sábado, 5 de setembro de 2009

o poeta


Um poeta deve apresentar-se com os pés nus diante de Deus.

Quem é Ele, esse Deus?

O Grande Nada, o Grande Tudo.

Aquele abismo de que o poeta necessita para perante ele poder cantar.

Cantar o quê?

O seu Espanto Absoluto perante o que Existe e o que Inexiste.

O poeta, quando se aproxima do abismo absoluto, tem de levar nas mãos as cores do incenso e da mirra: ele é o mais nobre e puro dos homens, o que se debruça sozinho.

O poeta canta a impossibilidade de cantar, o ruído que vem do fundo do silêncio.

O poeta canta para um Deus que inexiste na sua existência, ou, se se quiser, que existe na sua inalcançável inexistência.

Aqueles que dizem que o conhecem e que falam com Ele ou em nome d' Ele pronunciam apenas blasfémias: são o símbolo do orgulho, da suprema sobranceria. O Desconhecido, o Nada, jamais se dará a conhecer.

O poeta aproxima-se do Abismo com os instrumentos artesanais da sua sublime impotência.



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Foto acima: palmeiral nas imediações do Mar Morto, Jordânia.
Foto de voj 3.9.09

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