segunda-feira, 29 de junho de 2009

just honey, sugar, or ice cream



como se fosse um gelado
como se fosse um daqueles doces de açúcar
que tomávamos em miúdos
ficando sempre com a insatisfação
de ter acabado tão depressa

vamos-nos esgotando de cidade em cidade
de passo em passo, de quarto em quarto
de passeio em passeio, de cruzamento em cruzamento

atirando as mochilas para o chão
após mais uma caminhada, sempre cheios
de imensas coisas que queremos fazer e ver

de cama em cama, de comprimido em comprimido
de golo em golo vamos bebendo o copo grande
do nosso sangue partilhado e às vezes já coagulado

e olhamos para o olhar do outro desamparados
como se este caminho que nos aproxima nos afastasse
para um momento decisivo em que não haverá mais movimentos
nem planos, nem projectos, nem canseiras, nem nada para ver

oxalá seja um local limpo, ar ar livre, e o vento não nos tolha os braços, as mãos,
oxalá possamos abraçar-nos no mesmo movimento, sem ar que nos afaste

e nos possamos asfixiar ao mesmo tempo nesssa espécie de fusão,
olhando um para o outro com os olhos muito abertos
como se víssemos vir do céu um grande doce de açúcar
uma daquelas coisas brilhantes, enormes, coloridas, que nos arregalavam a vista
quando éramos miúdos

terminarmos como uma enorme obra de arte 
uma performance, uma instalação, todos derretidos e moldados
na mesma matéria de açúcar, de amêndoas doces, de chocolate branco
sem dramatismo e com a grande alegria de não termos mais mochilas para levar
nem checks-ins para fazer, livres finalmente desta grande trapalhada


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