ainda bem que regressaste
do Brasil,
com todas esss penas, e atavios,
atada pelas costas
a uma maresia
tropical
ainda bem que te conheci
que pude olhar o teu corpo,
com todas esss penas, e atavios,
atada pelas costas
a uma maresia
tropical
ainda bem que te conheci
que pude olhar o teu corpo,
fotografá-lo
no esplendor
deste estúdio
e ouvir
os apelos das araras longínquas
sobrevoando as colinas luminosas
das tuas costas, do teu rabo,
os sons de todos esses bichos
que proliferam
sobre a tua cabeça
entontecida,
toda essa profusão de taxonomias
chilrreantes
assim aceito
tratar-te
como a um dos meus animais,
deixar-te passear
nesta floresta
de memórias e de móveis
de pau-santo,
nua e tropical,
imitando sons
de pássaros meus
desconhecidos
sim, acolho-te,
com as mãos abertas
aos teus seios, à seda
dos teus seios,
à sua cor, ao seu calor
tépido!
põe-te em cima da peanha
sobe um pouco as pontas dos pés
que vai dar-se
tépido!
põe-te em cima da peanha
sobe um pouco as pontas dos pés
que vai dar-se
o disparo
e então ficarás
ainda mais presa
definitivamente
às maresias e às aves
do Brasil
e do escuro virão
os frutos, e cores,
definitivamente
às maresias e às aves
do Brasil
e do escuro virão
os frutos, e cores,
e odores, e bichos
passear entre a tua imagem
onde batem fortes
passear entre a tua imagem
onde batem fortes
os sons das ondas
a transpiração das costas
abrasadoras.
e as minhas mãos recolherão
as primeiras algas
que anunciam terra
abrasadoras.
e as minhas mãos recolherão
as primeiras algas
que anunciam terra
trazidas
pelo teus pés
pela tua nudez
deambulando
pela casa à noite
e segurarão nas tuas nádegas
nos pássaros ruidosos, iluminados,
do teu rabo
acima das palmeiras
acima das areias
estendidas
até ao horizonte!
e vem à boca este longo sal do mar
que enfuna as velas
dos músculos
e faz vibrar as cordas eléctricas
a voz que engrossa
que rejuvenesce as forças
e atira o corpo
contra a luz do flash
contra o turbilhão dos sumos
onde tu apareces
miraculosamente
ao centro
recém-regressada
jorrando água doce
suco de manga e abacaxi
das concavidades suaves
emitindo pequenos sussurros,
suspiros,
chilreios de pássaro louco,
tão tipicamente
brasileiro
agitando as pernas
desencontradamente
a nudez do rabo
a seda das penas
a sede das plumas
texto voj porto dez 2008
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