sexta-feira, 5 de junho de 2009

Perscrutar Ida (ou o fóssil e os media)

Fonte: Jornal "Público" online
Muitos se devem lembrar da quinta-feira recente, em que a informação sobre um fóssil teve direito a primeiras páginas de jornal, tendo mesmo levado à alteração do logo do Google nesse dia.
No Publico online podemos agora ler uma peça interessante, uma espécie de jornalismo do jornalismo, em que é explorada como notícia, a estratégia mediática relativa a este "achado".
Os ingredientes eram perfeitos: uma boa imagem, um parágrafo forte, com título apelativo. Um "achado".
O jornalismo "científico" há muito que me interessa, particularmente o ligado à Paleontologia Humana, Arqueologia, Antropologia e História. No artigo a que aqui faço referência, estão expostas muitas das tácticas que permitem mediatizar uma "descoberta".
Há aqui um sintoma interessante, uma vontade de mediatizar, de expor. As razões parecem, ser da ordem do óbvio: a exposição vende, permite adquirir poder. Mas parece-me que há algo mais, nesta competição. Sinto que há um clima de "disavowal beliefs", o "eu sei muito bem, mas...", que surge em paralelo. Como um jogo, em que toda a gente sabe da encenação, mas ainda assim fingem acreditar nela.
Sei de instituições e equipas de investigação que criaram os seu próprios gabinetes de imprensa, procurando inundar o Outro, bombardeando-o com informação (um pouco na táctica do obsessivo perante o analista). Muita desta informação passa pelo banal, mas vai propagando-se através dos canais de informação, os rss, feeds, agências noticiosas, etc (é incrível o que um pequeno feed pode fazer). Por essa mesma razão muitos órgãos de comunicação passaram a utilizar sistemas de certificação da informação, tentando assim filtrar a Notícia da notícia. Na maior parte das vezes é um esforço inglório. Passa sempre algo "não fidedigno".
Se esta competição por se fazer ouvir, por se ser mediático é muito característica do tempo em que vivemos, parece-me, no entanto, que a estratégia mais eficaz perante esse jogo, não é desmascarar o Outro (demonstrar que o rei vai nu). Talvez a acção mais subversiva passe pela utilização desses mesmos canais. A sobre-exposição pode aqui resultar tão bem como a sobre-identificação.
É muito interessante este caso de estudo da "Ida".

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