(rep. aut.)
Ver: http://www.olhares.com/Jazmim
Quando a vítima se entrega voluntariamente
À imolação
Quando o Cordeiro Pascal
Se aproxima silencioso
Da faca
Que tem de estar
Por detrás do altar?
O brilho de deus?
A promessa do repouso
Na transfusão dos vasos?
A erecção de um milhão de círios
Contra o horizonte do mar?
Ou tão só um vaso de palavras
Consagradas, brilhantes
No vão da sombra, na sua discrição?
O Cordeiro procura recuperar
A palavra?
Ou tão só a tábua horizontal
Do começo, quando entre as tochas
Ele entrou neste mundo?
Que empurra o corpo
Para o ardor do sol,
Suplicante?
Parece dizer: aqui estou, queima-me
Com o gume, traça-me a garganta.
Fatigado da palavra, peço
Que transvases este líquido que sou
Para o silêncio, para o infinito anónimo
Do oceano.
Deito-me. Exponho-me. Dobro-me
Ritualmente. Cumpre tu
O teu ofício, este é o meu Corpo
E o meu Espírito, mistura-os na cor.
Cansado. Aqui me entrego para ser
Escorticado, entregar a pele
Para aparecer vermelho, sangrado
Como um sexo pode sangrar,
Como um interior pode virar-se para fora
E sob o sol, suplicar: acaba comigo.
Cordeiro, aqui não está mais ninguém
Senão eu e tu, a comunidade desertou
Os olhos estão escondidos na sombra,
Os altares estão frios nas igrejas abandonadas.
Então é ao sol que temos que consumar isto,
Sobre esta tábua, sobre este paredão,
Como se empurrámos um barco com sua proa,
Como se fôssemos à pesca e amanhássemos um peixe.
Dá portanto jeito, vira-te entre uma sílaba
E outra, para eu te ver bem a veia
Onde fazer a incisão, encontrar a palavra
Aguçada, difícil, cirúrgica.
Pois seguro a faca da qual te aproximaste,
A missão que me conferiste,
Ao entregares-te voluntariamente
Aos lábios negros do texto, à sua perversa
Saliva. Aquela
Que tem o sal do mar, onde no fim
Se lava tudo, os gumes e os órgãos,
A pele exposta contra a ilusão dos molhes,
E as sílabas ficam a secar
No aroma festivo desta suprema ilusão
Que é vivermos dentro da Realidade
E ainda nos deitarmos, todos dobrados,
Num dos seus paredões, como ela fosse de facto.
Esperando a inocência do Cordeiro.
A confiança dos seus olhos
Na sua virgindade pascal,
Exposto, entre mil círios,
Como as vitualhas que na cozinha
Se deitam na mesa, mesmo ao lado
Das receitas.
à l. j.
3 comentários:
Molto bello questo brano Michele http://pianetatempolibero.blogspot.com
Michele http://pianetatempolibero.blogpost.com
ti propongo uno scambio link se ok lascia un commento nel mio blog
ciao
Grazie. È proprio peccato mettere un cane qui,come símbolo de tu persona. Una fotografia ispiratore, prego!
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