segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Só aí




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Só aí




Com a disponibilidade dos frutos dentro de uma taça
Com o seu brilho, as suas cores tão diferentes
Reflectindo a luz lá de fora,

Com o volume de uma taça redonda, com a sua
Disponibilidade aberta, o seu brilho,
Estendes a carpete de lã do sul, e sobre ela

A tua adolescência já tão hábil na sua esbeltez,
Na sua desenvoltura, na tua nudez algo menina,
E pedes-me qualquer coisa de maravilhoso sem dizeres nada.

Progressivamente invadido pelo odor intenso
Da sala, lembro-me de que trouxe a minha guitarra
E começo a dedilhá-la acentuando as notas baixas.

Toco-te a minha vida toda, conto-te as cores, os odores,
O tacto e o paladar de uma existência. Falo-te dos países,
Das terras extensas, das especiarias de cada uma.

Sei que o meu som progressivamente te acaricia,
Te aumenta a expectativa, e trocas a posição das pernas,
E pões-te mais à vontade sobre o tapete.

Falo-te do Oriente, embora veja que não sabes inglês
E que para te conhecer te tenho de cheirar, em cada vale,
Cada colina, cada desfiladeiro, cada cor que guardas

Ciosamente, enquanto me sorris e me invades com o teu
Olhar, e dizes não dizendo nada que os frutos estão prontos,
Que não me deixas sair daqui sem me contares tudo, tudo.

Isto deve ser Damasco, só nessa cidade, ouvi dizer,
As cortinas abanam assim no silêncio das tardes,
Só nessa cidade as raparigas soltam os seus sons e cores

Com um tal fervor, só aí o gemido final tem este tom
De silvo vermelho, atravessando ao meio as estranhas
Afogueadas, só aí se morde assim os frutos como um ser
Vindo da montanha, ávido deste sumo vermelho fresco.




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Foto Pascal Renoux
site: http://www.pascalrenoux.com/Nudes.html
texto:
voj porto set. 2009

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