terça-feira, 29 de setembro de 2009

vermelho sobre verde




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For Kim




Há dias em que a natureza
Se abre em leque, muito alta,
E nos envolve, e envolve e enrola
A face de verde, e toda a criação

Grita.

Grita este próprio som em espiral
Do alaúde sobre o pescoço,
Sobre os olhos, sobre os lábios
Entre a folhagem sugerindo o brilho

Vermelho.

Por onde se enrolam os ramos,
Os caules, a memória de um verão
Que jamais houve...fantasias sugeridas
Pelo tacto das folhas, por esse modo

Segredado.

Pode haver pássaros, e flores, e rios
Correndo. Mas o que prepondera
É a forma como a linha vem do nariz
Aos lábios, essa carícia lenta,

Lenta.

Para onde o olhar se dirige,
Esse eterno desconhecido, essa sombra
Da imagem, essa epiderme e o seu tacto
Jamais sentido: tudo quanto grita forte

Quando o vermelho aparece
Por entre o verde,
Essa fulguração, essa violenta
E no entanto tão silenciosa e atemporal

Junção de cores.

Tacto de folhas, irritação dos dedos
Sobre as suas nervuras.
Intumescência de todos os caules, da natureza,
Na máxima beleza da sua própria

Aparição.

E o verão que não houve aloja-se
Nas narinas, na sua textura delicada,
À espera de uma floração futura,
À sombra da árvore enorme da promessa.

Quando os frutos amadurecerem
Contra o negrume dos troncos, e um dedo
Atravessar a estação que vai da testa
Aos lábios, essa queda lenta, lenta, esse

Fluido.







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Foto: Kim Rice
Fonte: http://www.facebook.com/reqs.php#/album.php?aid=-3&id=705146484
texto voj porto set. 2009, porto

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