segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Dificuldades de regime

Só graças a um túnel VPN é que consigo entrar no blog e postar As autoridades chineses bloqueiam o acesso ao Blogger, Facebook, Youtube... (verifiquei pelo menos estes).

Foi também graças a esse túnel que consegui seguir os resultados das eleições na última madrugada (madrugada na China, noite em Portugal).

Sobre esses resultados fica a satisfação de uma vitória da esquerda. Mantenho no entanto um optimismo reservado dado que não sei se não virá a acontecer uma coligação PS-CDS/PP. Em caso de existir essa coligação pergunto-me que tipo de governo será esse (poderá ser ele efectivamente de esquerda? terá então existido nesta eleição uma vitória da esquerda?).

Por último uma nota sobre a clubite partidária. É impressionante o peso que o futebol tem na sociedade portuguesa, a ponto de as eleições serem transformadas em metáforas futebolísticas nomeadamente na comunicação social. A juntar a isso temos os gritinhos das jotas ao estilo claque, as bandeirinhas e as buzinas, e toda uma parafernália que me faz perguntar se ontem à noite estávamos perante uma eleição ou uma final de campeonato. Não sei se o Vítor conseguiu tirar algumas fotos da festa socialista no Porto (se é que ela existiu), mas seria interessante de as comprar com aquelas do PortoxSporting do outro dia. No passado (quando houve este tipo ede festa nos Aliados) tenho quase a certeza que existiam pessoas em comum a uma e outra (e alguns outros que não tendo clube do coração, o substituem pelo partido, numa paixão tanto ou mais cega). Todo esse coração me leva a perguntar: será que existe efectivamente espaço para a política sem agape? Resultará essa agape sempre em banquete?

4 comentários:

Anónimo disse...

A única coisa maior que aconteceu nestas eleições- e já foi excelente- foi a perda de maioria absoluta de Sócrates. Agora vamos ver como é que ele dialoga. E também como é que os outros dialogam. Quanto à esquerda....já agora....que esquerda?

Gonçalo Leite Velho disse...

SjsVls os seus comentários são certeiros. Também eu me coloco essa pergunta: que esquerda? Mas não deixo de notar nela os seus perigos (a perda do referencial esquerda significa uma vitória da direita - implodir essa dicotomia foi sempre um objectivo do segundo destes termos).
Há algo no clima que se vive em Portugal que continuamente me relembra o "Ensaio sobre a Lucidez" do Saramago. Penso na própria possibilidade da democracia (aquele documentário "Century of the Self" é certeiro nas dúvidas que levante sobre esta matéria).
Estando na China não deixa de ser ainda mais interessante notar esta questão da dicotomia esquerda-direita e do conceito de democracia.

Anónimo disse...

Lucidez? Não era sobre a cegueira?....

O maior perigo para a esquerda é não questionar o devir da sua própria identidade. E não ter o rasgo, a coragem, de desarmadilhar, um a um, todos os que, em nome dessa abstracção conceptual, minam por dentro as possibilidades de regeneração da sua matriz radicalmente libertadora.

José Manuel disse...

Os resultados das eleições poderão abrir uma porta para o desbloqueamento do campo da esquerda. Com a escolha do PS pelas alianças e convergências preferenciais à direita, acentuado durante o mandato socrático,o campo da esquerda esteve bloqueado à necessária mudança para uma politica de esquerda. Nisto não é inocente o apoio que os principais ideólogos da direita (José Miguel Júdice, Proença de Carvalho, e outros têm dado ao socratismo). O reforço do campo da esquerda (+8 mandatos do BE e +1 mandato da CDU) e o esvaziamento o centrão abrem novas possibilidades de acção, que terá que ser continuada por uma convergência de acção da esquerda no plano social e político.