quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

elite, elitismo, etc.

Sou contra todas as elites naturais, de sangue, herdadas, familiares, sejam elas nobres ou burguesas, reclamem-se elas de que ideologia se reclamarem.
De boas intenções está o inferno cheio. De apóstolos abnegados estamos fartos. Os que não desejam nada desejam tudo, os que abnegam são os mais ambiciosos e malévolos, muitas vezes.

Sou a favor da ideia utópica (utópica activa) de que todo o ser humano devia poder aceder ao estado de elite.
Elite é o produto de muito trabalho e de muita sorte.
Elite nada tem a ver com espectáculo, fama, dinheiro ou aparecer nos media.
Elite é um estado educado e culto.
Todos os seres humanos só são humanos quando atingem este estado, também uma utopia, mas uma utopia activa, quer dizer, resistente em relação ao status quo.
Dizer isto pode ser bonito se não se fizer nada. Se não houver esforço dia a dia, esforço que é um prazer danado, porque toda a gente gosta de entrar na elite.

Elite não é elitismo.
Elitismo é o que defende um status só para alguns. Esse gente é abominável.
A elite é de todo o povo, quer dizer, um direito universal, uma condição de humanidade.

Depois de realizadas todas as chamadas impropriamente necessidades básicas, de sobrevivência, começa a verdadeira aposta: querer entrar na elite.
Não se trata de comprar bilhete, nem de continuar uma tradição familiar elitista. Não!
Trata-se de a conquistar a pulso, sempre em diálogo e colaboração aberta com os outros.

Elite, ou morte, morte em vida, triste figura, arrastar miserável da existência.

Elite para todos, para pelo menos o maior número de seres humanos possivel.

Viva o espírito republicano, viva o direito dos povos, viva a união de todos os que são explorados e oprimidos, de todos os que estendem uma mão.
Que desapareçam mais cedo ou mais tarde de morte natural os privilegiados, os monárquicos, os mafiosos, os gangs de toda a espécie que sanguessugam este mundo presente.
Que o capitalismo dê lugar a um outro sistema ainda sem nome, e onde o princípio não seja uns explorarem o trabalho dos outros, nem o Estado a brincar connosco todos, fazendo de nós bobos de um democracia puramente formal.

Que haja futuro, que haja razão para o riso das crianças e dos jovens, que haja velhos activos a servirem a comunidade e assim a sentirem-se mais felizes, em vez de se sentirem tristes, desamparados, empecilhos.

Que não triunfem os chicos espertos e os tecnocratas de toda a ordem, camaleões magníficos, reciclados de toda a espécie, homens e mulheres-cápsula sem escrúpulos nem densidade, os invejosos, os frustrados, os neuróticos crónicos.
Que não triunfe a beleza standard, mas sim que prolifere a beleza inesperada, espantosa, arborescente.

Esse o espírito com que entro em 2009.
Não se queixem, não se isolem, não se demitam, não se percam com questiúnculas pessoais e ridículas vaidades. Não desbaratem o tempo. Sigam a vossa convicção, a vossa vocação, o vosso prazer. Não liguem às críticas, a não ser aquelas que considerem pertinentes. Desconfiem dos gurus, dos maîtres à penser, de todas as formas de poder instituído ou difuso. Riam-se.
Não tenham medo dos discursos morais. O ser humano é um ser moral.
Façam. Não esperem ajuda. Concretizem, puxa!
Façamos todos juntos, que ganhamos todos.
Com os nossos meios, sem esperar nada.



17 comentários:

Ana Paula Fitas disse...

Feliz 2009!... e obrigado pelo Manifesto com que podemos, identificando-nos com este texto, entrar, partilhadamente, no novo ano!
Um grande, grande abraço amigo

Vitor Oliveira Jorge disse...

Igualmente para si. Bons feitos,são os meus votos... e bem sabemos como eles implicam uma luta diária, o não nos deixarmos arrastar nas pequenas coisas. O povo diz: nas pequenas coisas é que está o ganho. E eu diria: nas pequenas coisas está a ideologia que nos manipula e nos sufoca. O complot a que nós próprios pertencemos, alegremente tantas vezes, feitos cabeças tontas...

Carlos Vinagre disse...

Muito bonito e inspirador o seu texto.

"...fazendo de nós bobos de uma democracia puramente formal."

Grande frase. Acho que é o que sente grande parte dos cidadãos, um pouco tristemente...

Os executivos só têm uma visão insrumental, grande parte das vezes, havendo excepções creio. A democracia é para eles o princípio da representatividade, uma participação indirecta, afastada, de cidadãos.

Um ano cheio de sucesso e felicidade para si.

Carlos Vinagre disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Chinezzinha disse...

Ainda bem que pensamos da mesma maneira.
Um excelente ano para si!
Tudo de bom.:)
Beijinhos

Vitor Oliveira Jorge disse...

Obrigado. O seu comentário foi publicado duas vezes, daí que apareça um comentário eliminado por mim.
Fazem de nós bobos, sim,e o problema é o da escolha, porque acabamos por votar ou por nos filiarmos não no que gostaríamos, mas no menos mau... é pela negativa.Ou seja, votamos para que não "vão para lá" ainda piores.É certo que a política é um jogo que me escapa, não estou por dentro (é como o futebol, aquiolo é para gente com habilidades circenses e mediáticas.E é chato, deve ser chato uma pessoa não poder ler nada, andar de acontecimento para acontecimento,num frenesim. Era interessante pensar a política e os políticos (na sua diversidade) do ponto de vista da psicanálise, que leva as pessoas a canalizarem o desejo para aquilo. É estranho. E depois a obstinação com que aparentemente defendem as suas posições, tão arredada do que é a experimentação e a dúvida do cientista e do artista, que vivem no regime do tempo longo e da incerteza...mas o que é certo é que dependemos do poder para sobreviver e para alguém ir administrando isto...e chateando-nos o menos possível.Do poder, quanto mais longe, melhor!

João Vilela disse...

Alguém que escreveu isto num dia, e pouco depois disse mal do filme Austrália posto que nele não é possível encontrar mais do que «uma colecção de lugares-comuns», só pode estar a fazê-lo para testar atenção dos que o lêem. Não há outra hipótese. É que o que por aqui se diz a propósito de elites e elitismos é tão requentado, tão previsível, tão pequeno-burguês, tão igual às crónicas pré-cozinhadas com que nos banqueteiam todos os jornais e revistas da nossa imprensa, que a dado ponto até deixam de ter graça. Porque há quem tenha - mea culpa, mea maxima culpa - o prazer, um pouquinho mórbido, talvez, mas prazer ainda assim, de se rir com as pessegadas a um tempo soixante-huitardes, tardo-adolescentes e standardizadas que pululam por aí como discurso revolucionário. Nada posso fazer, acho piada que andem todos a dizer a mesma coisa e consigam ainda assim, todos uma vez mais, achar que estão a ser contra-corrente e visionários e o que mais que se imagine. E quando estas chachadas provêm de gente que já não tem a idade dos estudantes universitários, então a graça é dobrada: porque o estudante é genericamente uma entidade superficial mas «metida», como dizem os brasileiros: o estudante gosta de dar uma de intelectual, de tipo com ideias e com visão, pelo que, vai daí, assume uma persona com o discurso (e o aspecto) que terá, na opinião dele, alguém com ideias e visões. É um procedimento normal nele, mas menos normal nos que são mais velhos: o que imprime uma graça suplementar a estoutro caso, a graça de ser uma coisa rara, a graça das mulheres barbudas ou das vacas com 6 pernas.
Todavia, no seu texto não achei motivos nem para me rir dos dislates pré-fabricados, nem do facto de eles provirem de alguém com idade para não ter das coisas do mundo a visão medíocre e mediocrizante dos garotos de 17 anos. Nele, tal é a concentração de ranço, falta de frescura e de inteligência e de originalidade, que a coisa quebra todos os limites da banalidade usualmente aceitáveis nos lugares-comuns. Dito de outro modo, o seu texto é demasiado empastelado para poder, sequer, ter graça. Nem para chasquear ele serve. Só não é totalmente inútil porque conseguimos entrever nele a causa para um efeito, a saber, a da falta de qualidade da nossa elite, verberada pelo escriba: é que sendo ela ensinada por docentes deste calibre...

José Manuel disse...

Subscrevo. Um 2009 cheio de sucessos.

Vitor Oliveira Jorge disse...

Também para si, Zé!

Vitor Oliveira Jorge disse...

Joao: não sei quem é, nem é possivel aceder ao seu perfil...assim o diálogo é menos ransparente. Mas quererá você dialogar, ou só detilar fel?... Nao sei. Não tem mal.
É sempre bom um bocadinho de vinagre na cozinha, para o que der e vier. E a acidez, distribuída por tantos milhares de mensagens, tal como na culinária o vinagre por tantas saladas ao longo do ano, pode até ser salutar.
Claro que um tom menos agressivo,menos ofensivo, e mais substancial, mais estruturado argumentativamente, era melhor, mas cada um dá que tem e o que quer ou pode. Substancie se quiser um pouco mais as suas críticas, pois críticas é o melhor que há, e duas garrafas de vinagre já será demais para a minha cozinha, pois uso pouco, e depois azeda...

Um bom 2009, com menos azedume, que provoca úlceras!

Vitor Oliveira Jorge disse...

Beijinhos para si, A. Um bom 2009!
Keep in touch!

João Vilela disse...

Vitor, não pode aceder ao meu perfil porque, hélas!, não tenho um perfil. Tenho uma conta de e-mail no Google, que me permite comentar blogues, mas não tenho um blogue. Desfeito este mistério que me constrange à opacidade (o que lamento), é também lamentável que o meu texto não lhe tenha sido perceptível. Em verdade lhe digo que tentei ser didáctico, e em mais verdade ainda lhe juro que não queria causar amargor a ninguém: só expressar um ponto de vista. Tentarei explicitá-lo com mais detalhe no comentário vertente, contando com a sua argúcia sherlockiana para compreender quanto lhe digo.
O Vitor escreveu neste blogue, a 1 de Janeiro do corrente (ontem, portanto), que, tendo visto o filme Austrália o tinha deplorado, em achando que não há nele senão «uma antologia de lugares-comuns». Não conheço o filme, mas admito procedência na sua crítica, e partilho-a, pois também eu nutro pelos lugares-comuns, sejam avulso ou em longas antologias, uma falta de pachorra que nem lhe digo. Contudo...
... Contudo, tive a má ideia de continuar a ler-lhe o blogue. E em má hora o fiz: é que se a princípio até tinha aplaudido as suas críticas à trivialidade do filme, depois topei com este seu texto - e uma coisa lhe digo, Vitor, e passe o pastiche de um velho cartaz do velho PS: se isto não é uma antologia de lugares-comuns, onde está a antologia de lugares-comuns. Primeiro, diz uma coisa que só posso classificar como tardo-adolescente: «eu quero que toda a gente possa um dia ser elite». E chamo-lhe o que lhe chamo quanto mais não seja porque constitui contradição em termos, porque se todos formos elite deixa de haver elite: elite é uma parte da população que por algum motivo está acima da restante - que o Vitor queira o fim das elites é lícito, que queira uma massificação, uma vulgarização do estatuto de elite, é ilógico. Talvez tenha usado o termo elite como sinónimo de educado e informado. Mas ser educado e estar informado não é, já que falou em culinária, «quanto baste» para se estar na posição de elite. Este é um estado bastante mais aprimorado: aquele em que se sabe fazer alguma coisa com a educação que se recebeu e a informação que se tem para transformar o que está em volta. E com isto entro no segundo, e mais lamentavelmente articulístico, dos seus lugares-comuns: algo como «matem-me o capitalismo e substituam-no por uma coisa sem nome que irmane todos». Isto, mais uma vez, só pode ser apodado de paleio de estudante, porque só entre os estudantes universitários, que como disse são tolos mas gostam de dar-se ares, é que emerge uma coisa destas, este anticapitalismo d'abbord seguido de uma recusa em nomear a solução alternativa. No caso deles o motivo é óbvio: não têm a mais pequena ideia do que hão-de propor em troca, mas como (i) sempre lhes disseram que ser pró-capitalista é estar com os maus, e (ii) querem dar a entender que têm ideias, querem ter um ar finaço que os faça parecer, pelo mimetismo, iguais aos intelectuais propriamente ditos, condenam o estado de coisas, e quando instados sobre a alternativa possível enrolam na palhada pseudo-pomposa dos seus discursos umas quantas afirmações de tipo populista, utopista e standardizado, com que possam esconder o vazio absoluto que lhes povoa o interior do crânio. A culpa, concedo, não é deles, papagueiam o que ouvem nos media (que estruturalmente ainda arvoram em hegemonia a ideologia pequeno-burguesa), e como nunca ninguém os ensinou a pensar acham que fazem uma grande coisa. Chamo-lhes «émulos bastardos do esquerdismo de crónica» ou ainda «resquício pior do pior dos anos 60». Mas o caso do Vitor, e aqui entra o mais grave da questão, não é este. Não pode ser este. O Vitor usa o lugar-comum supracitado, o do «eu odeio o capitalismo, quero que ele morra, mas não me atrevo a nomear-lhe um sucessor, vou esperar que ele apareça», por um só motivo - porque não se quer comprometer com nenhuma alternativa ao status quo. E é nisso precisamente tão mau como a elite que nos entrega a opinião, através de textos onde mais não vemos que a repetição extenuante de topos pré-fabricados, nos vários jornais da praça. Passo a explicar-me, e tentarei fazê-lo com brevidade, que o texto já vai longo.
Se se quer acabar com o capitalismo há que ter uma ideia do que se vai propor em troca. Matar uma característica da sociedade só é possível por substituição, porque no lugar dela vamos colocar outra. É preciso, e uso o termo na sua dimensão mais precisa, ter uma ideologia que possa suplantar a dos burgueses e estabelecê-la no lugar da vigente. Em palavras simples, é preciso escolher o que se quer mudar, como, e porquê, de modo consequente. É preciso estar ligado a alguma coisa. E é preciso - eis onde entra o problema central para os intelectuais portugueses - fazer um proselitismo dessa ideologia que converta as massas, as faça ver o real do modo que encarámos como justo, podendo assim levar-se a efeito uma substituição das estruturas e características sociais que temos por injustas. Em resumo, se queremos uma alternativa é preciso escolhê-la e avançá-la. Quem não procede assim limita-se a afirmar os lugares-comuns da moda contra as contradições e injustiças internas do sistema. Não tem uma atitude coerente, nem é expectável que tenha sucesso.
Espero ter sido claro desta vez.

Vitor Oliveira Jorge disse...

João, vou tentar responder à sua longa missiva, desde logo a partir de uma condição de desigualdade. Sendo para mim um desconhecido, é como se estivesse a falar para o outro lado de um muro alto. Paciência.Não sei aliás nada da sua identidade, porque pode estar a usar um pseudónimo, como é evidente. Mas isso não me inibe.Também mão me causou amargor.Já tenho quase 61 anos, faço este blogue por prazer e não estou aqui para me incomodar! Não tenho argúcia de detective, não é essa a visão que tenho do arqueólogo, porque o detective quer encontrar uma verdade, e o arqueólogo sabe que ela nunca existiu.
No meu blogue existem para cima de 4000 postagens, não sei de cor.Há de tudo. Coisas leves, coisas menos leves. Há um livro de poemas já publicado (Casa das Máquinas, Porto, Papiro, 2008, com mais de 100 textos, que aqui estão evidentemente na sua primeira versão) e há já matéria para um outro para o qual procuro editor, Electri-Cidade, e que espero publicar em 1999. Há vários textos e tranalhos de arqueologia. Há muita informação útil aos meus alunos. Há muitos resumos de trabalhos que apresentei em Portugal e no estrangeiro. Enfim, há "bocas" e afirmações peremptórias, para precisamente suscitar comentários, senão é a paz dos cemitérios. Ora, se não erro, ainda há dias publiquei um poema, chamado "juventude"que julgo ser um bom texto. Suscitou algum comentário substancial? Não. Ora, eu até já tenho pegado em poemazinhos publicados nos chamados blogues expressivos, e tenho-os trabalhado para tentar fazer dali alguma coisa. Neste blogue há até vários textos que nem são meus. Eu creio (e o número de visitas assim o diz) que este blogue é um trabalho e um serviço público de que provavelmente você só leu uma parte ínfima, como aliás acontece infelizmente com quase todos nós hoje, neste meio bloguista. Não temos tempo.
Elite - evidentemente que é uma figura de estilo, que até um adolescente compreende, dizer que gostaria que toda a gente fosse uma elite. Aí não estou a essencializar ou o conceito de elite, mas a relativizá~lo, não esquecendo o seu carácter dialógico: uma elite define-se por haver alguém que é excluído dela. Mas era essa dicotomia comum que eu queria pôr em causa, usando metaforicamente a palavra. Quer dizer, desejaria utopicamente que toda a gente pudesse aceder à condição de si própria como sujeito criativo, e não simplesmente como objecto de tranalho e de exploração. Desejaria! Mas sei que tal é impossível, como qualquer adolescente o sabe.
Uma das características que cultivo é um certo estilo naif, evidentemte irónico, mas que procura passar uma mensagem: a da transgressão ao nível do próprio texto e das suas categorias estabelecidas. Aliás, é este o cerne de qualquer actividade poética: recuperar sempre o olhar da infância, ser-se sempre estudante, que é o que eu sou, em certos aspectos muito parecido com o que era quando tinha 17 ou 18 anos. Os meus gostos principais não mudaram, o que por si só não importa, só importa se eu, quase aos 61 anos, conseguir fazer da minha fragilidade algo de criativo. Porque escrever é sempre uma pessoa ciolocar-se no limiar incómodo. Como dizia o Derrida, não só escrever. como falar, é propriamente in-decente. Mas os tardo-adolescentes que todos somos são irrequietos, falam, escrevem, dão a cara, fazem blogues, dão cursos, enfim, estão activos ao serviço da movimentação dos êmbolos da vida (""casa das máquinas")...
Adoro portanto ter paleio do que sou, um estudante.Um professor é um estudante que permaneceu estudante.
