged in sexual activity.
• a person who enjoys seeing the pain or distress of others."

And it adds: "ORIGIN early 20th cent.: from French, from voir ‘see.’ "

Wikipedia goes in the same line. Quoting (http://en.wikipedia.org/wiki/Voyeurism): "Voyeurism is a practice in which an individual derives sexual pleasure from observing other people. Such people may be engaged in sexual acts, or be nude or in underwear, or dressed in whatever other way the "voyeur" finds appealing. The word derives from French verb voir (to see) with the -eur suffix that translates as -er in English. A literal translation would then be “seer” or "observer", with pejorative connotations. "Also, the word voyeur can define someone who receives enjoyment from witnessing other people's suffering or misfortune".
"Voyeur" is defined in Encarta Dictionary in the same way:
"1. somebody who watches for sexual pleasure: somebody who gains pleasure from watching, especially secretly, other people's bodies or the sexual acts in which they participate 2. persistent observer of misery or scandal: a fascinated observer of distressing, sordid, or scandalous events" (http://encarta.msn.com/dictionary_
1861732362/voyeur.html)

According to the web's "Psychology Today" (http://www.psychologytoday.
com/conditions/paraphilias.html)

voyeurism is a form of paraphilia, defined as follows:
"A paraphilia is a condition in wich a person's sexual arousal and gratification depend on fantasizing about and engaging in sexual behavior that is atypical and extreme." After listing a series "of paraphilias", it characterizes voyeurism as "observing private activities of unaware victims".

This sort of "mental disorder", when we think about TV's "reality shows" and other matters, seems to be very common indeed.
Moreover, it needs to be understood within the frame of a certain "stance of observation" developed since the XIX century, as Bella Dicks refer ("Culture on Display", 2003, pp. 22 and 23). Also, it is intimately connected to modern and contemporary art (see for instance Alyce Mahon, "Eroticism and Art", Oxford University Press, 2005).
Undoubtly, the semantics of the term has enlarged very much, in other to characterize the general tendency of our society to see, its obsession with images, with the sense of sight. Practically, we spend an important part of our lives watching, in particular in front of screens like the computor's or the televison set's. All the central role played in our society by the "art"/industry of photography and movies (not to mention museums, shopping ,etc.) could not be understood without a certain sense of voyeurism. So there is here - it seems - a certain contradiction between a medical/moralist/legalistic discourse, and real life.
Our very "intellectual" interest by the body, by the explanations of desire (so central to a consumer society, a society also dominated by the "psy" sciences) are included in this very peculiar obsession with seeing, and especially with looking at "secrets", by exploring (and exploiting) secrecy.

This is just a brief and modest note about an endless field on enquiry.

Dissertações de doutoramento em Arqueologia (especialidade: Pré-história) defendidas na FLUP entre 1982 e 2006

TESES DE DOUTORAMENTO
PRÉ-HISTÓRIA E ARQUEOLOGIA/ARQUEOLOGIA - especialidade: Pré-história

ANO: 1982

Nome: Vítor Manuel de Oliveira Jorge
Tese: “Megalitismo no Norte de Portugal: O Distrito do Porto – Os Monumentos e a sua Problemática no Contexto Europeu.”
Orientador: Prof. Doutor Carlos Alberto Ferreira de Almeida
Co-orientador: Prof. Doutor Jean Roche


ANO: 1986

Nome: Susana Maria Soares Rodrigues de Oliveira Jorge
Tese: “Povoados da Pré-História Recente da região de Chaves-Vila Pouca de Aguiar (Trás-os-Montes Ocidental).”
Orientador: Prof. Doutor Carlos Alberto Ferreira de Almeida
Co-orientador: Prof. Doutor Jean Roche

ANO: 1995

Nome: Maria de Jesus Sanches
Tese: “O Abrigo do Buraco da Pala (Mirandela) no contexto da Pré-História recente de Trás-os-Montes e Alto Douro.”
Orientadora: Prof.ª Doutora Susana Maria Soares Rodrigues Lopes de Oliveira Jorge


ANO: 2006

Nome: António Carlos de Neves Valera
Tese: “Calcolítico e transição para a Idade do Bronze na bacia do Alto Mondego: estruturação e dinâmica de uma rede local de povoamento”
Orientadora: Prof.ª Doutora Susana Maria Soares Rodrigues Lopes de Oliveira Jorge

Dissertações de mestrado em Arqueologia (especialidade: Pré-história) defendidas na FLUP entre 1994 e 2004

DISSERTAÇÕES DE MESTRADO
ARQUEOLOGIA - dissertações de Pré-história

ANO: 1994

Nome: Maria das Dores Girão da Cruz
Tese: “Significado Social da Cerâmica Doméstica – fundamentos para uma classificação tipológica da cerâmica de Castelo Velho (Freixo de Numão)”
Data: 21 de Março de 1994
Orientador: Prof.ª Doutora Susana Maria Soares Rodrigues Lopes de Oliveira Jorge


Nome: Joel Alves Cerqueira Cleto
Tese: “A Necrópole megalítica da Serra do Castelo (Baião) – Contributos para o seu estudo e contextualização na Pré-História recente do Norte de Portugal”
Data: 18 de Abril de 1994
Orientador: Prof. Doutor Vítor Manuel de Oliveira Jorge


Nome: Maria Miguel Marques da Silva Ferrão Lucas Simões
Tese: “As regiões de “Torres” e “Alenquer” no contexto do Calcolítico da Estremadura Portuguesa”
Data: 04 de Julho de 1994
Orientador: Prof.ª Doutora Susana Maria Soares Rodrigues Lopes de Oliveira Jorge

ANO: 1996

Nome: Rui Jorge Zacarias Parreira
Tese: “O conjunto megalítico do Crato (Alto Alentejo) – Contribuição para o registo das antas portuguesas”
Data: 23 de Abril de 1996
Orientador: Prof. Doutor Vítor Manuel de Oliveira Jorge


Nome: Pedro Manuel Sobral de Carvalho
Tese: “A Necrópole Megalítica da Nossa Senhora do Monte (Penedono, Viseu) – em espaço sagrado Pré-histórico na Beira Alta”
Data: 30 de Abril de 1996
Orientador: Prof. Doutor Vítor Manuel de Oliveira Jorge

Nome: Luís Filipe Coutinho Lopes Gomes
Tese: “Necópole Megalítica da Lameira de Cima (Penedono, Viseu)”
Data: 30 de Abril de 1996
Orientador: Prof. Doutor Vítor Manuel de Oliveira Jorge


Nome: Iva João da Silva Teles Morais Botelho
Tese: “Dos cacos e dos vasos – o “Castelo Velho” de Freixo de Numão, na charneira do III/II Milénio a.C. Contributo para o estudo da cerâmica pré-histórica de Castelo Velho”
Data: 27 de Maio de 1996
Orientador: Prof.ª Doutora Susana Maria Soares Rodrigues Lopes de Oliveira Jorge


Nome: Ana Cristina Correia Farinha Bernardino de Oliveira
Tese: “Contributo para o estudo da Pré-história recente da Bacia do Curso Médio da Ribeira da Meimoa”
Data: 07 de Junho de 1996
Orientador: Prof.ª Doutora Susana Maria Soares Rodrigues Lopes de Oliveira Jorge


Nome: Ana Maria Mota Carvalho Dias
Tese: “Elementos para o estudo da sequência estratigráfica e artefactual do Povoado Calcolítico de Santa Vitória”
Data: 18 de Junho de 1996
Orientador: Prof.ª Doutora Susana Maria Soares Rodrigues Lopes de Oliveira Jorge

