a minha língua percorreu-te
de alto a baixo, com a lentidão, finalmente,
de quem escapou a qualquer chamamento.
abanaram as cortinas. subiram globos.
partiram de um varão para o outro as sombras negras
dos pássaros que habitam as alcovas subterrâneas.
a minha língua percorreu-te como um lagarto
que se arrasta há séculos sobre a rocha eterna,
sob um verão parado no meio do seu clarão enorme.
é,aproximei-me da tua cintura nua, nua, como quem
abraça o nervo central de um corpo,
comecei-te pelo meio e subi e desci: tão lento...
e cada verso foi um trajecto de saliva, um suspiro
de papilas tacteando o seu caminho, embriagadas
pela tua seda, pelo teu incenso, pela tua mirra.
oh, o vermelhão vivo da tua mirra!
deixou vermelhos os meus lábios, mas também todas as restantes
pontas,num fogo de extremidades, atiradas contra
o fulvo fim de tarde, o fogo avermelhando
a terra toda, correndo horizontalmente sobre as superfícies de seda
do teu corpo, cuja nudez mais íntima tive por vezes a sensação de [captar:
essa perda de toda a vergonha, essa embriaguês das pernas
voltejando doidas, descrevendo linhas no crepúsculo, luzes,
riscos vermelhos nos meus olhos revirados de prazer.
amar, é fazer brotar a mirra
do mármore de uma cintura.
o vermelho do branco: esse jorro fantástico,
libertação, alívio de perfumes.
voj set. 2009 porto
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