"Qu'est-ce que le Contemporain?", livrinho precioso, 2008, Paris, Éd. Payot e Rivages. (lição inaugural do Curso de Filosofia Teorética de 2005-2006 na Universidade IUAV de Veneza - nem imagino o que deve ser ouvir este produtor de um pensamento belíssimo no próximo cerne da beleza que é a cidade de Veneza...)
Transcrevo, traduzindo, das pp. 35 e 36 (só se compreende mesmo bem este extracto se se ler o livro todo, que se devora em 1 hora; é preciso desconfiar sempre do efeito ambíguo das citações):
"(...) podemos dizer que a via de acesso ao presente tem necessariamente a forma de uma arqueologia. Esta não nos faz remontar a um passado longínquo, mas àquilo que não podemos, em caso algum, viver no presente. Permanecendo como não vivido, ele é constantemente puxado para [happé vers] a origem sem nunca lá chegar. O presente não é senão a parte de não-vivido que existe em todo o vivido, e o que impede o acesso ao presente é precisamente o conjunto [la masse] do que, por uma razão ou por outra (o seu carácter traumático, a sua demasiada proximidade) nós não conseguimos viver nele. A atenção a este não-vivido é a vida do contemporâneo. E sermos contemporâneos significa, neste sentido, voltar a um presente em que nunca estivemos."
Uma pessoa fica sem palavras perante tamanha acuidade. Isto é pensar, sentir, criar, ou seja, verdadeiramente viver! Quem escreve isto é um ser humano, uma raridade.
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