Um rosto vem até mim e diz-me
(Ou digo eu por ele, claro):
Adivinha-me no meu perfil,
Decifra-me nas minhas sombras,
Perscruta-me nos meus interstícios.
Limito-me a chegar, a deixar-te
Esta pequena abertura
Para o meu passado,
Outras pessoas, outra casa,
Agora transmutadas apenas
Neste silêncio que te endereço.
Decifra-me, arqueólogo, põe-te
Em movimento. Recorta-me,
Reconstitui outra paisagem,
Cria todo o cenário em volta.
Preenche o branco em letras fortes.
Eis o meu pescoço, o meu queixo,
Os meus lábios, os meus dentes.
Vá, trabalhador, põe estas máquinas
Em movimento, quero ver electricidade!
Faz circular magnetos na minha cintura.
Quero sentir o rodopio da tua arte, quero dançar!
Ah, digo-te eu, se me tivesses enviado
Um fragmento só desse contorno
Talvez eu tivesse podido chegar
A um conjunto de lugares comuns,
E alinhar uma série de versos
Sobre o branco, como quem limpa
Um corredor até à porta, e diz: chegou o verão,
Entra por ele dentro sorridente,
Os sofás, brilhantes, esperam-te
Nesta nova casa! A Casa sobre a Colina pacífica,
Assente no meio de todas as frases de folhagem
E versos caídos de aragens de verão, a Casa
Onde finalmente tudo pára, e o abraço te espera.
voj porto junho 2009
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