Também já entrou nesta casa, tão pequeno que cabia num bolso do meu casaco, em 1994. Está velhote.
Gostamos muito dele. Vamos esperar que aguente esta prova dura, ao menos durante um tempo, e nós também... a vida é feita constantemente desta teia diária de boas e más notícias, de perdas e de ganhos, de imprevistos e de uma tentativa de lutarmos contra a entropia. Ter uma certa idade é habituarmo-nos a esta precaridade, a esta fragilidade. Vivemos no luto... desconhecíamos esse sofrimento meramente sussurrado, esse som de fundo de aviso, quando éramos novos. Não tenho saudade desses tempos. Eu próprio me preparo todos os dias para o desencanto. Tentando sempre reencantar-me, por vezes num acto já desesperado, mas tranquilo. Por isso me agito tanto. Por isso trabalho tanto. Por isso saboreio cada momento desta casa onde estou com o luxo de ter algum tempo disponível e um mínimo de condições de conforto. Fruindo cada momento, cada dia. Com a minha companheira, com os nossos gatos. Isto pode parecer ridículo, mas creio que só a pessoas desalmadas.
9 comentários:
Tenho para mim que quem gosta de gatos é especial!
18 anos... o meu só tem ainda 3 e acho que ficaria perdida sem ele.
E, no final de contas, tudo é precário nesta vida.
Saúde para o Lucindo!
Pois é Vítor, os anos ensinam-nos coisas que os dias não sabem. Aguenta-te Lucindo
(Marciano)
Obrigado. O bicho está mal, apesar do nosso extremo cuidado. Temos de engolir em seco e esperar. A poesia sara feridas.
Não depende dele aguentar-se, helas. Vamos ver. Um abraço!
V. e S.,
Uma festinha solidária para o Lucindo!
Bjs,
S.
Será dada, multiplicada por 100 !
Obrigado.
Meu bom amigo Vitor Jorge
também eu adoro esses bichanos.
Espero que o Lucindo melhore.
Lembro o meu amigo " Neco" que morreu há algum tempo.
A falta que esses amigos nos fazem!..
Compreendo-o perfeitamente.
~Em breve o vamos encontrar numa corrida a " Bubastis".
abraço amigo
josé movilha
Obrigado. Gosto do Lucindo quase como de uma pessoa, e não o ergo à figura de um deus do antigo Egipto, nem o quero ver embalsamado em Bubastis. Prefiro vê-lo aqui em casa vivo e alegre, mesmo que às vezes me acorde com um grito seu característico, qualquer coisa como "Ah" ou só "A", o que faz pensar que, para variar, podia ir aprendendo o alfabeto, para gritar B, C, etc, e por aí adiante.
Faz lembrar aquela anedota do mudo que foi ao médico e este o mandou despir e sentar numa maca, tendo retirado de um armário dois tijolos com que lhe apertou fortemente e com profissionalismo devido uma área determinada. O pobre mudo gritou "ah", e o médico disse-lhe: volte cá amanhã para aprender o B.
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Espero que esta anedota não ofenda ninguém, nomeadamente as pessoas afectadas de mudez, lembrando que o humor não tem fronteiras e que a maneira mais saudável de enfrentar os traumas é rir.
O Lucindo foi eoje tirar os pontos da operação que fiz (extracção de um quisto, que se revelou maligno). O médico disse que, com a idade dele, não morrerá disto, mas de velhice. Oxalá assim seja. Não sei que magia tem o olhar de um bicho destes, parecendo querer interrogar-nos, totalmente dependente de nós: projectamos nele tudo quanto queremos ver, incluindo a nossa própria desprotecção. Por isso ele é alvo do amor absoluto, aquele que me espelha inteiramente, sem resistência (como a imagem, aliás). Soubemos que deve estar quase surdo, se não mesmo totalmente surdo, de velhice. Por isso grita tão alto, talvez para confirmar a si próprio que existe.
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