Só graças a um túnel VPN é que consigo entrar no blog e postar As autoridades chineses bloqueiam o acesso ao Blogger, Facebook, Youtube... (verifiquei pelo menos estes).
Foi também graças a esse túnel que consegui seguir os resultados das eleições na última madrugada (madrugada na China, noite em Portugal).
Sobre esses resultados fica a satisfação de uma vitória da esquerda. Mantenho no entanto um optimismo reservado dado que não sei se não virá a acontecer uma coligação PS-CDS/PP. Em caso de existir essa coligação pergunto-me que tipo de governo será esse (poderá ser ele efectivamente de esquerda? terá então existido nesta eleição uma vitória da esquerda?).
Por último uma nota sobre a clubite partidária. É impressionante o peso que o futebol tem na sociedade portuguesa, a ponto de as eleições serem transformadas em metáforas futebolísticas nomeadamente na comunicação social. A juntar a isso temos os gritinhos das jotas ao estilo claque, as bandeirinhas e as buzinas, e toda uma parafernália que me faz perguntar se ontem à noite estávamos perante uma eleição ou uma final de campeonato. Não sei se o Vítor conseguiu tirar algumas fotos da festa socialista no Porto (se é que ela existiu), mas seria interessante de as comprar com aquelas do PortoxSporting do outro dia. No passado (quando houve este tipo ede festa nos Aliados) tenho quase a certeza que existiam pessoas em comum a uma e outra (e alguns outros que não tendo clube do coração, o substituem pelo partido, numa paixão tanto ou mais cega). Todo esse coração me leva a perguntar: será que existe efectivamente espaço para a política sem agape? Resultará essa agape sempre em banquete?
4 comentários:
A única coisa maior que aconteceu nestas eleições- e já foi excelente- foi a perda de maioria absoluta de Sócrates. Agora vamos ver como é que ele dialoga. E também como é que os outros dialogam. Quanto à esquerda....já agora....que esquerda?
SjsVls os seus comentários são certeiros. Também eu me coloco essa pergunta: que esquerda? Mas não deixo de notar nela os seus perigos (a perda do referencial esquerda significa uma vitória da direita - implodir essa dicotomia foi sempre um objectivo do segundo destes termos).
Há algo no clima que se vive em Portugal que continuamente me relembra o "Ensaio sobre a Lucidez" do Saramago. Penso na própria possibilidade da democracia (aquele documentário "Century of the Self" é certeiro nas dúvidas que levante sobre esta matéria).
Estando na China não deixa de ser ainda mais interessante notar esta questão da dicotomia esquerda-direita e do conceito de democracia.
Lucidez? Não era sobre a cegueira?....
O maior perigo para a esquerda é não questionar o devir da sua própria identidade. E não ter o rasgo, a coragem, de desarmadilhar, um a um, todos os que, em nome dessa abstracção conceptual, minam por dentro as possibilidades de regeneração da sua matriz radicalmente libertadora.
Os resultados das eleições poderão abrir uma porta para o desbloqueamento do campo da esquerda. Com a escolha do PS pelas alianças e convergências preferenciais à direita, acentuado durante o mandato socrático,o campo da esquerda esteve bloqueado à necessária mudança para uma politica de esquerda. Nisto não é inocente o apoio que os principais ideólogos da direita (José Miguel Júdice, Proença de Carvalho, e outros têm dado ao socratismo). O reforço do campo da esquerda (+8 mandatos do BE e +1 mandato da CDU) e o esvaziamento o centrão abrem novas possibilidades de acção, que terá que ser continuada por uma convergência de acção da esquerda no plano social e político.
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