domingo, 21 de dezembro de 2008

vinho





Há dias em que o céu adquire
A cor e a textura do vinho.
São dias abençoados:
As gargantas abrem-se para cima
Viram-se todas como flores abertas para cima
E não podem falar, continuar a encher de ruído
O já tão excessivo ruído deste mundo embriagado.

Há dias que são como um copo de vinho
Não pousado, mas batido na mesa como uma carta de jogo.
Uma carta violeta, violenta como o corpo de uma mulher
Vestido de veludo, e segurando a própria cabeça no braço.

Mesmo quem usa pistola, mesmo quem sua
E cheira a cavalo, mesmo quem faz gala de ter um pénis,
Se encolhe, e treme: vinho, vinho muito raro, muito vulcânico
Côa de repente a totalidade das cortinas. E não se ouve nada.

Um copo cheio coloca-se sobre a cara,
No lugar do nariz. Como uma vulva enorme, como
Uma lua. E exige: bebe. Bebe a cor do vinho, esta tinta,
Este sabor tramado. E as pessoas voltam a ser meninos.

Toca a beber, ao ritmo dos tambores. Toca a abrir as gargantas
Como as figuras de guernica. Toca a fazer silêncio total.
A deixar ouvir o deslizar dos líquidos, o seu boiar
Primordial. A mulher vai entrar na taberna.

A mulher das unhas dos pés compridas como espadas,
Como ganchos que se debruçam sobre a carne, e ordenam:
Bebe este sangue, engole de um só travo a cor.

E tu bebes, como criança. E ela sai da sala
Fazendo um ruído metálico com as unhas no chão,
Arrastando o veludo. E levando o copo da tua vida na mão,
Poderosa. Dirigindo-se de costas sabe deus para onde.



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texto voj dez 2008
imagem: bogdan zwir (rep. aut.)
fonte: http://www.zwir.ru/zwir.htm

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