terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Muitas pessoas, ao longo da vida ...



... me disseram coisas agradáveis, me prometeram coisas, me procuraram por isto ou por aquilo, me quiseram levar por este ou por aquele caminho... 
como aconteceu com qualquer um de nós, na sua grande parte, desejavam sempre algo que imaginavam eu ter, que mesmo inconscientemente queriam também possuir. queriam violar a minha vida, privacidade, aquilo que era (imaginavam) mais precioso para mim... quando não queriam armar-me ciladas... desde a escola, os miúdos que me atiravam pedras porque eu era um bom aluno... é claro que tive de aprender a atirar pedras também.
muitas pessoas não perceberam que fundamentalmente sou uma pessoa muito simples, apenas com a ambição "intelectual" de me realizar como um "autor", e, evidentemente, de viver numa companhia agradável, com alguém de que não sou proprietário, mas a que sou sempre em última análise fiel...
Embora a fidelidade seja um teste diário, um enigma diário: coisa frágil, e por isso algo que vale a pena ver perdurar, auscultar até onde perdura...
quem não percebeu isto, mesmo nos momentos em que errei, em que me excedi, em que cometi (como toda a gente) desvarios, não percebeu nada do que eu julgo ser.
mas como todo o discurso "auto-retratante" não passa de uma ficção, as palavras acima não são mais do que isso: declarações banais, que escamoteiam a complexidade do ser humano e a sua impossibilidade de se re-tratar. Não acredito na confissão. Sobre a amizade, sobre o amor, remeto para J. Derrida, que sobre isso disse tudo, ou quase.
Os dias, as semanas, as estações, com as suas desilusões sucessivas, espartilhadas por pessoas e momentos, vão-nos convencendo da improbilidade incrível desse limiar, o da amizade, para o qual deixamos sempre uma porta ligeiramente entre-aberta, ou para essa figura espantosa que interromperia as convicções, os hábitos, as cumplicidades anteriores, de toda uma vida. Essa figura enigmática está sempre a bater à porta, engalanada como a célebre imagem da noiva de Max Ernst (quadro em cima, à esquerda). Só existe na fantasia, mas é o motor indispensável para que tudo possa continuar. Suportando a insustentável insistência das pessoas que nos procuram só para pedir coisas, só para tentarem fazer a transfusão do sangue que julgam que temos e que por direito lhes pertence...


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