quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Kafka e a arqueologia

Há aquela célebre história do Kafka sobre o porteiro à porta da Lei (ver "Wedding Preparations in the Country and Other Stories", Harmondsworth, Penguin, 1978)... muito resumidamente, pois toda a gente conhece:


Está um porteiro à porta aberta da Lei, de um dos seus lados. Lá chega um sujeito do campo que pede autorização para entrar. Mas o porteiro diz que de momento a não pode dar, só mais tarde. O homenzinho faz menção de entrar. O porteiro diz-lhe a rir que se quiser entre, desobedecendo-lhe; mas lembra que é poderoso, e que há muitos outros porteiros, ainda mais poderosos que ele...Perante tal, o homem assusta-se e pensa que o melhor que tem a fazer é esperar do outro lado , junto à porta. Duram muitos anos, e o homem olha sempre atentamente para o porteiro, à espera de um sinal. Até que, acercando-se o provável momento da morte, o homem se arrasta para o porteiro, e põe a pergunta que já o intriga. Se toda a gente procura a Lei, como diabo é que nunca ninguém mais senão eu chegou aqui a pedir para entrar também? O porteiro responde-lhe então ao ouvido, para que ele, já velho e degradado de tanto esperar, perceba bem: mais ninguém poderia ter entrado neste portão, pois ele foi concebido só para ti. E eu agora vou fechá-lo.


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Se em vez de "Lei" colocarem "Condições Institucionais de Trabalho Digno em Investigação Arqueológica Merecedora de tal Nome" e em vez do homem do campo o arqueólogo que cada um de nós é (ou tenta ser) descobrem uma coisa maravilhosa: VIVEMOS DENTRO DE UMA HISTÓRIA DO KAFKA.
É um frisson, um prazer danado, especial e naturalmente para masoquistas requintados (ou requentados, é o mesmo).


Hoje inaugurei um ciclo novo neste blogue: o de me rir, rir disto tudo, rir para não enlouquecer de tanta loucura que campeia neste mundo em que vivo. Não quero mais sair de dentro de uma história do Kafka.






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