terça-feira, 30 de junho de 2009

consideração moral curta, a contra-corrente


Acho que cada pessoa, antes de pedir, solicitar, exigir, querer, desejar, etc., etc., deveria perguntar-se a si própria: se morresse hoje, que teria feito por este mundo e por este país em que fui lançado(a)? Que obra acrescentei, que se possa estudar nas escolas, representar num palco, ler num  livro, ver numa imagem, presenciar numa rua, experimentar num laboratório, iluminar num rosto inteligente, etc.? 
Não se trata dessa treta de plantar árvores, fazer filhos, ou escrever livros. Qualquer pobre diabo faz isso. Digo: que fiz por mim, que se possa ainda ver, apreciar, daqui a umas décadas, que real património acrescentei a este mundo? Eu sei, ninguém é juiz de si próprio, e muito menos pode antecipar o futuro. Mas eu não falo disso. Falo do futuro que é agora, e da voz do outro que me interpela desde já em mim: que fizeste para merecer o que comeste e o que gozaste? Essa voz, por absurda que seja, existe. E exige-me, convoca-me.


Imagens de Zagreb



























Na Moderne Galerie - Ars Croatiae (24.6.09)
Esta galeria reflecte quanto os artistas croatas sempre estiveram conectados com os "movimentos" das artes plásticas da Europa Ocidental

Animação litoral de verão


Odeio. Provoca-me fúria selvagem, fico fou furieux. Não respeita nada nem ninguém. São berros e roncos pela noite fora. Coisa horrível, pior que as torturas do Inferno.

Alguém sabe de alguma petição contra isto?!
Não serve de nada, mas enquanto se assina tem-se a sensação de que pelo menos se desabafa alguma coisa. Nunca pude com as chamadas "animações" pró pobo. Qu'horror, como diz uma amiga minha. Que mania que havia de dar às pessoas, destruir tudo o que há de mais belo na vida, sobrepondo a cacofonia horrível ao belo som do mundo.


Momentos de Zagreb


Um homem a tentar atrair escassos turistas na parte alta da cidade... desgraçadamente (para nós) o dia em que estava tudo fechado, por ser dia da independência nacional... lá me escapou o museu de arte naif que tanto gostava de ter visto... esse estilo é muito típico da Croácia, parece! Valeu-nos termos conhecido uma pessoa muito interessante, a Mónica, uma mexicana que nos fez perder o medo da gripe... o diabo seja surdo, cego e mudo!

Momentos de Zagreb


Na catedral neo-gótica...

o meu novo imac...


...tem um écrã tão grande que dá para ir lá ao fundo, olhar para mim a escrever sentado na mesa e voltar.
Bendita tecnologia (enquanto não avaria)... sem estas máquinas a minha ontologia ficava no cesto do lixo que espreita no canto (do écrã ou do escritório?... já não sei).
A realidade espreita-me de forma cada vez mais insidiosa... não, erro, o real é que fugiu agora para dentro do écrã adormecido, tornado espelho, com uma deliciosa maçã negra por debaixo.
Dois auscultadores para ouvir Bob Dylan* no máximo de intensidade, que pode mais uma pessoa querer?... sobretudo depois de um dia em que já respondi a umas centenas de mails.
Devia haver prémios para isto...após um certo número de horas, uma menina vinha dar um bom-bom do fundo da realidade, bem lá do fundo deste abismo que é o écrã, e voltava para a sua inocência virtual.
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* Por ex, a faixa 6 do álbum Planet Waves, "Forever Young"... meu Deus, há tipos geniais!

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Momentos de Zagreb

Nós, no Museu de Artes e Ofícios... com algum "engenho e arte" e uma querida Leica consegue-se algumas coisas


Vítor (com certo ar de múmia) no elevador (arqueológico) do Museu Arqueológico



As escadas que neste mundo uma pessoa tem de subir e descer... 
Susana no Museu de Artes e Ofícios


Vítor num esforço desesperado de identificação... com um bispo croata presumivelmente antigo
Museu de Artes e Ofícios


Nós, lá ao fundo no espelho... no Museu das Artes e Ofícios














Susana no Museu de Artes e Ofícios














Dialogando com as estátuas (Museu de Artes e Ofícios)


Almoçando no Museu das Artes e Ofícios (esplanada interior com fonte)

just honey, sugar, or ice cream



como se fosse um gelado
como se fosse um daqueles doces de açúcar
que tomávamos em miúdos
ficando sempre com a insatisfação
de ter acabado tão depressa

vamos-nos esgotando de cidade em cidade
de passo em passo, de quarto em quarto
de passeio em passeio, de cruzamento em cruzamento

atirando as mochilas para o chão
após mais uma caminhada, sempre cheios
de imensas coisas que queremos fazer e ver

de cama em cama, de comprimido em comprimido
de golo em golo vamos bebendo o copo grande
do nosso sangue partilhado e às vezes já coagulado

e olhamos para o olhar do outro desamparados
como se este caminho que nos aproxima nos afastasse
para um momento decisivo em que não haverá mais movimentos
nem planos, nem projectos, nem canseiras, nem nada para ver

oxalá seja um local limpo, ar ar livre, e o vento não nos tolha os braços, as mãos,
oxalá possamos abraçar-nos no mesmo movimento, sem ar que nos afaste

e nos possamos asfixiar ao mesmo tempo nesssa espécie de fusão,
olhando um para o outro com os olhos muito abertos
como se víssemos vir do céu um grande doce de açúcar
uma daquelas coisas brilhantes, enormes, coloridas, que nos arregalavam a vista
quando éramos miúdos

terminarmos como uma enorme obra de arte 
uma performance, uma instalação, todos derretidos e moldados
na mesma matéria de açúcar, de amêndoas doces, de chocolate branco
sem dramatismo e com a grande alegria de não termos mais mochilas para levar
nem checks-ins para fazer, livres finalmente desta grande trapalhada


Almoço em Zagreb 27 de Junho 09 após o trabalho feito!


Recompensa do judaico-cristão!

Zagreb: o merecido almoço depois do esforço (tarde do dia 27 de Junho)
























Recomendo fortemente para quem lá vá: fica na Praça Principal (a da estátua equestre) e chama-se Gradska Kavana - que nome para coisa tão boa! Éramos os únicos no ar condicionado e na boa música, longe dos turistas das ruas... foi o repouso do guerreiro! Estou farto de fast food! Trabalhador que ainda paga para trabalhar (não tivemos um chavo de apoios para ir a este importante Congresso representar o nosso país) merece, caramba !!!!!!!!!



Theorethical Archaeology Group Conference - Durham, December 2009 - our contribution



SESSIONS

TAG 2009: 17th-19th December




Archaeologists as contemporary critical thinkers



Organised by: Vitor O. Jorge (University of Porto,

vitor.oliveirajorge@gmail.com)


ABSTRACT 

 Right from the beginning of archaeology as a “science” during the 19th century, archaeologists, like any other social scientists at the time, tried to elaborate a “theory” of “man” and of “society”. Implicitly or explicitly, this “theory” was, and still is, meshed with “practice”. Theory and practice are combined in fieldwork, in the production archaeological texts (reports included) and the presentation of “results” to the general public. This session aims to think critically about archaeology in the modern world, paying particular attention to those debates and enquires that have preoccupied modern thinkers in the last decades. What are the contributions that archaeology has made to modern dialogue in the social sciences? If we want that the production and diffusion of our work have some effect beyond the purely academic world, how do we integrate it into a modern politics of knowledge? That is the challenge of this session, calling for papers that are situated in the interface of archaeology and a politics of knowledge, i.e., of a critical thinking and action.

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Archaeology and Poetry: Questions of translation



Organised by: Vitor O. Jorge (University of Porto,

vitor.oliveirajorge@gmail.com) 
and Daniela Kato (Tokyo Institute of Technology, ytd_kato@ybb.ne.jp)


ABSTRACT 

 Despite their different nature both archaeology (a social science) and poetry (an artistic expression) aim to productively translate one reality into another. Archaeologists translate remains or traces into a historical narrative re-presenting the “past” in the present. This has to do with collective memory and with a general ethos of modernity by which meaning is assigned and integrated into a total system of order. For their part poets translate feelings, thoughts and inner experiences into texts and/or performances that can re-present them at a general, public level of aesthetic enjoyment. Both archaeology and poetic activity select the elements that are incorporated into their discourse. Some elements are lost in translation, some others are re-presented or implied in a play of truth and simulation. In a world of global communication and of continuous translation, how do we preserve, recover and represent the specificity, and the local, contextual, personal meaning of a given reality? Can archaeology and poetry cross-fertilise in their different attempts at establishing a precarious “equilibrium” between identity and deferral, the local and the global, and truth and error? Can we consider these dialectics as the “motor” of an endless effort to make sense of something – and to attract the critical attention of others – in our planetary community?

An important book... and author!


"Engine, Not a Camera: How Financial Models Shape Markets"
By
Donald Mackenzie

Paperback: 392 pages
Publisher: The MIT Press (30 Sep 2008)
Language English
ISBN-10: 0262633671
ISBN-13: 978-0262633673

"In one lifetime modern finance theory has revolutionized the arts of canny investing. MacKenzie knows this exciting story, and he tells it well." - Paul A. Samuelson, MIT, Nobel Laureate in Economic Sciences (1970)"

Book Description
In "An Engine, Not a Camera", Donald MacKenzie argues that the emergence of modern economic theories of finance affected financial markets in fundamental ways. These new, Nobel Prize-winning theories, based on elegant mathematical models of markets, were not simply external analyses but intrinsic parts of economic processes.Paraphrasing Milton Friedman, MacKenzie says that economic models are an engine of inquiry rather than a camera to reproduce empirical facts. More than that, the emergence of an authoritative theory of financial markets altered those markets fundamentally.MacKenzie examines the role played by finance theory in the two most serious crises to hit the world's financial markets in recent years. He also looks at finance theory that is somewhat beyond the mainstream - chaos theorist Benoit Mandelbrot's model of "wild" randomness. MacKenzie's pioneering work in the social studies of finance will interest anyone who wants to understand how America's financial markets have grown into their current form.

About the Author
Donald MacKenzie is Professor of Sociology (Personal Chair) at the University of Edinburgh. His books include Inventing Accuracy (1990), Knowing Machines (1996), and Mechanizing Proof (2001) all published by the MIT Press.

Source: http://www.amazon.co.uk/Engine-Not-Camera-Financial-Technology/dp/0262633671/ref=sr_1_1?ie=UTF8&s=books&qid=1246287345&sr=1-1


See also: http://www.amazon.co.uk/Economists-Make-Markets-Performativity-Economics/dp/0691138494/ref=pd_rhf_shvl_1

(book: "Do Economists Make Markets?: On the Performativity of Economics", ed. by Mackenzie et al., 2008)

Croatian National Theater, Zagreb

















About this conference (MISPERFORMANCE) : http://www.psi15.com/content=21

About next year's conference (Toronto - PERFORMING PUBLICS): www.psi16.com



Images from PSI 15 (Performance Studies International) conference, in Zagreb, Croatia

The Faculty of Architecture of the University of Zagreb, where most of the events (sessions) took place.



Opening panel in the Youth Theater.
This was a huge conference, with many sessions and several shifts (performances). Next year PSI 16 will take place in Toronto, Canada (9-13 June 2010).

The prelude panel's table, with Jill Dollan, Janelle Reinelt, Richard Gough, Hans-Thies Lehmann, Patrice Pavis, Joseph Roach, Nicola Savarese. At the center, the two Croatian moderators: Lada Cale Feldman and Branislav Jakovljevic


Opening session (morning of 24th June, Zagreb Youth Theater): some of the experts in the table in front of a full auditorium). Joseph Roach (USA) speaking.


The four authors of this panel (Saturday 27, 12-14 h.) : Research, Organization, Technology and/as Artistic Performance 1. 
From left to right: Jon Mckenzie (Univ. of Wisconsin), Tiffany Wati-Smith (Univ. of London), Vítor O. Jorge (Univ. of Porto) and Kyle Gillette (Trinity University).


Vítor speaking




Vítor, Jon Mckenzie (Univ. of Wisconsin) and Tiffany Wati-Smith (Univ. of London). 
There was a tremendous heat in this room full of people of the 4th floor (stormy weather) of the Faculty of Architecture.

Photos: SOJ

Vol. 3 da revista "Arqueologia" (Junho 1981) já on line!






http://issuu.com/arqueologia/docs/arqueologia3






Obrigado, António!



domingo, 28 de junho de 2009

EU E A SUSANA CHEGÁMOS DA CROÁCIA !

Jardim de Zagreb, em frente ao Museu Arqueológico.


Correu tudo muito bem!

Em breve dou notícias.
Entretanto, amanhã recomeçam as escavações de Castanheiro do Vento, em Vila Nova de Foz Côa!




Zizek WILL THE CAT ABOVE THE PRECIPICE FALL DOWN?

WILL THE CAT ABOVE THE PRECIPICE FALL DOWN?

Slavoj Zizek

When an authoritarian regime approaches its final crisis, its dissolution as a rule follows two steps. Before its actual collapse, a mysterious rupture takes place: all of a sudden people know that the game is over, they are simply no longer afraid. It is not only that the regime loses its legitimacy, its exercise of power itself is perceived as an impotent panic reaction. We all know the classic scene from cartoons: the cat reaches a precipice, but it goes on walking, ignoring the fact that there is no ground under its feet; it starts to fall only when it looks down and notices the abyss. When it loses its authority, the regime is like a cat above the precipice: in order to fall, it only has to be reminded to look down…

In Shah of Shahs, a classic account of the Khomeini revolution, Ryszard Kapuscinski located the precise moment of this rupture: at a Tehran crossroad, a single demonstrator refused to budge when a policeman shouted at him to move, and the embarrassed policeman simply withdrew; in a couple of hours, all Tehran knew about this incident, and although there were street fights going on for weeks, everyone somehow knew the game is over. Is something similar going on now?

There are many versions of the events in Tehran. Some see in the protests the culmination of the pro-Western “reform movement” along the lines of the “orange” revolutions in Ukraine, Georgia, etc. – a secular reaction to the Khomeini revolution. They support the protests as the first step towards a new liberal-democratic secular Iran freed of Muslim fundamentalism. They are counteracted by skeptics who think that Ahmadinejad really won: he is the voice of the majority, while the support of Mousavi comes from the middle classes and their gilded youth. In short: let’s drop the illusions and face the fact that, in Ahmadinejad, Iran has a president it deserves. Then there are those who dismiss Mousavi as a member of the cleric establishment with merely cosmetic differences from Ahmadinejad: Mousavi also wants to continue the atomic energy program, he is against recognizing Israel, plus he enjoyed the full support of Khomeini as a prime minister in the years of the war with Iraq.

Finally, the saddest of them all are the Leftist supporters of Ahmadinejad: what is really at stake for them is Iranian independence. Ahmadinejad won because he stood up for the country’s independence, exposed elite corruption and used oil wealth to boost the incomes of the poor majority – this is, so we are told, the true Ahmadinejad beneath the Western-media image of a holocaust-denying fanatic. According to this view, what is effectively going on now in Iran is a repetition of the 1953 overthrow of Mossadegh – a West-financed coup against the legitimate president. This view not only ignores facts: the high electoral participation – up from the usual 55% to 85% - can only be explained as a protest vote. It also displays its blindness for a genuine demonstration of popular will, patronizingly assuming that, for the backward Iranians, Ahmadinejad is good enough - they are not yet sufficiently mature to be ruled by a secular Left.

Opposed as they are, all these versions read the Iranian protests along the axis of Islamic hardliners versus pro-Western liberal reformists, which is why they find it so difficult to locate Mousavi: is he a Western-backed reformer who wants more personal freedom and market economy, or a member of the cleric establishment whose eventual victory would not affect in any serious way the nature of the regime? Such extreme oscillations demonstrate that they all miss the true nature of the protests.

The green color adopted by the Mousavi supporters, the cries of “Allah akbar!” that resonate from the roofs of Tehran in the evening darkness, clearly indicate that they see their activity as the repetition of the 1979 Khomeini revolution, as the return to its roots, the undoing of the revolution’s later corruption. This return to the roots is not only programmatic; it concerns even more the mode of activity of the crowds: the emphatic unity of the people, their all-encompassing solidarity, creative self-organization, improvising of the ways to articulate protest, the unique mixture of spontaneity and discipline, like the ominous march of thousands in complete silence. We are dealing with a genuine popular uprising of the deceived partisans of the Khomeini revolution.

There are a couple of crucial consequences to be drawn from this insight. First, Ahmadinejad is not the hero of the Islamist poor, but a genuine corrupted Islamo-Fascist populist, a kind of Iranian Berlusconi whose mixture of clownish posturing and ruthless power politics is causing unease even among the majority of ayatollahs. His demagogic distributing of crumbs to the poor should not deceive us: behind him are not only organs of police repression and a very Westernized PR apparatus, but also a strong new rich class, the result of the regime’s corruption (Iran’s Revolutionary Guard is not a working class militia, but a mega-corporation, the strongest center of wealth in the country).

Second, one should draw a clear difference between the two main candidates opposed to Ahmadinejad, Mehdi Karroubi and Mousavi. Karroubi effectively is a reformist, basically proposing the Iranian version of identity politics, promising favors to all particular groups. Mousavi is something entirely different: his name stands for the genuine resuscitation of the popular dream which sustained the Khomeini revolution. Even if this dream was a utopia, one should recognize in it the genuine utopia of the revolution itself. What this means is that the 1979 Khomeini revolution cannot be reduced to a hard line Islamist takeover – it was much more. Now is the time to remember the incredible effervescence of the first year after the revolution, with the breath-taking explosion of political and social creativity, organizational experiments and debates among students and ordinary people. The very fact that this explosion had to be stifled demonstrates that the Khomeini revolution was an authentic political event, a momentary opening that unleashed unheard-of forces of social transformation, a moment in which “everything seemed possible.” What followed was a gradual closing through the take-over of political control by the Islam establishment. To put it in Freudian terms, today’s protest movement is the “return of the repressed” of the Khomeini revolution.

And, last but not least, what this means is that there is a genuine liberating potential in Islam – to find a “good” Islam, one doesn’t have to go back to the 10th century, we have it right here, in front of our eyes.

The future is uncertain – in all probability, those in power will contain the popular explosion, and the cat will not fall into the precipice, but regain ground. However, it will no longer be the same regime, but just one corrupted authoritarian rule among others. Whatever the outcome, it is vitally important to keep in mind that we are witnessing a great emancipatory event which doesn’t fit the frame of the struggle between pro-Western liberals and anti-Western fundamentalists. If our cynical pragmatism will make us lose the capacity to recognize this emancipatory dimension, then we in the West are effectively entering a post-democratic era, getting ready for our own Ahmadinejads. Italians already know his name: Berlusconi. Others are waiting in line.

Fonte: Support Iran

sábado, 27 de junho de 2009

Para-religião

Consegui renovar a internet por mais algum tempo. Continuando...

Um dos sintomas que me parece mais interessante dessa para-modernidade são as pequenas cabines chamadas de "cabines de meditação", que encontrei quer em Paris, quer em Sofia. Elas substituem os antigos locais de oração (conheci sobretudo capelas) que existiam nos aeroportos. Antigamente existia o local de oração de uma religião, hoje existe uma espécie de para-lugar, onde todos, independentemente do seu credo, se podem recolher e rezar (ou melhor, conforme é dito como apelido desses lugares: para meditar).
O aeroporto no seu todo é um para-lugar, mais do que um não-lugar. Nele se cruzam um conjunto de personagens, cada um assumindo um papel muito próprio. Ao divagar pelo aeroporto deparamo-nos com a encenação do surfista, do homem-de-negócios, do senhor, da senhora, enfim, uma miríade de personagens. Dentro do espaço do aeroporto e do avião parece haver um afinco na persona-lidade de cada um, muito por culpa da massificação destes espaços. Perante a multidão o Ego é um elemento em perigo. No aeroporto sabemos que podemos ser fácilmente ninguém (escrevo-vos sob o anonimato de um casual qualquer, semi-vagabundo, à entrada de uma casa-de-banho, local que me foi indicado para poder estar com o portátil ligado à electricidade). É também nestas situações que vejo emergir os perversos, aqueles que gozam com a implementação da lei (a chamada de atenção ao outro, o gozo na existência de uma norma, a interpelação da hospedeira, etc). E depois temos a chamada ao consumo, o bem de prestígio, o facto de identificação, aquele "je ne sais quois" que possa aportar satisfação. Tudo jogos de uma para-modernidade, em que o Ego é o peão em jogo.
Bom, está quase a soar a chamada do voo AF.... para Lisboa. É o meu toque a recolher. Lá vou eu para o meu lugar, para assumir não sei bem que papel.Não é muito diferente da interpelação diária para ser o assistente-professor, arqueólogo, encaixado num papel qualquer, para não invadir demasiado a área dos outros. É que isto dos papéis atribuídos é para ser levado mesmo a sério.
Onde começa a Para-noia? Onde começo Eu?

παρά-νοια

Se há algo que me afecta nestas viagens são as alergias. Geralmente em cada local onde passo (seja em escala, ou como destino final) tenho sempre um período de adaptação aos pólen, no qual espirro várias vezes. Por vezes surge também associada alguma tosse. Nada de grave, sendo bastante passageiro. Contudo, hoje em dia, quando se espirra ou tosse num avião, ou no aeroporto, é se de imediato alvo de um olhar reprovador. Não está muito longe do olhar que antigamente era lançado a quem usasse um chador, ou estivesse a ler algo escrito em árabe, ou simplesmente se tivesse um aspecto que aparentasse poder ser muçulmano (lembro-me de vários episódios de descriminação com sikhs). No aeroporto de Paris-Charles de Gaulle, há por toda a parte anúncios sobre a gripe H1N1. No voo de Paris-Sofia estavam dois passageiros com uma máscara e com tampões nos ouvidos. Não deixou de ser divertido ver como tiraram as máscaras para comer a salada fria, servida pela AirFrance (que era facilmente rejeitável, pois a quantidade era algo do tipo "petite cuisine").
Há algo de para-nous nesta questão da gripe, algo que está fora de, para além da compreensão e nesse sentido existe algo de delírio - uma delusão. Não se trata de algo ilusório, trata-se antes de uma extra-polação, de um tirar para fora, que com isso arrasta a pre-ocupação de muitos. Daí ao pre-conceito é um pulinho. É um sintoma característico do que me parece poder ser caracterizado como a para-modernidade.
Esta questão da gripe não está muito longe de outros movimentos do ego (do "self") que extra-polam vontades e medos. Essa para-noia avança desde o campo do desejo (somos educados a desejar) até ao campo do receio (somos a-visados dos perigos que nos rodeiam). Não é por isso de estranhar que a chamada pós-modernidade tenha assentado tanto na questão da identidade, do se deslocamento e da sua alteridade. O mundo de hoje insiste como nunca no Ego, sendo que nessa insistência nos aprecebemos da sua fragilidade.
A ex-posição (enquanto delusão) ao H1N1 é maior do que à exposição ao vírus, e isso não deixa de ser um fenomeno interessante.
Bom, o meu tempo de Internet gratuita está a terminar. Talvez volta mais tarde a este tema...

Ranciere - Aesthetic Separation, Aesthetic Community

Aesthetic Separation, Aesthetic Community: Scenes from the Aesthetic Regime of Art


"There are two ways of coping with the rupture. The first way opposes to the undecidable effect of the representational mediation a being together without mediation. Such was the conclusion of Rousseau’s Letter: the evil does not only lie in the content of the representation. It lies in its structure. It lies in the separation between the stage and the audience, between the performance of the bodies on the stage and the passivity of the spectators in the theatre. What must take the place of the mimetic mediation is the immediate ethical performance of a collective that ignores any separation between performing actors and passive spectators. What Rousseau opposes to the play of the hypocrite is the Greek civic festival where the city presents itself to itself, where it sings and dances its own unity. The model is not new. Plato had already opposed the ethical immediacy of the choros to the passivity and the lie of the theatre. Nevertheless it could pass on as the modern sense of anti-representation: the theatre turned into the ‘cathedral of the future’ without any separation between the stage and the audience; the living community, expressing in its attitudes the law of its being together."

...

"We purport to be far from such utopias. Our artists have learnt to use this form of hyper-theatre for the optimisation of the show rather than for the celebration of the revolutionary identity of art and life. But what remains vivid, both in their practice and in the criticism they undergo, is precisely the ‘critique of the spectacle’, the idea that art has to give us more than a spectacle, more than something dedicated to the delight of passive spectators, because it has to act in favour of a society where everybody should be active. The ‘critique of the spectacle’ often remains the alpha and the omega of the ‘politics of art’. What this identification discards is the investigation of a third term of efficiency that gets out of the dilemma of representational mediation and ethical immediacy. I assume that this ‘third term’ is aesthetic efficiency itself. Aesthetic efficiency means a paradoxical kind of efficiency that is produced by the very break of any determined link between cause and effect."

...

"The archaeology of the aesthetic regime of art is not a matter of romantic nostalgia. Instead I think that it can help us to set up in a more accurate way the issue of what art can be and can do today."

Daqui

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Plovdiv

Estes dias na Bulgária acabara, por ser como eu pensava, sem tempo para postar nada.
Diga-se também que não sou grande turista. Nunca trago câmara fotográfica (sou um very light traveler) e a do telemóvel tira umas fotos muito fraquinhas. Também não passeio muito. Hoje passei todo o dia no Hotel, ora em reuniões, ora a trabalhar. Ontem saí um pouco, porque o jantar era fora do Hotel, mas pouco vi. Passei pelas ruínas dum fórum romano, sendo que uma das grandes atracções da cidade é um teatro romano. O centro é engraçado, com uma rua pedonal, algumas esplanadas e algumas lojas. Depois do jantar, ao regressar a pé para o hotel (gosto sempre de dar um passeio nestas noites de Verão), vi uns tantos bares com bom aspecto. Não parei em nenhum, mas os sítios tinham uma decoração engraçada. Quase todos tinha uma esplanada em frente e dava o aspecto de serem agradáveis. Talvez mais tarde venha a postar algumas fotos, tiradas pelos outras pessoas do projecto (o meu touristic gaze é geralmente via outrem).
E o que é que aqui vim fazer? Bom... o projecto está quase no fim e em breve será lançado, por isso posso começar a tirar umas pontinhas do véu. O que estamos a produzir é um jogo de computador que é uma espécie de InterRail virtual. O ambiente é similar ao de um MMOG (como o World of Warcraft, ou o Second Life), sendo por isso um ambiente multi-utilizador. Neste momento a reconstrução mais avançada é a da cidade de Praga. Temos também Genova praticamente completa. De Portugal temos Mação, quer com a reconstrução da vila, quer do cenário do vale do Ocreza (com as suas gravuras). O jogo será lançado em inícios de Outubro, com uma grande apresentação a nível europeu.
Amanhã regresso a Portugal e na segunda avanço para mais uma campanha em Castanheiro do Vento. Espero que possamos regressar à prática dos vídeos, que desenvolvemos sobretudo em 2007. Como diz o meu amigo Pierluigi, com o seu pequeno sotaque: fazer coisas bonitas.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Destino Plovdiv (Bulgaria)

O Vitor estava confiante que eu pudesse postar algumas coisas nestes dias mas... neste momento estou a escrever desde Paris (do aeroporto). Estou em trânsito para a Bulgaria. O meu destino final é Plovdiv.
Vou tentar postar algo amanhã.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Ideais

Foto por Brigit Rosenberg

Esta foto é de um mural em Mação e foi tirada pela Brigit aquando do workshop Mutopia. Sendo a Brigit da Estónia, este tipo de murais ganha um contorno diferente. A esperança e a utopia da Revolução Comunista erodiu-se de grande parte da Europa com o fim do Bloco de Leste. Em muitos países vive-se num clima de "já não há ilusões". Isto leva a um cinismo muito próprio, que se desenvolveu mais em algumas partes da Europa.
Uns amigos meus eslovenos explicavam-me no outro dia o quadro político esloveno. Eu estava particularmente interessado em consegui compreender o partido Zares ("De verdade"). O Zizek tem ligações fortes com esse partido, que se designa como liberal. Ora, era justamente essa designação de liberal, que me confundia. Ainda para mais porque o partido nasceu de uma cisão entre do partido liberal-democrata esloveno. Como eles me explicaram, tratam-se de maravilhas do pós-comunismo. O liberal ali significa algo muito próximo do modo como o termo é utilizado nos E.U.A., ou seja, algo próximo do que em Portugal seria a esquerda. São valores liberais, no sentido de valores livres - a Liberté da Revolução Francesa. Não deixa de ser clara a ironia dos termos e o modo como se cruzam e se tocam. Ainda para mais porque essa liberdade parece ir ao sabor da pós-modernidade, que é o principal alvo de ataque do Zizek.
Note-se que no Parlamento Europeu, o Zares senta-se no centro, ao lado de partidos como os liberais-democratas britânicos. Isto apesar de partilhar propostas com o nosso Bloco de Esquerda (que tem sido um dos principais responsáveis por conseguir trazer o Zizek a Portugal).
O pós-comunismo tem destas coisas...

Post-post: Página do Grupo dos Liberais Democratas Europeus http://www.eldr.org/en/about-eldr/index.php

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Capitalism and Metaphysics, by Scott Lash (2006)





To download the text go here:




An interesting piece of thought!






Un auteur très important: Michel Callon

Paris, Seuil, 2001.


"Des cultures OGM aux prudents atermoiements des décideurs à propos des règles de recherche sur les cellules souches en passant par les mesures contre l'effet de serre : sur ces dossiers fondamentaux, comment nos dirigeants peuvent-ils prendre des décisions alors qu'ils sont plongés dans les incertitudes les plus profondes ? Comment le citoyen profane peut-il exprimer son avis dans un débat scientifique de haut niveau ? Trois sociologues tentent d'imaginer un regard démocratique sur la science et le progrès.



Michel Callon est professeur à l’Ecole des mines de Paris et chercheur au Centre de sociologie de l’innovation. Pierre Lascoumes, juriste et sociologue, est directeur de recherche au CNRS. Yannick Barthe est chercheur au Centre de sociologie de l’innovation."

Source: http://www.amazon.fr/Agir-dans-monde-incertain-démocratie/dp/202040432X/ref=sr_1_1?ie=UTF8&s=books&qid=1245676178&sr=1-1

Crucial book: the performativity of Economics

Do Economists Make Markets?: On the Performativity of Economics

ed. by


Donald MacKenzie, Fabian Muniesa &Lucia Siu


"Review

MacKenzie . . . skillfully describes the history of the financial derivatives market, claiming that the economists caused trader behavior to conform more closely to the model. . . . The volume is an excellent introduction to the debate over performativity and will appeal to a broad set of social scientists.
(W. J. Polley Choice )

A highly stimulating volume. . . . Many investors will be surprised to discover the breadth of intellectual interest in the markets they troll for profits.
(Martin S. Fridson Financial Analysts Journal )

For those who are already interested in the performativity of economics, this volume gathers some already familiar contributions, but will still constitute an obligatory point of passage. For those who, finally, are broadly interested in new ways to analyse the shaping of markets, this volume represents a challenging research programme worth taking seriously.
(Claes-Fredrick Helgesson Organization Studies )

The book should interest anyone studying the nuts and bolts of the workings of markets.
(James G. Devine Science & Society )

Review
This excellent collection gathers the very best work on the fascinating topic of performativity in economics. The book offers articulate presentations of a wide range of different views--not only pro and con, but various pros and cons. It is as important as it is likely to be controversial.
(Wade Hands, University of Puget Sound ) "

Hardcover: 392 pages
Publisher: Princeton University Press; illustrated edition edition (1 Jul 2007)
ISBN-10: 0691130167
ISBN-13: 978-0691130163

