segunda-feira, 11 de maio de 2009

Extracto de umas coisas que eu escrevia hoje a uma pessoa...

"A vida actual não está para estudos. A grande dificuldade de se fazer ou pensar mesmo na minha idade é extraordinária, mostrando como pensar se tornou hoje, por assim dizer, subversivo em si. É a realização de uma impossiblidade por assim dizer estrutural dentro do regime da desatenção: não há condições de concentração da atenção.
Estarei aqui agarrado até às 7 horas da tarde para tentar fazer uma sessão decente, hoje, do curso que ando a dar na FLUP. Não se imagina o que me tenho empenhado neste objectivo vital que é para mim este curso, pois é a plataforma para o que resta da minha vida, inclusivamente como arqueólogo. Percebi urgente e finalmente esta coisa que já intuía quando era muito novo, desde sempre (desde quando adquiri alguma capacidade de reflectir), mas não tive tempo de cumprir: sem prepararação teórica aprofundada tudo o que fazemos, sentimos e dizemos e escrevemos e publicamos são simples patetices. Andamos feitos patetas uma vida inteira, pois nos falta o soco em que assentar coisa que dure. Mas chega um momento em que adiar é impossível: é um imperativo da nossa própria morte, ou seja, do que faz pulsar a vida: deixar testemunho. Nada nem nenhum valor ou obrigação ou pretensa urgência se sobrepõe então a esse, ligado à sobrevivência, à interpelação absoluta."




Sem comentários: