domingo, 22 de fevereiro de 2009

a salvação do artista


o filósofo, o cientista, e qualquer outro
que vem a este mundo e nele deixa algo
de fabricado por si

(não é um filho, não é uma árvore,
não é necessariamente um livro)

algo que valha a pena erguer três vezes
contra o peso do ar

esse bem-aventurado aproxima-se
nesse momento
da sublimidade do artista

e pode com desportivismo
convidar um dos vários deuses
que a humanidade inventou
para uma partida de xadrês

beleza enorme, suprema beleza
é a do artista que perante as figuras
caricatas do quotidiano
preocupadas com a sua imagem

ergue três vezes contra o ar
o que fabricou com as suas próprias mãos

sem amor, sem amizade, sem amparo
de qualquer espécie, sem comoção ou companhia

como um cabo que se adentra pelo mar
a sua face irradia e encandeia
as próprias artimanhas dos deuses
com uma luz que vem desse horizonte

onde os dois oceanos se encontram
o do mar e o do céu,

numa mistura de azuis


que envergonha o miserável pequeno poder
dos políticos e dos poderosos,
detentores do ridículo por excelência!



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