Transferência "(...) A PSICANÁLISE INVENTOU DE FACTO UMA NOVA FORMA DE AMOR CHAMADA TRANSFERÊNCIA." JACQUES-ALAIN MILLER (Lacan Dot Com)
sexta-feira, 9 de março de 2007
centauro
encaixas-te no meu eixo vertical
numa maquinaria
de êmbolos e de ampolas;
por um campo de ventosas ervas
começas a correr, no mesmo sítio,
toda dilatada,
como se saltasses
para um abismo só com o rosto,
deixando para trás o corpo,
os pés retesados,
num jeito de trampolim elástico.
animas-te num frenesim
de idas e vindas, de altos e baixos,
de expansões e de contracções.
qual de nós cavalga,
e qual de nós
é cavalgado,
só o centauro o saberia,
e mesmo esse
já se perdeu de olhos raiados
no horizonte do movimento cinético,
entre roupas, pregas,
cabelos, e vales,
de energias e sombras
inebriados.
as mãos agarram balões.
os dedos procuram abarcar
toda a textura.
as cores distinguem-se
na sua gama de tons.
abeiramos os limites in-decentes,
a chegada incondicional
à unidade.
uma cobra engole-se a si própria,
numa auto-degustação
que nega o tempo.
os óleos lubrificam redes fluviais
no seu movimento lesto
até às nascentes.
o céu estala.
preenchimento total,
fusão perfeita,
quando um raio horizontal
atravessa finalmente
a geometria
no seu mortífero espeto:
abrem-se para o dizer
as narinas negras,
suadas, peludas,
do centauro,
regressado
para o momento preciso
do delírio,
quando os cascos potentes
batem em uníssono
nas sonoridades ígneas,
nas atmosferas interiores
dos órgãos,
nas cascatas flâmeas
da agonia,
e por fim
nas paredes aéreas,
desvairadas,
do real:
todo presente,
nu, obsceno,
com suas patas
lançadas ao ar.
copyright voj 2007
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2 comentários:
não mais te voltarei a percorrer, célere:
o meu desejo é agora esse cavalo urgente
de coração fatigado
traído sobre as ervas.
Obrigado por este seu breve poema.
Estive a ver os seus blogs e fotos - interessante!
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