Transcrevo de Karl Marx, "Grundisse" (Berlim, Dietz Verlag, 1953, p. 387 - cit. em francês por A. Gorz, "L'Immatériel", Paris, Galilée, 2003, p. 86):
" Uma vez despojada da sua limitada forma burguesa, o que é a riqueza senão a universalidade, produzida na troca universal, das necessidades, das capacidades, dos prazeres, das forças produtivas, etc., dos indivíduos? A plena capacidade do homem de se assenhorear das forças naturais bem como da sua própria natureza? A evidenciação absoluta das suas disposições criadoras, sem outro pressuposto que não o do desenvolvimento histórico que erigiu como fim, em si, o desenvolvimento de todas as forças humanas enquanto tais, sem nenhum marco pré-estabelecido?"
Gorz comenta favoravelmente esta passagem dizendo que o "seu interesse particular (...) é que a superação do capitalismo é aí definida como uma superação do produtivismo. A economia cessa de dominar a sociedade, as forças e as capacidades humanas cessam aí de ser meios de produzir riqueza, elas são a própria riqueza." (id. ib).
Uma formidável utopia (e miopia) se gera aqui, sob a ideia de que "a produção é posta ao serviço do desenvolvimento de si, quer dizer, da produção de si." (Gorz, id, p. 87).
Obviamente que não sabemos nem podemos saber o que seria um homem que aparece aqui fora do tempo assenhorear-se (?) de tudo (?) quanto há de "positivo" em si e na natureza (?), para produzir uma forma de riqueza ao serviço da felicidade de todos e de cada um. É este aspecto envolvente, de "grande narrativa", que toma um aspecto escatológico, que nos provoca nostalgia e frustração. O que seria uma riqueza baseada na sociedade, nas forças e nas capacidades humanas, como se estas fossem uma realidade em si? Que nova forma de oikonomia seria essa?... Fica-se perplexo com a debilidade intrínseca do argumento. Mas isto é só uma nota... pode ser que eu não tenha ainda apreendido bem...
O que há de excelente num blogue é poder partilhar as incertezas de um caminho, diferentemente de publicar papers que são a marcação de um fim (mesmo que temporário) de caminho, ou seja, um beco sem saída.
Um blogue é um meio altamente performativo de tentar perceber por que é que a economia da performance é hoje a economia dominante, da finança aos afectos.
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