A poesia é isto
Esticar as mãos
Um pouco para fora
Da imagem
Assim como quando queremos
Esconder um cadáver
E fica sempre algo de fora.
Não existe crime perfeito.
Há sempre uma mão que se estica
Há sempre um sentimento
Que vem ao de cima
E boia quando queríamos
Que o cadáver fosse bem pró fundo
Aqui quando queremos
Terminar o espectáculo
E um actor escorrega no seu próprio papel
E tem aquele reflexo de estender a mão
A pedir a ajuda do público
Não há performance perfeita
Por isso os crimes estão sempre
A sair das páginas dos jornais
Com as mãos cheias de sangue
Não há poesia perfeita
Limpa de literatura,
Uma coisa que fosse apenas nudez
Exposta sem histeria
Ficam sempre de fora
Umas mãos histriónicas
E a menina a ser estrangulada
Olha sempre uma vez para o artista,
E esticando uma mão
Diz ainda:
Não acabes comigo já,
Deixa-me chegar ao fim da estrofe.
Está bem, combinado.
Mas por favor encolhe as mãos
Não confundas este trabalho
Com sentimentos,
Estamos aqui a um nível
Já profissional.
Mas muitas vezes, mesmo assim
Quando vamos a fechar
A caixa das ferramentas
Há sempre um maldito bisturi,
A lâmina de uma tesoura
Que fica de fora, e nos trai
Com uma pinga encarnada.
* título de uma canção de bob dylan. Não tem provavelmente nada a ver com este texto, no caso o(a) leitor(a) não encontrar a apropriada conexão
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