Aqui fica o link para uma interessante entrevista com o Slavoj Zizek sobre o conceito de violência:
http://www.softtargetsjournal.com/web/zizek.php
Pergunto-me se os portugueses não estarão a preparar ao seu modo, uma acção violenta nas próximas eleições legislativas. O modo como o cenário político está a mudar (porque penso que esse movimento deu antes os seus sinais nas eleições europeias) parece-me ser de algum modo algo que passa pela esfera da violência; uma efectiva mudança. Essa mudança poderá mesmo atingir o cenário partidário, dando origem a fracturas e convergências.
A questão fundamental a saber, será se efectivamente o movimento a que estamos a assistir se irá efectivamente consolidar, ou se pelo contrário será apenas um mero episódio de chamada de atenção (uma mera revolta). Dentro desta questão torna-se interessante verificar quais as possibilidades de mudança dentro de um quadro democrático (é interessante verificar o sintoma português da violência ser demonstrada através do voto).
Ao longo dos últimos anos o discurso capitalista ganhou espaço. No outro dia na SIC Notícias um comentador dos debates falava dos eleitores como o mercado deste ou daquele partido. É algo que muitos durante muito tempo aceitaram como normal, a par da ideia de que a campanha é uma operação de marketing e a política um produto e tudo é um negócio. Contudo foi interessante ver como aquelas palavras soavam já a estranho, a um outro tempo, algo que inclusivamente parecia deixar os outros comentadores embaraçados (um dos sintomas mais interessantes foi verificar como não comungaram da linguagem).
É justamente nesta diferença, na queda dessa linguagem, que penso que se joga o essencial destas eleições.
A actual crise abriu sérias brechas no discurso, ou seja, permitiu que por um momento, o coiote visse que não tinha já o chão debaixo dos pés (vide o post que coloquei com o texto do Zizek - no caso ele fala de um gato). O dia 27 de Setembro talvez seja o momento em que o coiote olha para nós, encolhe os ombros e se prepara para cair. É claro que irá dar luta. É óbvio que tentará ainda arranjar uns balões, ou inventar um para-quedas (mais ou menos dourado), mas não se escapa da exposição à vertigem.
As interpretações da noite de dia 27, todo o jogo de inscrição (que já começou por via das "análise aos debates") serão fundamentais enquanto sintoma do que se seguirá. Mas no entretanto, penso que será impossível não perceber a violência que terá sido a votação do dia 27 de Setembro (de notar a introdução do tempo verbal no futuro perfeito, o que em francês se designa como "futur anterieur").
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