sábado, 24 de março de 2007

Infinitismo e filisteísmo - Peter Sloterdijk, um homem inteligente


Vejam a entrevista que este autor dá hoje ao "Expresso", caderno "Actual", conduzida por António Guerreiro.
Transcrevo apenas duas pequenas partes, remetendo para os livros dele (na Fenda e na Relógio d' Água) e para uma próxima vinda ao Porto (a Serralves):

"(...) depois do fim da II Guerra Mundial a totalidade do hemisfério ocidental transformou-se em laboratório do consumismo. É uma nova visão do mundo em que o objectivo da existência humana não se encontra já do lado da gestão política das nossas vidas mas numa visão completamente apolítica da existência, em que as preocupações políticas são delegadas em "expertocratas" que gerem as coisas por nós, de modo a realizarem o projecto de nos tornarmos os últimos homens. É esta a ideia profunda do consumismo."

....

"Nós somos todos doentes de infinitismo. O mito de Fausto, com origem no séc. XVI, na Alemanha, é uma projecção dessa nova biopolítica europeia, paralela à descoberta da economia mundial. Pela primeira vez, descobriu-se não apenas o infinito dos teólogos mas também um infinito antropológico, a infinitude das necessidades e da cobiça humana. E em vez da transcendência vertical temos a transcendência horizontal (...)."
...

"(...) depois da II Guerra Mundial o filisteísmo, o contentamento com as delícias da vida quotidiana, típico do pequeno-burguês, substituíu o infinitismo. Este já só existe nalguns radicais que desejam o impossível, tentam conservar a loucura do infinitismo. Os europeus mais cultivados guardam sempre a memória dessa era grandiosa da insatisfação essencial e têm vergonha de confessar que desde há muito tempo vivem no puro filisteísmo."

(pp. 19 e 20 do caderno "Actual" de 24.3.07)
Fonte da imagem:
http://en.wikipedia.org/wiki/Image:Sloterdijk.JPG

Sem comentários: