quarta-feira, 17 de junho de 2009

coisa óbvia, para muitas pessoas que fazem blogues expressivos, e sem ofensa


A poesia, como qualquer forma de arte, consiste em colocar o mundo (neste caso textualizado) em posição de estranheza. É um artifício discursivo, que faz portanto apelo a toda a experiência do autor (e do leitor, é claro), e que nada tem a ver com expressão de sentimentos, ideias, ou qualquer outra coisa externa. A poesia é a estranheza encenada em texto. É um corpo textual estranho, incómodo, perturbador. Se for de qualidade, quer dizer, se conseguir ser poesia, essa perturbação literária, digamos, artificiosa, toma conta depois dos nossos sentimentos. Cria sentimentos literários. 


2 comentários:

Daniela Martins disse...

Desculpe, mas não concordo totalmente...
Falo de uma área em que tenho uma voz completamente, totalmente muda mas, a minha forma de ver a poesia, não se pode dissociar de um sentimento, de uma busca, estranha, próxima, longuínqua.

Vitor Oliveira Jorge disse...

Mas nesse sentido todo o ser humano, em tudo o que faz, é movido pelo desejo, por aquilo a que chama sentimento. Esta minha nota é a propósito de muitas pessoas que chamam poesia a coisas que não são literatura, mas pura expressão de sentimentos, de uma forma ingénua, porque confundem esses desabafos e sensações, totalmente legítimas, claro, com uma coisa que implica trabalho literário, artifício no sentido de que toda a obra de arte implica esforço, construção, uma competência particular. Eu posso ter vontade de exprimir-me em violoncelo, mas como sou totalmente incompetente. só arrancaria dele horríveis ruídos,apesar das boas intenções. Como em poesia o instrumento é a palavra, que usamos no dia a dia, há muita gente que confunde essa palavra quotidiana com a outra, a poética, que está noutro plano de sentido e de sentimento...
Um abraço!