Nome: Sérgio Emanuel Monteiro Rodrigues
Tese: “Contribuição para o estudo das indústrias líticas do Vale do Rio Caia (Alto Alentejo – Portugal)”
Data: 18 de Junho de 1996
Orientador: Prof.ª Doutora Susana Maria Soares Rodrigues Lopes de Oliveira Jorge

Nome: Susana Helena Barros Correia da Fonseca
Tese: “Calcolítico do Sul de Portugal. Estudo de um caso: o Concelho de Cuba”
Data: 19 de Junho de 1996
Orientador: Prof.ª Doutora Susana Maria Soares Rodrigues Lopes de Oliveira Jorge

Nome: João Carlos Muralha Cardoso
Tese: “Materiais Líticos e Cerâmicas de Castelo Velho de Freixo de Numão. Continuidades e descontinuidades: uma proposta de abordagem estatística”
Data: 28 de Junho de 1996
Orientador: Prof.ª Doutora Susana Maria Soares Rodrigues Lopes de Oliveira Jorge


Nome: Cristina Maria Costa Silva
Tese: ”O Povoado Pré-histórico de Castelo Velho de Freixo de Numão no quadro do Povoamento da 2.ª metade do III.º milénio a.C./ 1.ª metade do II.º milénio a.C., no Concelho de Vila Nova de Foz Côa”
Data: 15 de Novembro de 1996
Orientador: Prof.ª Doutora Susana Maria Soares Rodrigues Lopes de Oliveira Jorge


ANO: 1997

Nome: Carla Cristina Stockler Nunes Lima
Tese: “Os Monumentos com “Tumulu” da Serra da Aboboreira: seu enquadramento na problemática da Conservação, Restauro e Valorização das Estações e Sítios Arqueológicos – Contributos para um projecto de desenvolvimento regional”
Data: 20 de Janeiro de 1997
Orientador: Prof. Doutor Vítor Manuel de Oliveira Jorge

Nome: Maria Margarida da Silva Alves Moreira
Tese: “Contas de Colar provenientes de sepulcros com Tumulus do Norte e Centro-Norte de Portugal”
Data: 21 de Março de 1997
Orientador: Prof. Doutor Vítor Manuel de Oliveira Jorge


ANO: 2000

Nome: Leonor Raquel da Fonseca Sousa Pereira
Tese: “As Cerâmicas “Cogeces” de Castelo Velho, Freixo de Numão (Vila Nova de Foz Côa). Seu enquadramento peninsular”
Data: 28 de Fevereiro de 2000
Orientador: Prof.ª Doutora Susana Maria Soares Rodrigues Lopes de Oliveira Jorge

Nome: Maria Isabel Simas Bettencourt e Abreu Amorim
Tese: “Crasto de Palheiros (Murça). As ocupações da Pré-História e da Proto-História da Plataforma Inferior”
Data: 28 de Fevereiro de 2000
Orientador: Prof.ª Doutora Maria de Jesus Sanches

Nome: Sandra Carla Pais Barbosa
Tese: O Crasto de Palheiros – Murça. Contributo para o entendimento do fenómeno companiforme em contexto doméstico no Norte de Portugal”
Data: 03 de Março de 2000
Orientador: Prof.ª Doutora Maria de Jesus Sanches

Nome: Paulo Alexandre Chaves Teles Grilo
Tese: “Adequação dos conteúdos da linguagem plástica da arte paleolítica ao programa de educação visual do 2.º ciclo do ensino básico”
Data: 10 de Março de 2000
Orientador: Prof. Doutor Vítor Manuel de Oliveira Jorge

Nome: Margarida Maria Oliveira dos Santos Silva
Tese: “Recipientes cerâmicos do Bronze Final dos Povoados de Castelo de Aguiar (Vila Pouca de Aguiar) e da Lavra (Marco de Canaveses). Seu enquadramento regional”
Data: 10 de Março de 2000
Orientador: Prof.ª Doutora Susana Maria Soares Rodrigues Lopes de Oliveira Jorge

Nome: António do Nascimento Sá Coixão
Tese: “A ocupação humana na Pré-História recente na região Entre Côa e Távora”
Data: 10 de Março de 2000
Orientador: Prof.ª Doutora Susana Maria Soares Rodrigues Lopes de Oliveira Jorge


ANO: 2001

Nome: José Manuel Pinto Varela
Tese: “As cerâmicas do Bronze Inicial e Médio do Castelo Velho de Freixo de Numão (Vila Nova de Foz Côa): tradição e inovação na transição do III.º para o II.º milénio a.C.”
Data: 06 de Fevereiro de 2001
Orientador: Prof.ª Doutora Susana Maria Soares Rodrigues Lopes de Oliveira Jorge


ANO: 2002

Nome: Alexandre Jorge Florêncio Caniço Cordeiro Canha
Tese: “Carnedos – Povoado do Bronze Final do Alto Paiva”
Data: 15 de Março de 2002
Orientador: Prof.ª Doutora Maria de Jesus Sanches


ANO: 2003

Nome: António José Fernandes Heitor
Tese: “A Pré-História Recente no Douro Sul (Concelhos de S. João da Pesqueira e Tabuaço) – Um ensaio de Arqueologia Espacial”
Data: 15 de Outubro de 2003
Orientador: Prof.ª Doutora Maria de Jesus Sanches


ANO: 2004

Nome: André Tomás da Silva e Conceição Santos
Tese: “Uma abordagem hermenêutica-fenomenológica à Arte Rupestre da Beira Alta. O caso do Fial (Tondela, Viseu)
Data: 08 de Março de 2004
Orientador: Prof.ª Doutora Maria de Jesus Sanches

Nome: Susana Andreia Batista de Almeida Nunes
Tese: “Monumentos sob tumulus e meio físico no território entre o Corgo e o Tua (Trás-os-Montes): aproximação à questão”
Data: 08 de Marços de 2004
Orientador: Prof.ª Doutora Maria de Jesus Sanches

Nome: Sérgio Alexandre da Rocha Gomes
Tese: “Contributos para o estudo dos “Pesos de Tear” de Castelo Velho de Freixo de Numão (V. N. Foz Côa). Exercícios de interpretação do registo arqueológico”
Data: 12 de Março de 2004
Orientador: Prof.ª Doutora Susana Maria Soares Rodrigues Lopes de Oliveira Jorge

Nome: Maria de Lurdes Cunha de Oliveira
Tese: “Primeiras intervenções arquitectónicas no Castelo Velho de Freixo de Numão (V. N. Foz Côa)”
Data: 12 de Março de 2004
Orientador: Prof.ª Doutora Susana Maria Soares Rodrigues Lopes de Oliveira Jorge

Nome: Lucy Elizabeth Shaw Evangelista
Tese: “O Complexo arqueológico dos Perdigões e a construção da paisagem de Reguengos de Monsaraz”
Data: 17 de Março de 2004
Orientador: Prof.ª Doutora Susana Maria Soares Rodrigues Lopes de Oliveira Jorge

Nome: Lídia Maria Gonçalves Baptista
Tese: “A Cerâmica do interior do Recinto de Castelo Velho de Freixo de Numão – Contributos para a interpretação de Contextos de uso”
Data: 25 de Março de 2004
Orientador: Prof.ª Doutora Susana Maria Soares Rodrigues Lopes de Oliveira Jorge

Nome: Ana Margarida Aparício do Vale
Tese: “Castanheiro do Vento (Horta do Douro, V.ª N.ª de Foz Côa) – Contributos para o estudo dos resultados das primeiras campanhas de trabalhos (1998-2000)”
Data: 25 de Março de 2004
Orientador: Prof. Doutor Vítor Manuel de Oliveira Jorge

