domingo, 7 de junho de 2009

Nêmesis...

Tínhamos a vaga impressão que isto iria acontecer. Ter um candidato a ler discursos de papel na mão, não inaugurava nada de bom para o PS, mas confiantes nas sondagens, no rumo, no líder...
É óbvio que em Portugal há um clima de insustentabilidade. Sentimo-lo todos os dias. É um lugar-comum (faz parte do que vivemos, juntos, no dia-a-dia).
A prudência diz-me para perceber do modo como estes resultados podem atirar o país para um estado de ingovernabilidade, mas devo confessar que a vontade atira-me para uma certo sorriso, pois o que aqui está presente é de tal modo expressivo, que é impossível de calar. Ver a duplicação da votação do Bloco (e a possibilidade de eleição do Rui Tavares, de quem sou fiel leitor há muito tempo), perceber o modo como a CDU se apresenta como uma força irredutível, garante que há voz, mesmo quando a tentam silenciar. Há espaço na democracia portuguesa para quem não está contente se expressar. Quando olho para o que se passa noutros países (tanto a Leste como a Ocidente) isso faz-me sentir... diferente.
Muitos países de Leste viram-se atirados no "pós-comunismo", onde a promessa vinha de liberais e nacionalistas. Muitos desses países são agora aqueles em que a crise mais se faz sentir. Estão numa situação dramática e não sabem como sair dela. As pessoas não sabem em quem votar, porque não têm ninguém que represente o seu descontentamento. É mau para elas, é mau para o país, é mau para a democracia. Dizem-lhe para não se preocuparem, que depois da crise serão elas as mais preparadas; mas para quem tem 48 anos e está agora no desemprego (na maior parte das vezes pela primeira vez na vida) é difícil de acreditar.
Tenho medo pelo que está acontecer na Europa. Olhar para a votação país a país faz-nos perceber que deste lado do Atlântico há sinais para ficarmos apreensivos. Ainda temos que esperar para perceber o que aconteceu, mas a face da Europa está diferente, muito por culpa do enfraquecimento do grupo Partido Socialista Europeu, no estertor da terceira via. Para onde isso nos atira? Bom parece que no continente decidimos apostar em conservar o PPE, que resiste no alvor de uma onda de nacionalismo. Uma vaga que ameaça a Europa nos seus fundamentos.
O que as pessoas disseram hoje, em muitos locais pela Europa fora, é simples: assim não. Essa mensagem teve um alvo principal: os socialistas da terceira-via. O que restam são escombros, nos quais ainda não é claro o dia seguinte.
Parece-me que o modo como o PPE se aguenta é explicável se percebermos o que se passa em dois países: França e Alemanha. Creio que é a força de pessoas considerarem que não existe ainda alternativa perante a fragmentação do PSF (de que modo explicar a votação crescente num Sarkozy cada vez mais impopular?). Da esperança que a coisa se aguente, que o estimulo aos novos automóveis dure sempre e que a China se abra cada vez mais à Volkswagen (que desenvolve uma crença de que Alemanha possa resistir à Europa); ou de que o PP poderia fazer melhor que o PSOE se fosse governo (uma fantasia que se alicerça, simplesmente, num pequeno objecto a). Não me parece que isto augure nada de bom (a sustentabilidade de tudo isto é...).
Não me parece muito diferente da vitória do PSD por cá. Muitos pensam que é o passo para a mudança do centrão em peso, que permita ao PSD alcançar a maioria, com ou sem PP. São os mesmos que acreditam que os 20% do BE/CDU são coisa passageira, efeitos de um momento (uma eleição que só conta como protesto). À medida que a crise avance (e continua a haver sinais disso) este cenário tornar-se-á cada vez mais uma impossibilidade. Daqui a Setembro são 3 meses e a crise não se desfaz em 3 meses. "É pena" pensa o PSD, porque depois a crise dura só mais um ano e a seguir a isso há a oportunidade de mostramo-nos como os melhores alunos do momento.
E há ainda uma incógnita chamada PS. Poderá o partido aprender a lição deste dia? Não se sabe; até porque nos recordamos do mau agúrio do primeiro dia: "Habituem-se" alguém disse. Mas as pessoas teimam em não habituar-se e ...
Na RTP1, depois da noite eleitoral, passa "O Último Samurai". Acho que a terceira-via (por cá na pessoa do nosso primeiro-ministro) partilha muito com o protagonista deste filme (interpretado por Tom Cruise): também ela acaba por aderir ao que antes era o seu inimigo e no final acaba por sacrifica-se por/com ele.
O movimento de Nêmesis ainda está no início. Mais 4 anos de Durão Barroso à frente da Comissão ajudam qualquer um a perceber isso.

Adenda: Vi no site da BBC que o partido de Berlusconi terá o maior número de deputados no Parlamento Europeu; decididamente Nêmesis ainda está no seu início.

3 comentários:

Luiza Nunes disse...

"O sujeito pós-moderno olha a perda com júbilo, e esse é o seu sublime, que poderíamos designar inumano." Interessante reflexão. Visite o meu blog.
Cumprimentos.

Luiza Nunes disse...

"O sujeito pós-moderno olha a perda com júbilo, e esse é o seu sublime, que poderíamos designar inumano." Interessante reflexão. Visite o meu blog.
Cumprimentos.

Vitor Oliveira Jorge disse...

Olá. Vou visitar o seu blogue. Colocou este seu comentário numa postagem de Gonçalo Velho. NO problem. Saudações. Vítor O. Jorge