sábado, 17 de março de 2007

Sem a Amazónia estamos desgraçados

Fonte desta notícia, que transcrevo: http://tech.groups.yahoo.com/group/geografia-pt/

JC e-mail 3220, de 12 de Março de 2007.

Modelo do Inpe apresentado em simpósio no Rio prevê que colapso da floresta
deixará El Niño até 50% mais intenso

Conversão da selva tropical em cerrado é um dos efeitos previstos do aquecimento
global, e pode transformá-la de vítima em vilã do clima

Eduardo Gerarque escreve para a "Folha de SP":

A floresta amazônica não será apenas vítima do aquecimento global: ela também
pode virar uma de suas vilãs.

Um novo modelo meteorológico, apresentado ontem no RJ, mostra que a selva
tropical é uma espécie de controle remoto do oceano Pacífico. Impactada, ela
tende a desequilibrar todo o sistema climático daquela região.

"Os modelos que acoplam oceano, atmosfera e vegetação que nós rodamos mostram
que existe uma influência da floresta nas águas do Pacífico", disse à Folha o
meteorologista Paulo Nobre, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais).

Ele apresentou os resultados de seus estudos no 1º Simpósio Brasileiro de
Mudanças Ambientais Globais, organizado pela Academia Brasileira de Ciências,
pelo Inpe e pelo IGBP (Programa Internacional da Geosfera-Biosfera).

Na verdade, o que os computadores do Inpe estão calculando é que o problema não
é a floresta -e sim a falta dela.

No caso de uma "savanização" da região amazônica (o que pode ocorrer num cenário
de aquecimento global, segundo outros modelos do próprio Inpe, que levam em
conta as mudanças previstas pelo IPCC, o Painel Intergovernamental sobre
Mudança Climática), a intensidade do fenômeno El Niño, em algumas condições,
poderá aumentar em até 50%.

Pesquisa em família

O fenômeno da savanização é uma previsão já famosa de outro pesquisador do Inpe:
Carlos Afonso Nobre, 56, irmão mais velho de Paulo, 50, e Antônio, 47 (cientista
do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia).

Segundo essa teoria, o aquecimento global (e o desmatamento) podem converter
grande parte da floresta em uma vegetação semelhante ao cerrado, o que seria
uma tragédia para a biodiversidade, mas também para as chuvas que se formam por
causa da mata.

"A Amazônia ajuda na regulagem da atmosfera do Pacífico. Sem a floresta,
ocorrerá uma interferência nesse equilíbrio. O que conseguimos prever é que,
sem a Amazônia, haverá mais chuva naquela região", explica o pesquisador.

Normalmente, lembra Nobre, o Pacífico, próximo do litoral da América do Sul, já
sofre com o aquecimento anormal de suas águas, o fenômeno El Niño. Ele é um
ciclo natural, que ocorre em períodos menores que uma década.

Esse fenômeno ocorre quando os ventos alísios, que sopram de leste para o oeste
sobre o Pacífico, diminuem de intensidade ou mudam de direção.

Eles deixam de empurrar a água quente, que permanece próxima do litoral
sul-americano. Portanto, mais nuvens se formam por causa do calor que sai do
mar.

O El Niño é famoso por enlouquecer o clima em todo o planeta. Ele causa secas na
Amazônia e no Nordeste, e chuvas intensas sobre o litoral do Pacífico, do Peru à
Califórnia.

Por razões que os cientistas ainda não sabem explicar direito, a Amazônia ajuda
a controlar o calor que chega até a costa sul-americana, influindo, portanto,
no regime de ventos.

Fora de hora

A savanização da floresta tem o potencial de atrapalhar essa circulação: ela
aumenta o calor, enfraquecendo os ventos alísios, o que causa condições
parecidas com as do El Niño: a água superficial do Pacífico tropical fica mais
quente, já que não há ventos para empurrá-la para longe e deixar aflorar a água
fria trazida por correntes marítimas submarinas do sul do continente.

Isso pode aumentar a intensidade do fenômeno nos anos que ele acontece. Mas
também -e sobre isso os pesquisadores dizem ter apenas um palpite, por
enquanto- pode disparar um El Niño fora de época.

"Existe essa ligação remota identificada agora. E, como o Pacífico interfere
muito no clima como um todo, a partir de lá muitos processos poderão ser
alterados", disse o pesquisador.

Além da força do processo, ele também pode ser freqüente. "A ausência da
floresta, nesse caso, não vai ter conseqüências só daqui a cem anos. Ela vai
interagir com os ciclos interanuais do clima", atesta Nobre.

Para o meteorologista do Inpe, essa nova ligação climática protagonizada agora
pela Amazônia não deixa dúvida.

"A questão importante aqui é que mantendo a floresta em pé teremos a
possibilidade de manter o clima do planeta também". E, segundo ele, não existe
muitas outras opções.
(Folha de SP, 12/6)

3 comentários:

Luiza disse...

Isso tudo é uma loucura... quero dizer: o que podem e fazem com a Amazônia.
Menos mal que o Cerrado é lindo e impar.
Mas a beleza da savana brasileira (o Cerrado) nao justifica a açao do homem na destruiçao de outro bioma.

Pergunta: como seria a europa antes da destruiçao das florestas? como a falta destas florestas influenciou no clima? e nos mares?

João Soares disse...

Permita-me ventos de esperança:
Dossier Planificando a Sustentabilidade

http://bioterra.blogspot.com/2007/02/planificando-sustentabilidade.html

Um abraço e votos de bom fim de semana
Joao BioTerra

Vitor Oliveira Jorge disse...

Obrigado por ambos os comentários...