quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Saíu publicada a tese de mestrado do André Tomás Santos, um excelente arqueólogo e amigo





"Uma Abordagem Hermenêutica — Fenomenológica à Arte Rupestre da Beira Alta:
o caso do Fial (Tondela, Viseu)

por André Tomás Santos


Resumo
Este trabalho corresponde ao estudo monográfico da estação de arte rupestre do Fial (Tondela, Viseu). Trata-se de uma estação onde se identificaram 79 rochas historiadas, distribuídas por cinco núcleos. Os quatro últimos núcleos mantém entre si relações de intervisibilidade. Entre o primeiro e o segundo núcleo localiza-se um monumento megalítico de grandes dimensões, que é visível a partir de qualquer um deles. Como se discutirá no local apropriado, consideramos que a fase mais antiga de gravação da estação é datável de um período compreendido entre os finais do IV e os inícios do III milénio AC. Para além desta fase, que é a mais bem representada na estação, foi ainda possível inferir-se uma segunda fase, datada do Bronze Final, e uma terceira, de cronologia já plenamente histórica.
Os objectivos últimos do nosso trabalho foram dois: contribuir para uma melhor compreensão da arte rupestre da Beira Alta; compreender a relevância do sítio no contexto dos períodos pré-históricos coevos da sua gravação.
Estes objectivos, em particular o segundo, condicionaram a abordagem adoptada no estudo do sítio arqueológico. Esta foi hermenêutica, porque se entendeu a estação como um tipo de sítio passível de ser lido como um texto, e fenomenológica, porque se considerou que as relações que se vão estabelecendo entre o nosso corpo, a estação e o contexto em volta são elas próprias fontes em si. Fenomenológica e também hermenêutica porque, no seguimento de Heidegger, entendemos o(s) Mundo(s) como sistemas de inteligibilidade (como o é a linguagem) onde se encontra lançado o Ser.
Estes factores condicionaram a própria estrutura da nossa investigação.
O trabalho começa por se debruçar sobre os estudos prévios em torno da arte rupestre da Beira Alta. Seguidamente são aprofundadas as questões teóricas subjacentes à nossa abordagem. Um apartado relativo à metodologia utilizada no estudo da estação fecha a primeira parte do nosso texto. Na segunda parte são descritos o contexto geográfico e cultural em que a estação se insere, as estações pré-históricas da região, o sítio e as rochas decoradas; em seguida é discutida a cronologia da estação. Na terceira parte do trabalho começamos por dissecar a estrutura subjacente à organização do sítio, estrutura essa que subsequentemente procuramos entender no contexto da região durante os períodos em que a estação foi gravada. Na quarta parte começamos por discutir em que medida o estudo da estação contribuiu para uma nova visão sobre a arte rupestre da Beira Alta; em seguida, procuramos avaliar a relevância do Fial no contexto dos períodos pré-históricos em que foi gravado.
As conclusões advindas do estudo da estação, cruzadas com os dados provenientes de outros sítios, permitiram-nos propor uma diacronia para a arte rupestre da Beira Alta, tendo-se identificado quatro grandes fases em que a gravação de rochas terá correspondido a um fenómeno generalizado: uma primeira fase, localizada entre os finais do IV e os inícios do III milénio AC; uma segunda, datada dos finais do III milénio AC; uma terceira, situável na Proto-história Antiga; e uma quarta fase, a que podemos atribuir uma cronologia da II Idade do Ferro.
Considerámos o Fial como um sítio ligado a cultos iniciáticos, próprio de comunidades em que a progressiva divisão social do trabalho terá obrigado a um incremento das práticas cerimoniais que definem as identidades dos elementos que compõem os grupos. A regravação da estação no Bronze Final terá que ver com a apropriação, através da gravação de motivos como os podomorfos, de espaços mais antigos carregados de simbolismo pelas elites coevas. "

Fonte: Archport

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