sábado, 27 de dezembro de 2008

transmissão



o professor procura sempre o seu aluno predilecto, aquele (ou aquela) que o escutará por excelência. e embora seja hoje habitual dizer que o professor não busca o seu discípulo, o seu amigo, o seu interlocutor privilegiado, isso não é verdade, isso é uma concessão à ideologia da tolerância. não: o pai busca também o filho (ou a filha), não o(a) que fez com o seu corpo, porque esse (essa) não é dele, é um produto aleatório, mas o filho (a filha) adoptivos, aquele (aquela) que o escutou particularmente, que o quis seguir incondicionalmente. desse(a) passa uma pessoa a vida à procura, porque a relação de igualdade é sempre uma hipocrisia. o que se deseja é ter poder sobre, mas mais uma vez não um poder político, obrigatório, mas um poder adoptado por aquele (aquela) que se entrega ao professor, que se entrega ao pai em absoluta liberdade e por total escolha. ou seja, o amor é sempre incestuoso, porque aquilo que um professor ou um pai procura é o seu herdeiro (herdeira) mais tremendo(a), aquele (aquela) a quem pela chama do amor entregará os estigmas da autêntica transmissão.


um professor que não está predisposto ao amor é um funcionário; e um pai que apenas procria é um pária, um homem que não tem nada que se possa herdar.
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voj texto dez. 2008
Foto: Bogdan Zwir
site: http://www.zwir.ru/zwir.htm

2 comentários:

Ana Paula Fitas disse...

Transfigura-se a realidade pelo poder da palavra que confere mesmidade ao diverso e pluralidade ao uno... assim se configura o sentido das coisas onde a construção de significados procede por analogia e dissemelhança... e se compreende o poder da comunicação cuja inteligência resulta da interacção que o sentir edita no pensar-se o mundo quando se confia no olhar que sabemos acompanhar a nossa caminhada.

Vitor Oliveira Jorge disse...

sim, sobretudo a pluralidade do mundo é para mim o fundamental, inspirando-me em Derrida, Deleuze e outros, e teantando criar (veja-se que amição delirante, mas irresistível como um desejo) o meu próprio caminho, lendo, lendo e seguindo a intuição, minha mestra neste método muito próprio, talvez insensato, mas persistente. Não tenho formação filosófica, mas tento... certos autores são como o pão para a boca. Muito difícil, mas, com persistência, creio que vou lá...