Há pessoas, muitas pessoas, que sabem (e sentem) muitas coisas.
Mas esses conhecimentos estão separados uns dos outros, como um arquipélago de que se não possuísse um mapa, nem sequer a fotografia aérea. São compartimentos mais ou menos estanques. Há apenas por vezes uma latência, que as faz ver que as coisas estão interligadas, quando alguém lhes revela esse link. Mas é sol de pouca dura. Voltam logo aos seus hábitos, levados pela rotina, que os espartilha mas os ampara, os conforta. Não confundem planos. A vida é feita de barreiras, de propriedades muradas, de obstáculos e de células (celas).
Por exemplo, ciência é ciência, filosofia é filosofia, arte é arte, saber é saber, conhecimento prático é conhecimento prático, e assim por diante. As pessoas são mantas de retalhos de conhecimentos. No seu comportamento, isso reflecte-se também: vão assumindo diferentes competências e papéis de acordo com os contextos.
Sábio porém é aquele que vislumbra a unidade das coisas. Essa unidade não consiste em reduzir tudo ao uno, como num monismo ou num monoteísmo (este no caso da religião). Consiste no contrário, na percepção da incapacidade de reduzir tudo ao uno, e de viver bem com essa deriva, essa contingência, essa multiplicidade. As ligações que se podem então fazer entre as coisas, as vivências, os sentimentos, os actos, não são metáforas superficiais, unidades formais. São percepções de que, em muitos campos da vida, se está espartilhado e é possível cortar as amarras do espartilho, libertando os constrangimentos. Não se trata de reunir tudo numa grande síntese, como fazem os religiosos, sentindo-se senhores da verdade. Trata-se antes de viver uma vida onde se vai descobrindo pontes, links, afectivo/conceptuais, entre campos, coisas, conceitos, afectos, memórias, referências, antes desligados. E é possível mostrar isso, e isso fazer sentido também para outros, ter valor comunitário.
Estes indivíduos são os que ficam realmente como actores da história, embora possam não ter qualquer notoriedade. Mas influenciam, mesmo que os influencidos o não saibam, outros actores sociais com poder de decisão.
É esse o poder do pensamento criador: ligar o que estava desligado, numa fulguração.
Não tem nada de misterioso nem de transcendente. É como a continuação das descobertas de uma criança, em plena maturidade.
O apego às pequenas coisas e aos detalhes esvai-se perante as estruturas arquitectónicas que o pensamento ergue, como monumentos levitando.
Mas esses conhecimentos estão separados uns dos outros, como um arquipélago de que se não possuísse um mapa, nem sequer a fotografia aérea. São compartimentos mais ou menos estanques. Há apenas por vezes uma latência, que as faz ver que as coisas estão interligadas, quando alguém lhes revela esse link. Mas é sol de pouca dura. Voltam logo aos seus hábitos, levados pela rotina, que os espartilha mas os ampara, os conforta. Não confundem planos. A vida é feita de barreiras, de propriedades muradas, de obstáculos e de células (celas).
Por exemplo, ciência é ciência, filosofia é filosofia, arte é arte, saber é saber, conhecimento prático é conhecimento prático, e assim por diante. As pessoas são mantas de retalhos de conhecimentos. No seu comportamento, isso reflecte-se também: vão assumindo diferentes competências e papéis de acordo com os contextos.
Sábio porém é aquele que vislumbra a unidade das coisas. Essa unidade não consiste em reduzir tudo ao uno, como num monismo ou num monoteísmo (este no caso da religião). Consiste no contrário, na percepção da incapacidade de reduzir tudo ao uno, e de viver bem com essa deriva, essa contingência, essa multiplicidade. As ligações que se podem então fazer entre as coisas, as vivências, os sentimentos, os actos, não são metáforas superficiais, unidades formais. São percepções de que, em muitos campos da vida, se está espartilhado e é possível cortar as amarras do espartilho, libertando os constrangimentos. Não se trata de reunir tudo numa grande síntese, como fazem os religiosos, sentindo-se senhores da verdade. Trata-se antes de viver uma vida onde se vai descobrindo pontes, links, afectivo/conceptuais, entre campos, coisas, conceitos, afectos, memórias, referências, antes desligados. E é possível mostrar isso, e isso fazer sentido também para outros, ter valor comunitário.
Estes indivíduos são os que ficam realmente como actores da história, embora possam não ter qualquer notoriedade. Mas influenciam, mesmo que os influencidos o não saibam, outros actores sociais com poder de decisão.
É esse o poder do pensamento criador: ligar o que estava desligado, numa fulguração.
Não tem nada de misterioso nem de transcendente. É como a continuação das descobertas de uma criança, em plena maturidade.
O apego às pequenas coisas e aos detalhes esvai-se perante as estruturas arquitectónicas que o pensamento ergue, como monumentos levitando.
4 comentários:
" ...car l inconscient a un ordre propre qui ne se décode pas d emblée; de même, le champ de fouilles est un beau désordre, un précipité des aléas du temps(...) Comme l inconscient, les ruines témoignent d un dessaisissement qui met en question l illusion d une maîtrise absolue."
Sophie Lacroix, RUINE, 2008, p.78.
Claro.A ideia de um domínio absoluto é infantil, mas é a de muitos arqueólogos, ainda. Crescerão.
Belíssimo texto!
Foi óptimo começar minha manhã a ler um conteúdo assim - onde o contexto apresenta possibilidade para amplitude!
Amplitude: eis uma boa palavra.
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