terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Os botões dos robots

Já repararam esta coisa elementar que é a maior parte das pessoas funcionarem como robots?
Por exemplo, ao longo do ano:
Carnaval - toca o botão da folia e as pessoas armam-se em foliões
Páscoa - toca o botão e as pessoas armam-se para a Páscoa (de tantas maneiras que não dá para listar)
verão - toca o botão e lá vão os robots para a praia ou para as viagens
outono - toca o botão da "rentrée"
natal - toca o botão e fica tudo piedoso e amigo do seu amigo, a enviar boas-festas
ano novo - logo a seguir, novos desejos dos robots para outros robots
etc.
para além dos dias de anos, dos dias dos namorados, dos dias das colectividades, dos aniversários e comemorações disto e daquilo, a vida é só rituais.
Ainda falam de rituais na pré-história e nas sociedades lamentavelmente ditas primitivas.
Rituais é hoje. Primitivos é aqui e agora. Somos todos.
Toca a preparar as roupas de primavera e já as de verão, vão mudar as imagens.
Andem, robots. Façam funcionar o mercado, que a crise é grande...
Tudo a marchar prás lojas com os cartões de crédito!
Tudo a marcar viagens low cost para aproveitar todas as escapadelazinhas.
Tudo a comprar calendários perpétuos para combinar consigo mesmo para onde há-de escapar e quando e como e com quem. Mercado aberto.
É o fartar, vilanagem!
Abanem esses corpos, foliões e folionas!


2 comentários:

Unknown disse...

Ainda só não descobri como fugir ao Natal...

Carlos Vinagre disse...

É verdade. Vamos tentando afirmar a nossa individualidade, a nossa liberdade, mas seguimos as marés, grande parte das vezes sem consciência do que estamos a fazer ou a comemorar. Que interessa é que há uma evasão, um motivo para festejar, para nos libertarmos e cometermos exageremos, fugirmos da rotina que nos maça. Mas no fundo, estamos a sair de um rotina e a entrar noutra rotina. Continuamos na rotina, a rotina da festa, da evasão. E acabando isso, estamos prontinhos, ou não, para voltar com mais energia para o trabalho, para as coisas ditas "chatas". Outro aspecto, tudo com muita pressa, o mais depressa possível, tudo e absorver o mais possível da vida, num medo que não tenhamos a possibilidade de viver outros intensos momentos. Aliás, são os momentos mais calmos, os mais intensos. Na agitação acabamos por passar o tempo sem termos noção do que estamos a viver, sem consciência, num ápice.