domingo, 21 de dezembro de 2008

O que custa viajar: o exemplo desta minha "missão" em Inglaterra (14 a 18 de Dezembro de 2008)


Londres. Foto tirada a partir da Blackfriars Bridge. 18.12.08



14 de Dezembro
- deitei-me às 2 h a acabar o power point para Leicester e levantei-me às 6 h.
Check-in no Porto e partida para Londres-Stansted na Ryanair.
Comboio Stansted-Londres (ida e volta 26 libras)
Londres Liverpool até St Pancras (mais 4 libras)
St Pancras - Leicester (a correr para apanhar o comboio - no total destes comboios "inter-cidades" gastei mais de 100 libras)
Estação de caminho de ferro de Leicester, mais morto que vivo: comprar algo para comer no quarto, comprar bilhetes de comboio de regresso, instalação no hotel. Nunca me soube tão bem um colchão fofo!

15 de Dezembro - levantar cedo para saber onde é exactamente o Colóquio internacional em homenagem da Profa Susan Pearce. Durante o duche, c. das 8 da manhã: alarme geral de fogo no hotel para abandono imediato. Um som de furar os tímpanos. Habituado a estas "especialidades" britânicas, não liguei muito. Entre morrer estornicado no hotel ou congelado no exterior, preferi o quente. Pequeno-almoço normal, sorte de encontrar o director do Departamento de Museum Studies ao telefone, ida com ele de táxi até ao novo Centro de congressos, que não conhecia (John Foster Hall). Inscrição, recepção de documentos, problema: uso um power point feito em Mac, algumas imagens não se vêem. Encontro uma colega com um Mac ligando-se à net, peço emprestado. Perfeito. Não: problema! Falta cabo para ligação ao data show, próprio para Macs. Finalmente um técnico arranja o cabo. Uf. Após o almoço, a sessão corre muito bem. Conheci uma série de pessoas muito interessantes. Pena não poder ficar. Táxi para a estação de caminhos de ferro, longe como tudo. Londres: o comboio chega atrasado para se poder fazer duas mudanças no metro pré-pagas. - cada um que se amanhe, no frio e na solidão. Resolução: táxi para a gigantesca Waterloo railway station. Londres à noite, junto ao Tamisa. lembra o filme Blade Runner. Telefonema da Faculdade para coisa urgente. Depois várias horas de comboio até Southampton (os transportes ingleses actuais deixam a desejar - autocarros então é um horror). De novo tento comprar algo para comer no hotel, mas está tudo fechado por ali; bem, adquiro o bilhete de volta do comboio e tomo um táxi. Na recepção do hotel, encontro o Gonçalo e a Evita. Parece milagre estar de novo "em casa".


16 Dezembro - levantar às 7,30 horas para ir para o TAG. Pagamento de inscrição (50 libras e organizando eu uma sessão!) e contacto com colegas e amigos. Todo o dia a ouvir sessões. À noite, agradável jantar. Arrasto-me para o hotel. Vou ler, até os olhos já não poderem.

17 Dezembro - de novo levantar às 7,30 horas (uma pessoa nestes países quase não vê a luz do dia, que aliás é pouca nesta altura do ano). Sessões de manhã. Almoço, tal como no dia anterior: uma sandes dentro de um saco de papel com um bolo e uma bebida (água). Avante para a nossa sessão, que dura toda a tarde, e corre muito bem. