"Acredito em ti " –
E com esta frase prego uma vaga certeza
Numa superfície vertical,
Forro as paredes interiores
Com folhas secas de um herbário,
E preparo-me para voltar a atravessar
Um antigo inverno.
A tua presença,
Que circulou sempre solta por aí
Como as folhas que caem das árvores
E brincam durante muito tempo no ar,
Aparece de súbito como se fosse uma imagem
Encostada ao papel de parede;
E um corpo de tule, uma nuvem me diz
Para me acalmar na minha desorientação;
Pois aqui se inicia toda uma série de metamorfoses:
Ora puxando para cima os mantos,
Ora descendo silenciosamente os cortinados,
Entre um sussurro longínquo de tambores.
É afinal o bem conhecido teatro do corpo:
Os seus lábios, o seu vermelho entreaberto
A ser arrancado constantemente à boca,
E depois atirado
Com toda a força
Para aqui;
Os seus mamilos,
As pontas mais sensíveis procuradas
Nas montanhas, nos seus cânticos,
A virem perfurar o papel com pontas de cristal,
E criando feridas, a impedirem que o poema
Se deixe cair fundo no negro fundo
Situado mais abaixo,
Sob os tambores que se não ouvem.
Os músculos vivos,
A sua respiração, o ruído do seu
Funcionamento, esta dança de violoncelos
Todos atirados contra a parede,
Esta música inaudível dos ombros,
Este concerto de articulações.
Cintura, ondulação, vago clamor sem chegar
A ser, sem chegar a formular
Um sentido claro,
Contra um muro, uma parede
Por trás da qual se abram as outras estações.
"Acredito em ti", ouve-se ainda dizer
num texto amachucado
que caiu ao chão
e se desvaneceu no negro,
levado pelos alaúdes inaudíveis.
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