sábado, 27 de junho de 2009

Para-religião

Consegui renovar a internet por mais algum tempo. Continuando...

Um dos sintomas que me parece mais interessante dessa para-modernidade são as pequenas cabines chamadas de "cabines de meditação", que encontrei quer em Paris, quer em Sofia. Elas substituem os antigos locais de oração (conheci sobretudo capelas) que existiam nos aeroportos. Antigamente existia o local de oração de uma religião, hoje existe uma espécie de para-lugar, onde todos, independentemente do seu credo, se podem recolher e rezar (ou melhor, conforme é dito como apelido desses lugares: para meditar).
O aeroporto no seu todo é um para-lugar, mais do que um não-lugar. Nele se cruzam um conjunto de personagens, cada um assumindo um papel muito próprio. Ao divagar pelo aeroporto deparamo-nos com a encenação do surfista, do homem-de-negócios, do senhor, da senhora, enfim, uma miríade de personagens. Dentro do espaço do aeroporto e do avião parece haver um afinco na persona-lidade de cada um, muito por culpa da massificação destes espaços. Perante a multidão o Ego é um elemento em perigo. No aeroporto sabemos que podemos ser fácilmente ninguém (escrevo-vos sob o anonimato de um casual qualquer, semi-vagabundo, à entrada de uma casa-de-banho, local que me foi indicado para poder estar com o portátil ligado à electricidade). É também nestas situações que vejo emergir os perversos, aqueles que gozam com a implementação da lei (a chamada de atenção ao outro, o gozo na existência de uma norma, a interpelação da hospedeira, etc). E depois temos a chamada ao consumo, o bem de prestígio, o facto de identificação, aquele "je ne sais quois" que possa aportar satisfação. Tudo jogos de uma para-modernidade, em que o Ego é o peão em jogo.
Bom, está quase a soar a chamada do voo AF.... para Lisboa. É o meu toque a recolher. Lá vou eu para o meu lugar, para assumir não sei bem que papel.Não é muito diferente da interpelação diária para ser o assistente-professor, arqueólogo, encaixado num papel qualquer, para não invadir demasiado a área dos outros. É que isto dos papéis atribuídos é para ser levado mesmo a sério.
Onde começa a Para-noia? Onde começo Eu?

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