Nota: esta lista deve encontrar-se incompleta.

oceano

por esta superfície navegam, desde o início,
as naus com que deus apartou os mundos.

camões emerge aqui,
das manchas mais escuras das águas,
no começo de cada ciclo,

erguendo no braço cadavérico
a obra resgatada à eternidade,
nossa redenção por força
da sua força de vontade.


voj 2007

Foto: John Stahl
Fonte: http://venturedeepocean.org/gallery/index.html

lua


desde que pela primeira vez te deixaste reflectir nas águas nocturnas
que estas te mantêm presa no teu reflexo
suspensa da tua procura de sentido

olho único, no meio da testa do firmamento,

fosses tu dois,
e poderias ter sido o rosto,
a solução diluída no mar
que todos os marinheiros procuraram.


voj 2007

Fonte da imagem: http://freespace.virgin.net/pilgrim.adventure/moonshine_sea.jpg

Falta a rede



Em Portugal temos muitos "nós" de qualidade, de excelência.
Mas cada um vive um pouco para dentro de si mesmo, isto é, considera-se o melhor,
e vive tentando afirmar-se, nacional e internacionalmente.
Falta-nos uma ética e uma prática de partilha.
Ora, sem esses elementos, não se sai do casulo, do pequeno nó: a tendência para o enquistamento é óbvia.
Isto aplica-se a todos: desde os mais altos responsáveis até aos estudantes ambiciosos em fase inicial. Salve-se quem puder - e assim não se "salva" ninguém.
É um modo "primitivo" de afirmação e, em última análise, condenado ao impasse.
Não há debate público, não há inter e transdisciplinaridade, as pessoas e as isntituições competem entre si de uma forma primária, não se colocam em rede.
Cada um - cada instituição - quer surpreender os outros com as "suas" obras. Mas há alguma entidade ou pessoa completamente isolada que, a prazo, faça alguma coisa de jeito? Até a actividade do escritor, do pintor, que exige grande reclusão, é a de um ser aberto ao mundo, à experiência, que constitui a sua matéria-prima...
É na circulação, no debate, no confronto, na discussão crítica de projectos, muitas vezes ainda em forma de elaboração (por isso um blog, por exemplo, pode ser tão importante...) - não de "produtos" já feitos - que se consegue chegar a criar uma ecologia da imaginação, da criatividade, do conhecimento, da troca de ideias, da desinibição, superar o cinzentismo burocrático, o fechamento atrofiante e auto-suficiente, e fazer da vida uma experiência mais feliz.
Enquanto um narcisismo primário preponderar, com cada um a querer mostrar que é melhor que os demais, todos seremos menos do que somos.
É na rede, é em rede, que nos entendemos. É partilhando que cada um de nós pode progredir.
Não temos ainda a suficiente massa crítica, é certo - mas essa massa crítica podia crescer se as pessoas e as instituições fossem mais abertas umas às outras.
Assim Portugal não passa de um conjunto de brilharetes, de eventos, que não enraizam, e não têm continuidade. Os seus protagonistas podem ter - ou julgar ter - muita visibilidade. Mas quantas vezes são, por exemplo, considerados, citados, a nível internacional?...
Porque todos já sabemos que começar algo é fácil. Sustentá-lo é muito mais difícil. Ser muito respeitado na sua "aldeia" é bom; na cidade, exige mais trabalho; no mundo globalizado em que trabalhamos actualmente, exige muito de nós. Hoje, uma pessoa, um grupo de amigos, uma equipa, uma instituição, se isolados, não conseguem sustentar-se.
Fazendo muito, aparentemente, fazem cada vez menos. Julgando progredir, estão no mesmo sítio. São fogachos, com que cada um e todos nos entretemos, e assim nos atrasamos cada vez mais.
Dando sentenças, quais gurus paroquiais, enquanto outros fazem. Em rede.
E o mais curioso e óbvio é que estas redes, no curto prazo, nem sempre "promovem" os melhores, mas os mais espertos. Mas estes, no médio prazo, serão afastados da rede, porque a lógica desta é muito exigente. Ou seja, quase tudo mudou neste mundo, mas ainda não há nada que substitua o trabalho, o empenho, a dedicação, o aprofundamento dos assuntos. O sistema descarta os que o servem apenas para o instante, acabando por valorizar os que apostam e arriscam numa formação de muita qualidade e de muito esforço.
E nada há de mais triste do que a auto-complacência (aparente) dos que se julgam muito importantes por "estarem em rede", mas quando a pessoa lhes pergunta: desculpe, e que livros publicou, onde se podem adquirir, ler, consultar? ... não têm resposta.
O trabalho sério (está pressuposto que em rede) é, a prazo, o maior valor, como sempre foi. As pessoas sabem distinguir, mesmo quando fingem não ver.

Variedades


Há os que se colocam mais do lado do puro conceito - os filósofos, os matemáticos - e os que se colocam mais do lado da vida vivida, recriada - os artistas. Uns e outros perseguem o mesmo, a satisfação de fazer algo apresentável aos outros, objectos externos que engendram. E o primeiro desses outros que desejam ardentemente fascinar, são evidentemente eles próprios.
E há a maior parte: os que, por falta de capacidade, motivação, ou mesmo opção, se colocam inteiramente dentro do puro vivido: estão imersos no mundo sensível
da experiência, de que não querem destacar-se de forma alguma. Vivem no puro fruir, que para eles não é submissão, antes o experienciam como liberdade. Não querem deixar nada de externo a si, uma herança que se repercuta no tempo.



Claro que na vida de todos os dias estas dicotomias são muito relativas. Todos nós seremos um patchwork de
ambas as coisas. Para muitos a vida é a maior "obra de arte". Para muitas mulheres dar vida a um ser á a maior obra que podem fazer - é para elas um problema de realização pessoal básica (curiosamente hoje cada vez mais desvinculada do tradicional laço conjugal). Para outras pessoas, que procuram imitar os orientais (mas também há muito disso na nossa ontologia e tradição religiosa), desproverem-se de tudo é o ideal a que aspiram: a escassez é uma forma de aumentar enormemente as pequenas coisas, tornar gigante aquilo que nos passa despercebido no dia a dia. A escassez é uma das figuras da abundância.
Por mim, nunca fui um intelectual. Irrequieto, voguei mais à superfície das coisas, estabelecendo conexões e experiências na horizontal. Se aprofundei e me viciei no estudo, foi por necessidade d
e uma carreira que - muita gente não sabe - é das mais exigentes que existem, a universitária. Não há tempos mortos, é uma constante fuga em frente para tentar investigar, produzir. Não há relógio de ponto: ele está dentro das nossas "cabeças", sempre a chamar-nos ao trabalho. Mas este pode ser um grande prazer. E se não fossem essas obrigações interiorizadas, muitas coisas não chegavam a ver a luz do dia.
Sem a moldura, sem a tela, sem sentir uma certa "obrigação" de se experimentar se se é ou não capaz, nunca o milagre do quadro acontecia.

Por isso talvez os párias modernos por excelência sejam os co
nsumidores que, tendo muitas vezes possibilidades de fazer coisas, de contribuir para o colectivo com algo de muito válido, se instalam no conforto do consumo de tudo quanto há de melhor.
Com frequência de refinado gosto, provocam-me o desgosto mais absoluto: são os que abdicaram de ser, porque abdicaram de fazer. Diluem-se na espuma dos dias.
Nunca sentirão stress? Talvez. Mas
não sentirão nunca aqueles momentos de glória em que, após intenso e prolongado esforço, subimos a uma altura e dali vemos a paisagem percorrida. E compreendemos quão pequenina e banal é a vida lá em baixo, o quotidiano, os afazeres.




