uma frase contorce-se
e distribui-se pelo espaço
em que as linhas se entremeiam.
pelo meio passa o vento,
a força com que um corpo avança e
embate, e se contorce
contra a superfície da imagem.
pelo meio das linhas passa o tempo,
insinua-se o vento,
neste lugar abandonado às frases,
neste solo plano em que apenas pedras
se erguem, e fazem minúsculas sombras.
talvez uma respiração subsista,
talvez um peito esteja ainda vivo nas suas
saliências e reentrâncias,
e uma intenção passe entre as linhas.
os rios secos de outrora correm a direito,
esta é a face lunar, abandonada entre alças
e pregas, onde o sentido busca uma cintura,
umas espáduas, tão avidamente
entre dois momentos do mesmo movimento,
entre um eu e um tu, largados no deserto
das frases levadas pelo vento, dos movimentos
atirados subitamente para trás.
quando afinal se passa tudo aqui
e as linhas se fixam avidamente
ao olhar cego, objectivo, desamparado,
atirado sem querer contra a interrogação.
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Foto: Geoffroy Demarquet/rep. aut.)
Texto: voj 2009 jan. porto
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