Qanto à questão do capitalismo, há muitas palavras para tentar caracterizar a sociedade contemporânea e a dos últimos séculos. Tenho tentado focar isso em vários trabalhos, e estou em permanente estudo nesse campo. Naõ sou um filósofo nem um politólogo u sociólogo, mas tenho lido alguma coisa, e continuo todos os dias.Sou, e sempre fui, anti-burguês. Repare, eu vivo apenas do meu salário, mas hoje, sendo catedrático desde 1990 (e dizer isto espero que não seja tomado como uma figura de autoridade) eu podia apenas dar uns cursos e pronto. Não: ccompro praticamente um livro por dia, leio muito, quase não tenho férias, sou até excessivo nesta mania de aprender e de estudar. Tenho uma mistura de orgulho no que fiz e de profunda humildade quando comparo o que fiz com o que outros fizeram e com o que gostaria de fazer.Estou satisfeito, quer dizer, de consciência tranquila, e insatisfeito, quer dizer, profundamente consciente da minha mediania.
Como professor universitário desde 1972/73, não concordo nem acho bem que diga que os estudantes universtários são uns tolos. Nem vale a pena dizer mais nada: é um disparate.
Quanto a eu não querer comprometer-me com nada, é um erro factual, mas também creio não ser este um confessionário onde eu vá aqui exor a minha vida. Se em 2001 o Presidente Jorge Sampaio me outorgou o título de Grande Oficial da Ordem do Mérito não foi com certeza ao acaso. Diz-se lá explicitamente que foi pelo meu trabalho em defesa do património cultural português. Fiquei tão admirado com essa distinção como pode calcular, mas achei-a justa, francamente. Só que depois de 2001 (vão 8 anos) parece que, estimulado, ainda acelerei mais. Não sei que estranha energia é esta... mas tento pô-la ao serviço dos outros, e em primeiro lugar ao dos meus alunos, princpalmente a malta que está a fazer mestrados e doutoramentos, e que é muito importante apoiar, porque confiram em pessoas como eu, precisam de referências, mesmo que seja para me criticarem, como estou certo que fazem e como desejo ardentemnente que façam.Não sou pai nem guru de ninguém, embora toda a gente goste de deixar um lastro, isso é inegável.
Quanto ao media, toda a gente sabe que são como o ar que respiramos ou como Deus: não vale a pena esbracejarmos contra eles, constituem a atmosfera (mesmo no meu caso, que sou agnóstico, para dizer de forma soft, mas fui educado como católico). Quer dizer, os media são hoje a realidade, são eles que fabricam a realidade.Isso é inquietante, sim, mas incontornável. Claro que o Le Londe Diplomatique não diz o mesmo que o Courrier ou que o Expresso, mas isso toda a gente sabe, não temos outro meio, é tentar diversificar as leituras e procurar informação o mais alternativa possível...mas estátudo fltrado, a sociedade da informação é a sociedade da economia do segredo por excelência, é governada por máfias internacionais.
Há uma coisa: eu não quero converter massas. Não sou profeta nem apóstolo, nem me foi concedida a missão redentora de razer a verdade aos outros, aglomerados sob a forma de massas, qual novo Staline ou Hitler. Não, não tenho nenhuma verdade que não seja a da vergonha de enunciar uma qualquer, mas apenas tenho a certeza absoluta do que é insuportável, como o que está a acontecer neste momento em Gaza, que é uma forma horrível de crime, de ambas as partes, simplesmente uma está armada como um elefante, a outra como uma pulga.Tenho mais simpatia pela pulga, não tenho alternativa!
O seu discurso é claríssimo, mas a dificuldade hoje é precisamente o já não se ver a curto u mºedio prazo uma alternativa global a este sistema global e extremamente predador, que ameaça a própria vida das pessoas e do planeta em geral. Essa é a dificuldade, e por isso os artidos são inoperantes, e sabem que são, porque não há uma solução. Há paliativos. Como diz Agamben, já não podemos profanar nada, quer dizer, está tudo des-sacralizado, não há nada para des-sacralizar. Esse o nosso drama.Essa espédie de campo de mortos é atravessada pelas mafias que exploram a miséria, como dantes vinham os saqueadores depois de uma batalha, ainda roubar os corpos daquilo que neles podia haver de algum préstimo.