Magnífica exposição sobre W. Hogarth, na Tate Britain, Londres






Até 29 de Abril. Da exposição deste grande artista britânico (1697-1764) fazem parte quadros de autores contemporâneos por ele influenciados, como Yinka Shonibare e Paula Rego.



Fontes: http://www.tate.org.uk/britain/exhibitions/hogarth/
(auto-retrato): http://en.wikipedia.org/wiki/Image:William_Hogarth_006.jpg

Conferência em Vila Nova de Cerveira

A ESG/ Escola Superior Gallaecia anuncia
a conferência do
Dr. Elísio Summavielle,
Presidente do IPPAR

- Instituto Português do Património Arquitectónico- que apresentará
sobre:
"Património Arquitectónico: Perspectiva de Futuro".

A conferência terá lugar na Biblioteca Delmira Calado, na ESG,
em Vila Nova de Cerveira, no dia 2 de Março, 6ª feira, às 18h00.

Contacto:

DR.ª SANDRA ROCHA
Escola Superior Gallaecia
Assessoria de Eventos Culturais


Telef: + 351 251 794 054
Fax: + 351 251 794 055
E-mail: gaa.esg@mail.telepac.pt
eventos.esg@mail.telepac.pt

Tem interesse! A não perder

Muito especial atenção aos meus alunos:


O CETAC.COM (Centro de Estudos em Tecnologias, Artes e Ciências da Comunicação),

o Departamento de Sociologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto
e o
Instituto de Sociologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto



promovem, em parceria,


a Conferência intitulada


The images of heritage: rhetoric on war and peace

Pela Professora

Catherine Saouter
École des Médias, Faculté de Communication
Université du Québec à Montréal (Canada)


5 de Março de 2007
17 horas

Sala de Reuniões
Faculdade de Letras da Universidade do Porto

Resumo
Nesta conferência, perspectiva-se o património enquanto colecção de bens culturais, contribuindo para o sentimento de identidade e soberania de uma comunidade. A história permite verificar que o património constitui um dos elementos utilizados para o estabelecimento de relações entre as sociedades. É relativamente consensual a crença de que o mundo actual, à escala internacional, celebra e protege o património porque ele é um excelente instrumento ao serviço de uma paz desejada por todos – ao contrário da cultura guerreira de períodos anteriores, que tolerou e legitimou a pilhagem e a destruição.
O objecto da conferência é mostrar como aquela crença esconde uma profunda ambiguidade, e como dar conta dessa ambiguidade permite compreender mais claramente algumas das incapacidades do mundo contemporâneo para erradicar a guerra e instaurar uma paz universal (consensualmente reclamada pelas nações).



Catherine Saouter - Nota biográfica

Catherine Saouter é professora na Universidade do Quebeque, em Montreal, desde 1988. Doutorada em Semiologia, investiga e ensina sobre as teorias da imagem, numa perspectiva semiótica e histórica. Actualmente trabalha sobre as relações entre as construções das imagens e das representações (no plano epistemológico) e (no plano temático) sobre as funções e os contextos das expressões visuais na relação entre património, guerra e paz.
É autora de Images et sociétés – Le progrès, les médias, la guerre (Les Presses de l’Université de Montréal, 2003) e de Le Langage visuel (XYZ éditeur, 1998, 2000 et 2004).
(E-mail: saouter.catherine@uqam.ca)

Curso do MIT on line para download

The Production of Space: Art, Architecture and Urbanism in Dialogue, Fall 2006

Instructor:
Prof. Ute Meta Bauer

Transcrevo: Course Description
This seminar engages in the notion of space from various points of departure. The goal is first of all to engage in the term and secondly to examine possibilities of art, architecture within urban settings in order to produce what is your interpretation of space.


Ver em:
http://ocw.mit.edu/OcwWeb/Architecture/4-303Fall-2006/
CourseHome/index.htm

terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

Trapézio

Interessa mais a sabedoria do que o saber.
Mas a sabedoria é o término de um longo saber.
Sem saber, sem regras, sem uma moldura, não posso fazer nada: fico no vácuo.
Mas só com saber, só com regras, fico sempre dentro da moldura, aprisionado.

Por isso não posso contornar o saber, fingindo-me sábio.
Aprender a fazer com os outros, tentando sempre fazer à minha maneira.
Ninguém cria nada por si; mas também só repetir é triste.

Ninguém consegue fazer a economia do esforço.
O importante é tirar prazer do esforço, e tirar prazer do prazer.
Difícil equilíbrio.

Alimentando um pouco o nosso mito orientalista...

Dança do ventre por Rachel Brice


Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=_pA5CTHQPys

Não tem, não leu?...


... e dedica-se ao património, ou simplesmente quer compreender melhor a sociedade em que vive, obcecada com esse tópico e com uma "cultura da visibilidade"? Então por favor leia o mais depressa possível: é mesmo essencial !!!

Maidenhead, Open University Press
2003
ISBN pb: 033520657

Raridades bibliográficas...




Os dois primeiros volumes da revista "Arqueologia" editada pelo GEAP - Grupo de Estudos Arqueológicos do Porto, em Junho e Dezembro de 1980, respectivamente.
Nas capas: vol. 1, vasos cerâmicos expostos no então Museu do Instituto de Antropologia Dr. Mendes Corrêa (Faculdade de Ciências do Porto), estudados pela Prof.ª Maria de Jesus Sanches, então aluna do 3º ano na FLUP; vol. 2, escavações arqueológicas do sítio da Idade do Bronze do Tapado da Caldeira, Baião, conduzidas por Susana O. Jorge.
Esta revista, numa altura de certo "colapaso" de algumas publicações, e até pelo seu grafismo mais moderno e pela sua abertura aos jovens, fez história nos anos 80 em Portugal. Nela colaboraram muitos dos actuais arqueólogos portugueses mais destacados. Hoje há outras desse género, de grande qualidade, talvez com destaque para a "Al-madan", publicada pelo Centro de Arqueologia de Almada, e para a "Era-Arqueologia" (Lisboa), editada pela empresa do mesmo nome.





Dois livros já esgotados, um editado pela Fundação Eng.º António de Almeida, Porto, em 1991; outro pela associação ADECAP, Porto, em 1998. Mas encontram-se em muitas bibliotecas... Nas capas, respectivamente, uma imagem do Castelo Velho de Freixo de Numão (interior do recinto superior, periferia norte), e um "peso de tear" decorado do mesmo sítio arqueológico.

Alguns dos primeiros trabalhos...

...publicados por Susana Oliveira Jorge, só ou de colaboração com outros autores.

Na revista "O Arqueólogo Português", série III, vol. VI, 1972, pp. 63-77+14 est. :


Na "Revista de Guimarães", vol. LXXXIV, 1976, separata com 13 pp. +14 figs :


Na "Setúbal Arqueológica", vol. I, 1975, separata com 18 pp. e 14 est. :


A sua propria variedade temática testemunha alguém ainda à procura de um percurso próprio e, ao mesmo tempo, a variedade de experiências de investigação já então acumuladas: "arte rupestre", arqueologia de Angola, arqueologia histórica.

Parabéns


A alguém que nasceu em Lisboa em 1953, no dia 27 de Fevereiro, veio viver para o Porto no dia 2 de Janeiro de 1975, podia ter sido uma (grande) cantora lírica, e... é arqueóloga e professora.


Responsável por uma das mais marcantes teses de doutoramento em Arqueologia jamais feitas em Portugal, sobre os povoados da Pré-história Recente de Trás-os- Montes (Chaves/Vila Pouca de Aguiar), publicada em 1986 pelo Instituto de Arqueologia da Faculdade de Letras do Porto (ver acima capa de um dos 3 volumes que a compõem), Escola onde presta serviço desde 1975 (como monitora, depois assistente, etc, e hoje professora catedrática) e onde tem contribuído para formar muitos profissionais e investigadores, apesar de todas as adversidades da arqueologia portuguesa.
Em 1990 publicou a mais relevante síntese feita até hoje sobre a "pré-história" do nosso território (Nova História de Portugal, vol. I, da editorial Presença), actualizada parcialmente em livro, editado em 1999 ("Domesticar a Terra", Lisboa, Gradiva).
Em 2001, 2202 e 2003 conduziu uma escavação extensiva no sítio pré-histórico de Castelo Velho (Freixo de Numão, Vila Nova de Foz Côa), que levou a trabalhos de restauro e musealização, sob os auspícios do IPPAR.
É investigadora do CEAUCP.
O nome é Susana Oliveira Jorge, aqui em baixo comigo nos sertões do Sul de Angola, em 1973.




Minha prenda de anos: o livro a ela dedicado "Pedras Preciosas. Textos de Mineralogia Poética", ontem concluído.

Sobre SOJ, ver: http://architectures.
home.sapo.pt/Susana.htm
e
http://www.uc.pt/iauc/cea/
membros/sjorge.html
e-mail: susanaojorge@yahoo.com.br

Cortinas


Fascínio por tudo o que são interfaces.
Muito particularmente cortinas.

Limiares.
O suspense entre o presente e o futuro.
O espectáculo prestes a começar.
O que (mal) se esconde por detrás do que se vê.
O desvelamento; a ocultação/desocultação - e todo o seu jogo.
Teatros (palcos), veredas (cujo sentido se perde n
a vegetação próxima), labirintos, jardins, a superfície do mar, o rosto humano, as janelas acesas, o silêncio da distância vista através de um binóculo, os passos que atravessam uma porta.
O primeiro encontro, o seu sorriso hesitante.
As praias da chegada.

A encenação do mundo, o enigma entre o visível e o invisível, a pequena frincha, o "craquelé" de uma parede, o mutismo das estátuas.
Um sítio arqueológico e a profunda estupefacção perante ele: o que fazer?
O fascínio de perceber o que poderá estar por detrás, o pressentimento de que há "um sentido" que pode unir as coisas.
A ânsia do modelo, tornada entretenimento e espectáculo.
A volta à infância, ao jogo, à "inutilidad
e" da brincadeira: antes do mundo se organizar por funções a cumprir.
Nostalgia.

Atenção aos pequenos traços.


Fonte da imagem acima: http://www.shutterstock.com/cat-11p2.html







segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

Rosto


um rosto é uma ficção da fotografia, do retrato. ele não existe por si: é uma imagem, uma imitação, e o seu modelo inexiste.
por isso, incomodados com o rosto, que jamais se pode ver inteiro, o partimos em bocados, o fatiamos em expressões, o desdobramos em olhares.
o seu apelo é o da cegueira - o da aproximação, tão completa, que nos permitiria passar para o lado de lá, ser o outro que o rosto que nos olha encena.
aquilo que nos fita de um rosto é a nossa morte.
fascínio e perdição.

voj 2007

Quoting Mahatma Gandhi

First they ignore you,

then they laugh at you,

then they fight you,

then you win.

Source: http://www.artquotes.net/motivational-quotes/
mahatma-gandhi.htm




Verdes

Há alguns anos atrás a ecologia era vista como mais um fundamentalismo pós-moderno. Aliás esse ponto de vista ainda existe em alguns sectores da sociedade portuguesa. Os ecologista eram no circo mediático uma espécie de colorido verde. Eram também os inimigos do desenvolvimento e do progresso.
Na Alemanha os Verdes eram um partido com alguma força, mas poucos países partilhavam das preocupações dos alemães.
Os temas da ecologia global foram lentamente entrando pelas nossas salas, habituando-nos a conceitos como "efeito de estufa" ou "camada de ozono". Alguns lembram-se ainda das acções mediáticas do movimento Greenpeace.
Hoje todos conhecem a reciclagem e praticá-la assume-se como um acto de civismo. Muitos desconhecem o que acontece efectivamente quando colocam a sua garrafa num vidrão. É um processo comandado pela Sociedade Ponto Verde, uma empresa privada que reúne diversos accionistas interessados no sector, desde fabricantes de embalagens a autarquias. Trata-se de um negócio lucrativo, algo que muitos pensariam difícil de conjugar com o termo ecologia.
A ecologia tornou-se o símbolo de uma causa maior, capaz de mobilizar as pessoas para o bem comum.
O filme a Verdade Inconveniente é o exemplo de como a ecologia se tornou uma causa global. Nada é inocente. A cavalgada por esta causa baseia-se num ideal democrata que liga o fenómeno da globalização com a globalização de causas e valores.
Quando alguém viu na cerimónia dos Oscares, Leonardo de Caprio e Al Gore, afirmarem que esta foi a primeira cerimónia dos Oscares verde, percebe que o que está a acontecer não é brincadeira. Esta causa pretende demonstrar duas coisas: que os E.U.A. são também capazes de trazer o Bem ao Mundo, sem ser pela guerra ou pela destruição; e que existem causas pelo bem comum passiveis de ser implementadas a nível global.
Estamos prestes a mudar novamente. Isso sente-se. O aproximar das eleições americanas trará para o discurso novas causas e desafios. Não deixa de ser interessante observar até que ponto estes temas podem ultrapassar o discurso que subsistia até aqui: a economia. Talvez estejamos perto da era das causas. O discurso de candidatura de Barak Obama tem o tom inspirador desse tempo que se aproxima. Pode ser que os E.U.A. tragam efectivamente algo de bom ao mundo. Pelo menos já é bom que os democratas assumam esse papel.

Revolta



Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=ulH320Y2QtQ
Coreografia de: Carmen Gomide.

Wet Woman - Sylvia Guillem



Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=Xr-4GWBSDM0

domingo, 25 de fevereiro de 2007

The Luxury of Leaving



Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=P204ipJTdlY

The Luxury of Leaving
Solo dance piece.
Choreographed and performed by Lisa Kottemann at the University of Iowa, 2006.

Pina Bausch - A Sagração da Primavera



Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=KXVuVQuMvgA

Como foi possível?!


Em quarenta e sete dias de existência, este blog já teve mais de 4.000 visitas?!
Uau, pensa a moça, e nós também.

Conhecem este livro?...


Foi publicado em 1988 pelo Grupo de Estudos Arqueológicos do Porto. Um local importante, a Bouça do Frade, na Serra da Aboboreira, onde se estudou pela primeira vez este tipo de sítios de fossas da Idade do Bronze (Lavra, etc.) que agora estão a aparecer em muitos lados, quando se "mexe" no território com alguma consciência arqueológica. Tendo estruturas negativas, não monumentais, a arqueologia dos sítios de fossas/fossos exige uma consciência e uma preparação especial, passando despercebida a sua importância a muitos sectores do público. Este não sabe que grande parte da arqueologia europeia é assim: desde os famosos sítios neolíticos da "Bandkeramik" da Europa Central até aos contextos de Stonehenge. Temos uma cultura (Vitrúvio e a nossa maneira de o ler tem a ver com isso...) virada para o monumental e para o pétreo, e menosprezamos muitas vezes o subterrâneo e as arquitecturas vernáculas em terra, por exemplo. O processo de invisibilização é o mesmo. A arqueologia do monumental ofusca... 90% da arqueologia...

Laurie Anderson



Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=f8LquNy3fd8

Clement Attle



Clement Attlee
Fonte: BBC History

Clemet Attlee foi eleito primeiro-ministro em 1945 com alguma surpresa ganhando ao carismático Wiston Churchill. A razão? Após uma dura guerra mundial as pessoas desejaram paz e prosperidade. O seu objectivo era não terem de passar novamente pelo mesmo.
Attlee foi o responsável pela criação do National Health Service (Serviço Nacional de Saúde) e do Wellfare State. A sua visão e a implementação de políticas keynesianas permitiu-lhe conduzir a Grã-Bretanha para o início de uma era de prosperidade. O seu objectivo era o de uma Nova Jerusalém.
Ele foi responsável pelo processo de descolonização da Índia e o percursor da Commonwealth (o nome explica uma dada visão do mundo). As políticas de Attlee levaram à nacionalização de sectores chave na economia britânica. A sua visão política e o sucesso económico das suas reformas levaram a uma era de prosperidade que terminou nos anos 70. A partir dessa altura Margaret Thatcher impôs o neo-liberalismo como solução.
Quando Attlee iniciou o seu governo o mundo tinha acabado de se libertar de um pesadelo. O Estado da Ordem e da Obediência, o Estado Totalitário tinha feito a Europa colapsar. A discriminação tinha levado à aniquilação dos judeus. A ciência tinha sido a base da justificação das teorias da superioridade racial, alimentando experiências médicas e uma escalada no armamento. A realidade do Holocausto mostrou uma face do Homem que ninguem gostaria de rever (ou reviver).
O legado de Attlee é o de acreditar que é possível trabalhar para o bem comum sem recair no totalitarismo. Os mercados são uma força poderosas que deve ser conduzida para o bem comum, como a rédea que se coloca num poderoso garanhão.
Alguns vêm em Attlee um voluntarioso, algo inocente, que impediu a expansão do comércio livre e da prosperidade. Outros percebem que Attlee abriu portas à paz e ao bem-estar.
O Estado social europeu poderá ter dado origem a meninos algo mimados, que deixaram de dar valor ao sacrifício e ao trabalho. Pessoalmente prefiro que hajam mais meninos mimados no mundo do que exércitos de meninos da rua que tentam lutar por todos os meios por um pedaço da riqueza (naturalmente sem ética).
Attlee é o símbolo de quem trabalha para a constituição do bem-comum, apostando numa visão altruísta. É o contrário de quem justifica que como tudo é mau, mais vale que apenas alguns mais aptos governem, deixando aos outros a extinção como desígnio. Afinal o nazismo considerava o III Reich como cumulo civilizacional graças ao mesmo desígnio evolucionista.

Visions of Johanna - Bob Dylan



Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=6i6NOfD48Gk

Livro de muito interesse

THE EROTIC MARGIN. SEXUALITY AND SPATIALITY IN ALTERITIST DISCOURSE,
Irving C. Schick
Hardcover: 288 pages
Publisher: London, Verso Books (Jun 1999)
ISBN-10: 1859847323
ISBN-13: 978-1859847329

O autor mostra como o exotismo, o colonialismo, e a mitificação erotizada do "outro" andaram e andam a par. Como turco, ensinando na Universidade de Harvard, Irvin C. Schick é uma pessoa particularmente bem colocada para desmontar os mitos da antropologia do exotismo, tão ligada ao poder ocidental e masculino, com o seu auge no séc. XIX.

sábado, 24 de fevereiro de 2007

O Brilho das Imagens, em Lisboa

«O Brilho das Imagens - Pintura e Escultura Medieval do Museu Nacional de Varsóvia (séculos XII-XVI) é o título da exposição que vai estar patente no
Museu Nacional de Arte Antiga
(www.mnarteantiga-ipmuseus.pt )
a partir das 19 horas da próxima quinta-feira, 1 de Março.

A exposição manter-se-á até 17 de Junho, estando previstas visitas guiadas nos 1ºs domingos do mês (às 11 e 30 e 15 e 30) e todas as quartas-feiras, às 15 h.

Fonte: Museum mailing list
Museum@ci.uc.pt
http://ml.ci.uc.pt/mailman/listinfo/museum

No jornal da tarde de ontem...arqueólogos portugueses em Stonehenge









Ver (um pouco à frente do minuto 5) em
rtsp://195.245.176.21/rtpfiles/videos/
auto/jornaltarde/jtarde_2_23022007.rm

ou mms://195.245.176.20/rtpfiles/videos
/auto/jornaltarde/jtarde_2_23022007.wmv

E já agora... ficam acima algumas imagens.
Fotos obtidas por Ana Vale e pelo resto da equipa portuguesa...

Curso de Formação Contínua na FLUP sobre Património quase a começar

Salvaguarda e valorização do Património Arqueológico

Objectivos:
O objectivo deste Curso de Salvaguarda e Valorização do Património Arqueológico, pauta-se por uma tentativa de compreensão e reconhecimento da importância do património cultural, nomeadamente do património arqueológico, no mundo actual. O Património deve ser encarado como parte importante da nossa herança identitária assim como algo que interessa valorizar e divulgar no presente e preservar para as gerações futuras.


Programa:

1. “Património Cultural”
1.1. Antecedentes históricos da salvaguarda do Património Cultural em Portugal
1.2. Problematização do conceito de Património Cultural
2. Protecção e Salvaguarda do Património
2.1. Património Cultural – seu enquadramento legal
2.1.1. Direito Internacional
2.1.2. Regime Jurídico Português
2.2.Acções de Salvaguarda do Património Cultural
2.2.1. Classificação e Inventariação
2.2.2. Conservação e Restauro
3. Valorização e Divulgação do Património Cultural
3.1. Estratégias de valorização
3.1.1. Itinerários;Rotas;Circuitos;Percursos
3.1.2. Museus
3.1.3. Ecomuseus
3.1.4. Parques arqueológicos
3.1.5. Musealização de sítios arqueológicos
3.2. Divulgação
3.3. Gestão de Projectos e o seu financiamento


Mais Informações:
Formadora:
Alexandra Maria Ferreira Vieira,
docente do Instituto Politécnico de Bragança (Pólo de Mirandela)

Contacto: alexxandra.vieira@gmail.com

Calendário: 26 Fevereiro a 28 de Maio de 2007
Horário: 2.ª feiras das 19h30 – 22h00

Destinatários: Estudantes da FLUP ou outras instituições do ensino superior.

Fonte: http://sigarra.up.pt/flup/
G_FORMACAO.detalhe_accao?
p_id=3021&p_plano_id=3022

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

Filme de Jean Rouch - um dos grandes pioneiros da "antropologia visual"



Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=PBFWsyGbsRE

Ligetti - sonata para violoncelo solo (2º movimento)



Toca: Ignacy Grzelazka.
Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=47WlUOB2vJ8

Conferências na Associação dos Arqueólogos Portugueses, Lisboa

Texto da apresentaçao do meu último livro de poemas, por Edite Estrela


... com os meus agradecimentos à Dra. Edite Estrela. O acontecimento deu-se na FNAC do Norteshopping, e foi organizado pela Papiro Editora, Porto.


