segunda-feira, 1 de junho de 2009

Take a message to Mary (*)




A poesia é isto

Esticar as mãos

 

Um pouco para fora

Da imagem

 

Assim como quando queremos

Esconder um cadáver

 

E fica sempre algo de fora.

 

Não existe crime perfeito.

 

Há sempre uma mão que se estica

Há sempre um sentimento

Que vem ao de cima

 

E boia quando queríamos

Que o cadáver fosse bem pró fundo

 

Aqui quando queremos

Terminar o espectáculo

E um actor escorrega no seu próprio papel

 

E tem aquele reflexo de estender a mão

A pedir a ajuda do público

 

Não há performance perfeita

Por isso os crimes estão sempre

A sair das páginas dos jornais

Com as mãos cheias de sangue

 

Não há poesia perfeita

Limpa de literatura, 

Uma coisa que fosse apenas nudez

Exposta sem histeria

 

Ficam sempre de fora

Umas mãos histriónicas

 

E a menina a ser estrangulada

Olha sempre uma vez para o artista,


E esticando uma mão

 

Diz ainda:

Não acabes comigo já,

Deixa-me chegar ao fim da estrofe.

 

Está bem, combinado.

Mas por favor encolhe as mãos

Não confundas este trabalho

Com sentimentos,

 

Estamos aqui a um nível

Já profissional.

 

Mas muitas vezes, mesmo assim

Quando vamos a fechar

A caixa das ferramentas

 

Há sempre um maldito bisturi,

A lâmina de uma tesoura

Que fica de fora, e nos trai

 

Com uma pinga encarnada.




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* título de uma canção de bob dylan. Não tem provavelmente nada a ver com este texto, no caso o(a) leitor(a) não encontrar a apropriada conexão




Fotos Pascal Renoux (rep. aut.)

Texto: voj maio 2009 porto

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