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O exercício mais difícil
Para quem escreveu,
Não pinta, não fotografa
Não canta uma canção,
E não usa mais palavras
Só se deita na praia
Exactamente onde a linha d’água
Fere um sulco entre a terra e o mar
E vê. O movimento em si mesmo
A passar constantemente
Aperta os lábios
Sobre esse intertício
Segura ainda algumas sílabas,
Uma lâmina entre os dentes
No exacto sulco, na nítida fenda
Entre a terra e o mar
E nessa obstinação
Sente-se a revirar o universo
Com o mínimo de
Instrumentos.
A arte apenas de ver
As coisas aflorarem
Sobrenaturalmente
Na sua incrível agitação.
Esta a economia
Dos limiares.
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Imagens: Michele del Campo
(rep. aut.)
site: http://www.micheledelcampo.com/index2.html
texto: voj porto fev. 2009
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