TOTAL AFLORAÇÃO

De

VÍTOR OLIVEIRA JORGE


Porto, 07/12/2006

Apresentar um livro nunca é para mim tarefa fácil. A leitura solitária é prazer e deslumbramento. Entrar na intimidade do autor, em público e na sua presença, acarreta inultrapassável inibição. Pesa-me a responsabilidade e o receio de omissão grave deixa-me bloqueada … e o mais que, neste caso, é respeito e admiração pelo autor e pela obra, não me deixa levantar voo. Sei que, no final, acabarei por pensar, como o autor, que “deveria, deveríamos ter procedido / de maneira diferente”. Resta-me esperar a compreensão de quem reconhece que “é arriscado / escrever / sobre o que outros / já escreveram”.
A surpresa da escolha, a vossa surpresa, que antevi, compreendo e sinto, foi a minha surpresa. O convite, seco e directo, sem perífrases nem antonomásias, chegou por e-mail, o mais moderno e eficaz meio de comunicação em tempo real, nesta era dialógica, nas palavras de Baktine, quando as circunstâncias da vida nos colocam a distância.

Habituada a dizer sim e não, em função da agenda, do tempo que falta ou do que com boa vontade se pode arranjar, dependendo apenas do apreço pelo requerente, respondi que sim, pois até se dá a feliz coincidência de me encontrar, no Porto, em reunião dos socialistas europeus. Resta acrescentar que fiquei (e continuo) lisonjeada por ter sido a eleita. Mas, quando caí em mim – porquê eu? – percebi que não só o tempo era escasso para tamanha obra, mas, mais grave, senti-me qual Salieri a precisar de ser o Mozart da palavra para corresponder ao encontro marcado para o “recanto do texto”.

Precisava, mas não tive, “alumiação” ou “afloração” que me ajudassem a adequar o registo e a escolher o tom e a nomenclatura para melhor discretear sobre a singularidade da poesia de VOJ, a que Manuel António Pina chamou «uma voz pessoalíssima, se não “inaugural” (…), decerto órfã no contexto da poesia portuguesa mais recente», o que leva o autor do Prefácio de Pequeno Livro de Aforismos seguido de Algumas Alumiações a concluir que “uma poesia assim tinha, necessariamente, que pagar o preço da solidão”.
Foi assim que este meu pobre “texto recomeçou interminavelmente muitas vezes”, porque n’Os Ardis da Imagem vi “as palavras sangrarem” num “esforço desesperado”.
Venho do coração da «Europa, como sempre, em desassossego» e com Jacques Brel no ouvido. Este multifacetado e inigualável intérprete e compositor, escrevia a Miche, sua mulher, je me crois poète, evocação que a afirmação “escrevo poemas” de VOJ me suscitou. Brel era, sem dúvida, um poeta da síntese, o criador da fórmula sublime de harmonizar a palavra com a música. O académico, ensaísta e professor de arqueologia Vítor Oliveira Jorge é o poeta-fotógrafo das palavras, a matéria-prima que pode captar os recessos da alma, “le moi profond” – “le seul réel », nas palavras de Proust, “procurando os caminhos da espiritualidade” aqui tomada como plenitude. Um e outro, Brel e VOJ, convocam experiências multidisciplinares, apelam à variedade de saberes, cuidam do rigor da forma que valoriza o fundo. A atenção e cuidado postos na apresentação gráfica, tipográfica e iconográfica é outro ponto comum.

Perdoem-me o gesto subjectivo do meu desassossego e declarar que “o ter consciência não me obriga a ter teorias sobre as coisas: só me obriga a ser consciente”. Tenho a dolorosa consciência das minhas limitações para fazer ouvir (ler) esta sinfonia em quatro andamentos: “I Experiência das Veredas”, “II Contemplação das Áleas”, “III Visão do Céu no Interior dos Claustros” e “IV Erecção Total do Espírito”. Neste conjunto de poemas, na sua maioria longos, de versos curtos que alternam com outros mais longos, segundo os limites do sentido, os apreciadores da poesia de VOJ podem fruir a aventura da “total afloração” e assistir à emergência dos filões de luz à superfície do poema.

Atemoriza-me, já o disse, a tarefa de individualizar o “eu” do poeta dos “muitos /e diversos, / que me fitam / interrogativamente, / como que/a pedirem-me/um nome, / a água de baptismo, / a unidade”. Este desdobramento do eu é composição e ocultação, sem máscaras ou nomes, ao gosto de Pessoa. As vozes que se ouvem fazem emergir o carácter para a superfície do comportamento e condicionam inexoravelmente o curso de cada vida. E, no último poema (prosa poética?) “exaltação mística do terno presente do mundo”, acrescenta “quem assim caminhava, e estes pensamentos acalentava, utili-/zando a primeira pessoa do singular, falando em meu nome,/servindo-se inclusivamente dos meus dedos para registar isto/aqui, não sei quem é.”

Perante isto, verifico que Bernardo Soares tem razão, ao afirmar que «tudo o que vemos é outra coisa» e que “tudo quanto o homem expõe ou exprime é uma nota à margem/De um texto apagado de todo. Mais ou menos, pelo sentido da/nota tiramos o sentido que havia de ser o do texto; mas fica/sempre uma dúvida, e os sentidos possíveis são muitos”. Descobrir essa “outra coisa”, trazê-la da penumbra do contexto para a luz do texto, decifrar os sinais, descobrir os sentidos possíveis, dissipar a dúvida é o prelúdio da compreensão do Verbo, o princípio de tudo, da Palavra, casa do ser.

O poeta dispensa apresentação. Porque o conhecem bem e porque ele próprio se apresenta de forma por que jamais outros o poderiam fazer (p.9). Os destinatários somos nós, caríssimos (familiares, colegas, amigos, desconhecidos), a quem o poeta chama “contingentes, inúteis, espúrios, mesmo ridículos”, todos (ele incluído), porque vivemos no reino do efémero e na era do vazio, na definição de Lipovetsky, e nessa azáfama diária gastamos todas as energias. O poeta distingue-se de nós, quando declara que o seu “reino não é deste mundo” e que só pelo Verbo se redime.
Temos todos duas vidas, lembrou Pessoa. VOJ reconhece que a vida vivida difere da vida sonhada.: “somo os dias no meu corpo, / conto as tardes que faltam” (p.13). A vida não é linear nem fácil, mas antes de luta e lucidez para saber aproveitar os breves e raros momentos de harmonia entre o que se sente e o que se vê, o que, para Margeritte Yourcenar, é a felicidade.

Começo a percorrer a orografia do(s) poema(s) para chegar aos meandros do(s) sentido(s) e, como ao poeta, também a mim o texto interpela “em que moldura me vais meter” e as palavras reclamam “desregra”, porque, justificam, “não queremos ser disciplinadas,/ num lugar preciso”. O enigma da palavra, do texto, do que é escrever perpassa por vários poemas de Total Afloração.

Em «Prenúncio» (p.32), o poeta observa à lupa a sua interioridade, feita de “figuras da nostalgia” e “colossos do remorso”, para concluir que “o pior é esse longo velório; / é seres viúva de um vivo”. As reflexões existenciais, onde não se pressente auto-compaixão nem grande esperança, mas talvez desejo de remissão, são formas de transferência da interioridade do poeta para o poema. Em tom melancólico, a sangrar, o poeta comenta o jogo da vida, porque, como noutro poema reconhece, “estou em trânsito/ entre o meu passado e o meu futuro”.

Em “até à vista” (p.36) fala-nos do seu mundo, “o escritório”, “amados livros, / minha história / meu quarto de sentir, de pensar, de compor”, através de uma amálgama de ícones, semelhante a “laboratório” (p.95) com um manancial de formas e de cores. E, em outros poemas, assistimos a um turbilhão de figuras e ritmos. A importância da escrita redentora é recorrente. Já em “a terrível doença da contabilidade” (p.12), o poeta afirmara que o dia só vale a pena ser vivido porque há livros. A palavra escrita usada como terapia de substituição dos afectos: “ e de livro em livro/procuro a intensidade, / porque nenhuma amizade/me visita, / nenhum amor me convida /para o seu braço”. Os afectos são frágeis com as plantas e como elas precisam de ser alimentadas e fortalecidas, com amor e zelo, para resistirem à falta de sol e de companhia.

