quinta-feira, 24 de setembro de 2009

impudica






Não te quero a ti
Quero apenas ver a tua imagem
Impudica.

Não quero apenas uma imagem
De ti, mas uma sucessão
Que eu possa suspender com um clique.

Um shot. Apanhar o teu corpo
No momento preciso - como um disparo.
Quero a foto da tua nudez escolhida por mim.

Pode ser assim, com o peito e as mãos
Encostadas à parede, e o pé direito
Ligeiramente erguido, a acentuar o lombo

Como se fosses um cavalo em pé.
Pode ser assim, esse contraste de cores,
Essa tensão, teasing me nesse desequilíbrio.

Pode ser assim, com se fosses uma jibóia
Em pé: inteiramente abraçada pela luz.
Entregando-te à luz como uma coluna impudica,
Como um cavalo em pé numa praça, contra uma parede.

Quero ouvir o clique, quando pressionar o botão
E te fixar assim, para te ver até me cansar,
Escrutinar-te o corpo todo, a paleta de cores
Que te frisa os contornos. Os tornozelos. Os joelhos.
Os cotovelos. As espáduas. O relevo fabuloso das nádegas!

Isso quero, quero-te totalmente parada, enquanto escrevo,
Enquanto deixo a música invadir-me o cérebro,
Desejo puro, culto puro da tua imagem impudica.

Tu sabes que encostando-te assim a uma parede
E dando as costas ao que possa acercar-se por detrás
Em volta de ti toda a luz abraçando-te de forma
Tão in-decente, you know you are teasing me hard.

É assim que te quero, de shot em shot, é assim
Que te possuo, que me és totalmente disponível,
É assim que estou no comando dos botões.

Mando erguer o cavalo. Mando a jibóia levantar-se na parede.
Ergo a palavra palmada e dou-te com ela impudicamente
No rabo, e um frenesim atravessa-me enquanto tremes. É isso.

Poder imaginar esta sucessão de tiros.
Este atravessamento de ecografia. Este amor tecnológico.
Foi sempre isso que ambicionei, uma nudez,
Mas tua. E fotografada. Para te abraçar com tempo, a gosto.
Como num jogo prolongado por uma estação sem fim.

Essa expressão impudica, esses lábios, esse rosto
Que me alvoroça, verso a verso, estrofe a estrofe,
Até os lábios da poesia ficarem cada vez mais inchados,
Mais vermelhos, e algo partir de mim sem que eu controle,
Num misto de dor e prazer, uma coisa prolongada
No tempo, um silvo ou sulco ou jacto que se estira, que se enrola
Por esse teu corpo todo, que macula de sangue e leite
A tua cor rosada e nua, tão impudicamente esticada.




voj wadi rum/jordânia e porto set. 2009

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