Carlos Vinagre disse...

Peço desculpa por me intrometer. Subscrevi este post, recebi naturalmente os comentários para o mail. Espero que não levem a mal o meu esforço jovem e correctivo, em relação a algumas coisas que por aqui se disseram.

O Sr. João não está nesta época. Tem razão quando fala em alguns aspectos que caracterizam o estudante, porém, o estudante de agora não é esse pseudo-revolucionário de que fala esteriotipadamente. Aliás, está bem moldado, bem trabalhadinho, formatado ao status quo. Arrebata-se quando não tem a possibilidade de adquirir um determinado bem que é da moda, mas não passa dessa suave manifestação encolerizada. Falou de umas quantas excepções, não da regra. Portanto, acho que devia actualizar-se um pouco, daria-lhe mais matéria para pensar rigorosamente. Espero que não leve a mal, é com humildade que o digo.

Nos dias que correm poucos são os que pensam revolucionariamente. Esses sim se enquadram na descrição satírica que faz o Sr. João. Contudo, mesmo achando que não pensam construtivamente, que apontam defeitos mas não indicam como se alcançar uma determinada idealização, penso que é agradável a sua preocupação. Em vez de somente pensarem em noitadas, buscam apontar o dedo, evidenciar feridas. E se pensam assim, é porque não se enquadram na sociedade altamente individualita, grosseiramente competitiva. Entre afundarem no desnorte, na toxicodependência, é melhor enquadrarem o perfil de pseudo-intelectuais. Sempre é mais contrutivo para a sua vida.

Falei em cima do estudante que rosna por não ter um dado bem da moda. É uma caricatura que faço, mas é comum na sociedade, falo por conhecimento de casos, por experiência directa, mas nem todos se comportam dessa forma. Normalmente, o aluno universitário vai às aulas, goza a sua vida, toma um café, tem o seu percurso boémio, lê o jornal, quando o lê!, e opina sobre os problemas descontraidamente, como a maioria das pessoas. Eu vejo isso em pessoas mais velhas, nos cafés. Não são nada do que negativamente expressa. Isso é uma minoria.

É certo que tem o direito a divulgar a sua opinião, a tê-la e expressá-la, Sr. João, podia era ter outros modos e ser menos ofensivo. Acho que são regras que aprendemos na infância. Podia simplesmente manifestar o desagrado e opinar o porquê. Só visita e lê os textos de quem quer, o autor deste espaço não o incomodou publicitando o blogue, ou incomodou??? Vê, sou jovem, e estou a fazer uma sugestão, a indicar um caminho possível e com elegância. A ideia aparente que tive do seu texto é que estava carregado de um espírito negativo... Há maneiras mais apropriadas de se expressar. Aí pareceu um púbere arrebatado, descontrolado a atacar o autor. Ele tem o direito a dizer o que bem entender e como lhe apetecer. Até podia escrever uma coisa sem concordar com ela, só para suscitar discussão, coisa que posso eu fazer e você fazer. Claro que pode ajuizar negativamente, é do seu foro pessoal.

Rocha, André disse...

O que é a elite senão um grupo de pessoas reconhecido por ter algo mais que o grosso da população?

Há diversas elites: podemos chamar elite a um grupo de pessoas que tem mais dinheiro, no entanto o conceito de elite não deve ser esse. Julgo que apenas abordamos uma questão no que toca à terminologia das palavras.

Pertencer a uma elite não significa ser elitista nem pode significar ser elitista. As pessoas pertencem naturalmente. É importante que a elite culta do nosso país não continue a fechar portas (tornando-se elitista) a quem quer contactar com essas mesmas pessoas. O que noto é que em Portugal (refiro-me a Portugal porque é a realidade que conheço)os pseudo-intelectuais não querem descer do seu "trono de sabedoria" para contactarem com a realidade do país. Cria-se um certo afastamento, a ideia de que a cultura é só para quem tem dinheiro e para quem tem curso superior. Há uma enorme força de bloqueio, a elite não quer absorver o grosso da população no seu seio. Existe uma patente rejeição.

Cumprimentos e um grande 2009.

Vitor Oliveira Jorge disse...

Estou basicamente de acordo com o que Carlos Pinto Vinagre.
Só acrescento que o que falata a este como a qualquer blogue é a troca de ideias verdadeiramente interessante. Se essa troca se puder fazer sem animosidade, é mais agradável, cria-se uma clima de respeito mútuo, isto é,em que o outro é acete como outro e não como espelho de mim mesmo. O mal da vida é haver clones por todo o lado, gente a trocar mensagens sem conteúdo, votos standardizados, como se vê tanto em qualquer quadra do ano. Não: coisas substanciais que, se ditas com precisão e amabilidade, têm em nós um eco bom. Suscitam a resposta, e nunca o amargor.O que mais precisamos, na época árdua em, que estamos e que vai piorar, é de pessoas que de facto dêem a cara e contribuam para este espaço público alternativo, onde mesmo os amigos se testam na discordância. A concordância, o consenso, é a paz podre. Por isso agradeço a ambos os intervenientes no diálogo, valorizaram o meu blogue, um de uma maneira menos agradável, menos curial (JOão), até porque anónima, o outro de forma extremamente educada a lembrando coisas importantes. Não se pode desrespeitar os estudantes. Temos por vezes de aturar muita coisa, mas os estudantes de hoje não são piores do que os do meu tempo. O que há é uma muito maior insegurança. Quer dizer, entre o fascismo de Salazar, que enchia as escolas de bufos da PIDE (alguns chegavam a ser professores!) e o tecnocratismo hipócrita do sistema de Bolonha, com que lixaram o ensino superior, com propinas cada vez mais altas à medida que se sobe e o funil (numerus clausus) se aperta, há um fosso, não é comparável,evidentemente, mas a insegurança lá está, sempre, a acometer os jovens deste país. Safam-se sempre os mais ricos. Na época de Salazar (em que eu vivi) os mais ricos safavam-se para Paris, fugiam à maldição da guerra colonial; os outros acomodavam-se como podiam, mas havia um profundo fosso entre homens e mulheres. Nós, homens, sabíamos que, acabado o curso, e antes de obter emprego, tinhamos de ir para a guerra, ma guerra onde, devo dizer, a mim não me tinham apanhado (fugiria nem que fosse para andar a pedir nas ruas de Paris). De modo que a va que me apareceu foi ser prof. universitário, o que não era fácil, porque dependia do arbítrio de professores nos convidarem. Tive a sorte de poder trabalhar muito (estudava todos os dias muito, sem exagero), de publicar desde novo, e de assim encontrar uma estreita vereda por onde prosseguir a minha vida e a esperança.Mas foi um caminho muito espinhoso. Parte dos meus colegas e amigos, em quem depositava tanta esperança, perdeu-se, por aqui e por ali, quando podiam ter feito uma obra, algo com que contribuíssem para superar o que tanto criticavam: a pasmaceira portuguesa. Apesar de haver muitos notáveis, e de eu me orgulhar muito da geração a que pertenço. Não vou enumerar nomes, claro.

Anónimo disse...

O que é fazer uma obra?