Em “alguns momentos da elevação da mulher” (p.112), espécie de cosmografia do corpo e da palavra, prazer do corpo e da língua, o poeta considera que o “gozo pleno” só é atingível quando há “o conhecimento/lúcido da excitação”. A consciência do prazer sexual a aumentar o próprio prazer.

Em “a exposição de mulher” (p.61) homenagem a antónio ramos rosa (prémio de poesia da APE) o mais erótico de todos os poemas de Total Afloração, “a imagem putíssima” “como se fossem monumentos”, “lembras ainda uma catedral de mármore”. Fala da paisagem humana e da paisagem monumental a que lhe está mais próxima, como já havia feito em “prenúncio”.

Em “prelúdio da suite número cinco, em dó menor, para violoncelo solo, BWV 1011, de J.S.Bach” em homenagem a ingmar bergman, o poema abre com uma intrigante interrogação “é possível fugir de vez / às metáforas das metáforas / do vazio?”. (p.21). Como noutros poemas, a cadência do verso a captar a melodia da metáfora (p.26): “apesar do olhar vazio, incrédulo das metáforas”. Ou, ainda (p.22): “e as pétalas das metáforas/ao caírem uma a uma de exaustão (…) como se fossem gotas/de vinho, em oferendas de ouro,/ em dobras de manto/letras góticas caídas/uma a uma sobre o texto”. O processo de equivalência vai da metáfora para a comparação. Em “reflexão sobre os limites”, da metáfora à hipálage (p.23), pressente-se um movimento de ascensão da dor das cicatrizes e luto para o escorrer de saudade (p.24) “no frenesim dos estames/na poluição dos pólens”.

Em “conversas de la Belle com la Bête, com remate final a condizer”, (p.41), longo poema em três andamentos – conversa I, conversa II e remate - o leitmotiv da distância entre o ser e o parecer, a “absurda desconformidade / entre interior e exterior”, quando afinal “tudo constitui uma unidade” porque a forma é também conteúdo; o desencontro, a inversão dos papéis, o desfasamento sentimental, a des-coincidência entre o que se sente pela obra e pelo seu autor “apaixonei-me pela tua poesia / de tanto a ler, / enquanto/ por ti esperava”. Guardados pelo “anjo da escrita” (curiosamente, “o mesmo da ironia”), A e B redescobrem-se na “atemporalidade” das almas sem “a mais pequena alteração”, fundindo-se “num abraço soberano”. A síntese de plenitude.

Ao de leve, como quem seriamente brinca, o recurso ao haikai em extraordinárias composições, onde se apreende o mais evidente movimento metafórico de conjunto: “dez haikais vegetais” (p39), paradoxalmente poesia mais conceptual que vegetal, o conselho: “recusa sempre / liquefazeres-te na / indiferença”. Mas há mais: “doze haikais sazonais”, “dez haikais flamencos” (da Andaluzia e não da Flandres, e não flamengos); “doze hiakais sobre apresentação” (sozinho lanço / mais um livro ao mundo; silêncio total” (o manto da indiferença da crítica portuguesa). “Doze haikais venezianos”; “Doze haikais de interior”; “Dez haikais pompeianos” (lava escorre /apenas nos canais do / pressentimento” erupção do Danúbio comparado ao orgasmo.

Em Total Afloração, observa-se uma diversidade de meios sintácticos, através dos quais o poeta estabelece certas classes de equivalências. O processo mais comum de fazer a equivalência é o da metáfora (a que já aludi) e o da comparação (p.104) “permanecem/até hoje de costas/ como num quadro de Magritte”. Há também outras incursões pela pintura, referências a grandes vultos como Chagall (p.107) ou Dali (p.97). Voltando às equivalências, refiro ainda o recurso à comparação virtual (p.23) “as figuras do povo” “como se fossem personagens já mortas/de um quadro antigo”. Património humano e cultural.

A repetição como intensificação : (p.23) “campos e campos e campos”; (p.22) “a citar a citar a citar”; (p.25) “pelos séculos dos séculos dos séculos”; (p.26) “sempre e sempre e sempre”.

O poeta dá vida e autonomia às criações verbais a que o conhecimento, a sageza e a experiência serviram de suporte: (p.90) des-cuido, (p.108) reinumar, (p.114) cíclades, (p.114) oblata, (p.112) cárnica, (p.109) obsidiana, etc. Chamemos-lhe recriação verbal para que não nos responda como Boris Vian, quando foi acusado de inventar palavras: “reparem que são sempre palavras que ninguém conheceria à mesma, se eu usasse as palavras verdadeiras, pois no fundo ninguém conhece o nome das flores que há no mais banal dos jardins”.

O mal existe e é indispensável à espiritualidade, um complemento necessário à realidade que se debate em nós. Não há aberração nem indecência nem inflação erótica. Mas há erotismo (pp.115,112 e 116) (prazer que resulta do conhecimento e da imaginação”, (p.122) associado ao património, p90 “erótico ou porno-gráfico (é o mesmo)”, termo recorrente e sempre com esta grafia (pp. 114 e 119). Sobre o amor e o erotismo, recorro a Hélia Correia, “Fenda Erótica”: “o amor é uma coisa rara, difícil de encontrar; e que só aparece, por acaso, e uma vez por século, se tanto, como outros fenómenos igualmente inexplicáveis, aqueles de elevar-se alguém nos ares ou de um analfabeto citar Cícero em correcto latim”.

Os leitores de VOJ não são (como poderiam ser?) os consumidores dos media ou os instalados na facilidade. Esses, afastados em lonjura de galáxia da Arte, da Literatura, da Poesia, cobrem-na com a capa da indiferença. Em tempos de «fascismo da vulgaridade”, nas palavras de Steiner, que lugar para a obra múltipla, a excelência, a lucidez? Pouco mais que um pequeno espaço exterior à manta de silêncio e esquecimento que, inexplicavelmente, cobre os virtuosos, não os medíocres!
Os leitores de VOJ têm de ser atentos, capazes de atender ao essencial, disponíveis para a aventura das palavras, dos ritmos, das formas e das cores. Em suma, para a Vida, em toda a sua complexa simplicidade. Porque só se quer e ama o que se sabe ser razoável, como revela Ortega y Gasset, Ensaios sobre el amor.

Agora, tem a palavra o leitor. Ler é compreender, na concepção kristeviana. Sem leitores não há literatura. De acordo com a "estética da recepção" de Hans Robert Jauss, a vida da obra literária é inconcebível sem o papel activo que desempenha o seu destinatário. O leitor tem a liberdade de ponderar melhor este ou aquele segmento à luz de uma visão de conjunto. Pode saborear as palavras, ponderando a distância que vai do significante ao significado, da presença à ausência. E estabelecer conexões com os elementos extra-textuais.

VOJ não precisa de uma exegese, por isso termino convocando as palavras de um escritor de outro tempo, D. Francisco Manuel de Melo, para me desculpar perante o poeta e apelar à benevolência do auditório: «Vós sabeis que pudera eu aqui dizer muito mais, e eu sei que quiséreis vós ouvir muito menos».

Mas apesar de mim, leitora feita crítica neste dia, com o poeta direi: “glória a ti, criador, que nos deste a poesia”.

Obrigada pela vossa atenção.


Edite Estrela