domingo, 8 de fevereiro de 2009

apagamento


certos fins de tarde
a vida fica reduzida a uns laivos
sobre os quais pende a observação atenta
de todo o resto do céu.

todo o resto pendido, pendente,
do que há para viver ainda,
esta lua que se acende na garganta.

laivos de côr; tintas espalhadas
pelo acaso na grande tela da tarde,
fixadas para sempre na retina.

e para quê? o corpo não pode aquietar-se,
precisa de usos e movimentos,
e este fim de tarde, como qualquer outro,
vem como um cachecol ambíguo.

amarra-se à garganta; deixa pendurada
a expectativa da vida ainda por viver,
num atabafo que por um lado anseia
a consecução, o balanço, o fim;

mas por outro, pede ainda mais um momento
para se deixar estirar pelo fim da tarde,
para estender as pernas até ao fim do dia,
para tudo ser mais natural.

deixar estas luzes, deixar esta lua,
mergulhar lentamente no Outro Lado
como quem passa simplesmente do dia à noite;

vendo o céu cada vez mais azul,
os laivos que o dia deixou sobre ele
cada vez mais vermelhos,
até se esgotar tudo...



texto e foto: voj, porto, fev. 2009

2 comentários:

Anónimo disse...

Gostava de ler tb poemas de outros autores.

Vitor Oliveira Jorge disse...

Isso há em milhares de sites... e não se pode transcrever sem pedir autorização, na maior parte dos casos... de qualquer modo, cada blogue tem o seu estilo, este já tem publicado poemas de outros autores, mas não pretende ser uma antologia.
Fazer um blogue retirando fotos daqui, textos dali, é interessante (escolher é um trabalho autoral, claro), mas se for trabalho original, é melhor, não?...
Perigo dos blogues: multiplicarem ao infinito o ruído que anda por aí. Talvez um blogue branco para ficarmos a meditar no seu aspecto leitoso...