Source: http://www.amazon.co.uk/gp/product/0691130167/ref=sib_rdr_dp


The book includes a contribution by Michel Callon, the inventor of the theory of economic performativity

PSI International Zagreb

My paper here:
http://catalogue.psi15.com/733/performance-as-the-modern-ideology-of-capitalist-dynamics/


General information about the congress, here:
http://www.psi15.com/index.php?content=21

This congress is of extraordinary interest.
Look for instance at this link:
http://catalogue.psi15.com/1932/working-group-meeting-performance-and-philosophy/

domingo, 21 de junho de 2009

performance studies


"There is no object (or set of objects) called performance(s) the study of which performance studies takes as its purpose. Rather, there is an idea, performance, that serves as the paradigmatic standing point for any inquiry that occurs within the disciplinary realm. In principle, this paradigm can function as a lens through which to examine almost anything."


Philip Auslander
"Theory For Performance Studies: a Students Guide", London, Routledge, 2007, Introduction, pp. 2-3.

Probably with the dismiss of positivism the idea of a fixed object for each discipline had also the tendency to disappear: actually, each particular discipline (as archaeology, for instance) is a very open field, with no fixed borders, but having a certain tradition in the way it looks at the world and at the so called material things in particular. Our aim is ultimately to understand the human being, and that is why archaelogy (and many other traditional academic disciplines) is so interested in performance studies: because they amplify the scope of our viewing, which is critical to get rid of interpretations that are often inspired in a rigid or static reality. For us, archaeologists, it is very important to look for temporality and process in that reality. But that is not enough, because knowledge is not only improved through induction. We also need to discuss the theory of the human, of the human in action, the theory of performance and performancescapes.

That said, a question persists: is performance an adequate theoretical standpoint to look at human beings? Giving emphasis to movement and fluidity, as it is implicit in this approach, don't we take the risk of universalizing a very modern (or post-modern) vision of the human? Aren't we again projecting in the past a kind of mobility that is so typical of (and specific to) our age of globalization and fast moving, vanishing values and peoples?



Revista Arqueologia - vol. 7 também já digitalizado e on line...

... pelo meu amigo António da Silva Pereira.


Aqui:


http://issuu.com/arqueologia/docs/arqueologia7

sábado, 20 de junho de 2009

A recent book... already a classic!


Theory for Performance Studies: A Student's Guide
by
Philip Auslander



London, Routledge, 2007

Description
A concise handbook to the key connections between theatre and performance studies and critical theory since the 1960s.

From the Back Cover

Theory for Performance Studies: A Student's Guide is a clear and concise handbook to the key connections between performance studies and critical theory since the 1960s. Philip Auslander looks at the way the concept of performance has been engaged across a number of disciplines.
Beginning with four foundational figures – Freud, Marz, Nietzsche and Saussure – Auslander goes on to provide guided introductions to the major theoretical thinkers of the past century, from Althusser to Zizek. Each entry offers biographical, theoretical, and bibliographical information along with a discussion of each figure's relevance to theatre and performance studies and suggestions for future research. Brisk, thoughtful, and engaging, this is an essential first volume for anyone at work in theatre and performance studies today. Adapted from Theory for Religious Studies, by William E. Deal and Timothy K. Beal.

Authors studied in this introductory book:
Freud, Marx, Nietzche, Saussure, Althusser, Bakhtin, Barthes, Bataille, Baudrillard, Benjamin, Butler, Cixous, Deleuze/Guattari, Derrida, Foucault, Gadamer, Irigaray, Kristeva, Lacan, Lefebvre, Levinas, Lyotard, Merleau-Ponty, Said, Spivak. White, Williams, Zizek !

Source: http://www.amazon.co.uk/gp/product/0415974534/ref=olp_product_details?ie=UTF8&me=&seller=

Read the introduction here:
http://www.amazon.co.uk/gp/reader/0415974534/ref=sib_dp_bod_toc?ie=UTF8&p=S006#reader-page

A afectividade e os objectos




Recuperei hoje a minha Leica! 
O conserto custou-me caro, mas valeu a pena !!!!!!!!!!!
Espero que a maré de azares se inverta agora, 
que também já recuperei o computador de secretária 
(o anterior, kaput) !

Durante a próxima semana, os leitores deste blogue ficam, a partir de terça-feira 23 inclusive, entregues ao meu colaborador e amigo Gonçalo L. Velho, uma vez que me vou deslocar ao congresso a que já várias vezes fiz referência.



Momentos de Maio e Junho... fotos SOJ

Curso de Pensamento Crítico Contemporâneo, FLUP, Abril-Junho de 2009. Julgo que uma aposta ganha...




Dia em que o Lucindo morreu (6 de Junho) ... junto ao mar a tentar o impossível: espairecer logo após vir do veterinário ...