quarta-feira, 3 de junho de 2009

Glória de uma cor


Quando toda a gente desaparecer

Desdobrar-se-ão finalmente os mantos

Verticais:

Os mantos vermelhos,

 

As grandes araras monocolores,

Cegas; dir-se-ia:

Reduzidas ao seu manto,

Ao seu dorso aristocrático.

 

Desdobrando-se de alto a baixo,

Quando as figuras miseráveis fugirem

Na sua vulgar humanidade de vultos negros.

 

Poderá então preponderar

Sobre cada um dos cantos da vista a cortina,

A pelagem nobre

Das grandes araras vermelhas.

 

Dizem que são cegas, desprovidas da parte da frente;

Apenas reduzidas ao seu reposteiro, ao manto

De que já foram suporte, e que agora

Aparece por elas com um esplendor vermelho.

 

E as garras fechadas sobre os olhos cegos

E os punhos agarrando as baterias do sangue

E as retinas raiadas de vermelho

 

E então as araras aristocraticamente

Gritarão de novo:

Revolução!

 

Sim, as dobras da revolução virão

Como mantos celestes que pousam, que se estendem,

Como mares que sobem sobre outros mares

Como universos ainda desconhecidos

E incontroláveis

 

E hão-de estender o seu manto enorme

Sobre toda a terra,

Num som que estoirará os tímpanos

Dos que não querem sequer ouvir a palavra:

Comunismo!

 

E celebrar-se-á a boda prometida

E as figuras do bronze e do ferro voltarão

Para verem a magnificência das araras

A perfeita sobreposição;

 

Cada pessoa querendo chegar primeiro!

Cada vulto humano querendo dançar com o seu próximo.

 

Ah, o grande arraial das araras.

Ah, o grande campo dos mantos.

Ah, o triunfo das aves, das aves cegas do Futuro.

 

O vermelho estendido ao alto,

Em toda a sua glória...

A parte detrás da história que esperou, cega.

 

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Foto: Ernesto Timor (rep. aut.)

Texto: voj porto junho 2009

1 comentário:

Vitor Oliveira Jorge disse...

O artista agradece.
Bjs
Vitor