domingo, 22 de fevereiro de 2009

sem mais nada



O exercício mais difícil
Para quem escreveu,

Não pinta, não fotografa
Não canta uma canção,

E não usa mais palavras

Só se deita na praia
Exactamente onde a linha d’água
Fere um sulco entre a terra e o mar

E vê. O movimento em si mesmo
A passar constantemente

Aperta os lábios
Sobre esse intertício

Segura ainda algumas sílabas,
Uma lâmina entre os dentes

No exacto sulco, na nítida fenda
Entre a terra e o mar

E nessa obstinação

Sente-se a revirar o universo

Com o mínimo de
Instrumentos.

A arte apenas de ver

As coisas aflorarem

Sobrenaturalmente

Na sua incrível agitação.

Esta a economia
Dos limiares.








_______________
Imagens: Michele del Campo
(rep. aut.)
site: http://www.micheledelcampo.com/index2.html
texto: voj porto fev. 2009

Sem comentários: