terça-feira, 27 de janeiro de 2009

fruta-cores



Imagem: Alexander Bergström
Site (reprod. aut.): http://www.alexanderbergstrom/com/

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liberta a imaginação
com a mesma desenvoltura
com que esticas os pés,
um para cada um dos lados
do quarto.

liberta a inteligência,
põe-te na postura
de quem lê sobre
o cavalete: e aprende!

sobe as pernas juntas
e expõe o centro
por onde passam as linhas
da tua simetria

as frestas que continuamente
como doidas te aspiram
para o mundo de dentro
de ti.

e ergue por três vezes
as calcinhas na ponta dos pés
de cada vez que tocam os sinos!
o instante é solene.

e percebe por um momento
que o que distingue
é este olhar de soslaio,
este breve relance

este terrível inverno
que de repente nos desce
pelas costas, e nos deixa
o caminho desamparado.

como se tivéssemos caído
dentro de um prato de esparguete
à bolonhesa, e aí nos enredássemos
numa fatalidade.

acorda a meio da noite
e diz-me as palavras inesperadas.
amo-te, diz ao meu cadáver,
amo-te para daqui a muitos séculos.

sobe para a peanha, mostra o rabo,
cita três autores célebres
revela gosto, atira calcinhas
para todos os lados do quarto!

ao raio tanta literatura.

indecência, indecência, pedem
os lábios que forram as paredes.

queremos sair daqui
dizem as frutas das naturezas mortas,
temos saudade
do sémen.

queremos esticar as pernas
espalhar o nosso cheiro à vontade
este suor de plantas secas
que de repente se lembram do verão

é o que te peço,
acompanha-me na insónia,
vai tirando da boca peúgas
uma de cada côr,

e vamos-nos rir

muito!




texto voj porto jan. 09

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