sexta-feira, 5 de junho de 2009

Casa da Colina


Um rosto vem até mim e diz-me

(Ou digo eu por ele, claro):

Adivinha-me no meu perfil,

Decifra-me nas minhas sombras,

Perscruta-me nos meus interstícios.

 

Limito-me a chegar, a deixar-te

Esta pequena abertura

Para o meu passado,

Outras pessoas, outra casa,

Agora transmutadas apenas

Neste silêncio que te endereço.

 

Decifra-me, arqueólogo, põe-te

Em movimento. Recorta-me,

Reconstitui outra paisagem,

Cria todo o cenário em volta.

Preenche o branco em letras fortes.

 

Eis o meu pescoço, o meu queixo,

Os meus lábios, os meus dentes.

Vá, trabalhador, põe estas máquinas

Em movimento, quero ver electricidade!

Faz circular magnetos na minha cintura.

Quero sentir o rodopio da tua arte, quero dançar!

 

Ah, digo-te eu, se me tivesses enviado

Um fragmento só desse contorno

Talvez eu tivesse podido chegar

A um conjunto de lugares comuns,

E alinhar uma série de versos

Sobre o branco, como quem limpa

Um corredor até à porta, e diz: chegou o verão,

 

Entra por ele dentro sorridente,

Os sofás, brilhantes, esperam-te

 

Nesta nova casa! A Casa sobre a Colina pacífica,

Assente no meio de todas as frases de folhagem

E versos caídos de aragens de verão, a Casa

Onde finalmente tudo pára, e o abraço te espera.

 

voj porto junho 2009


Sem comentários: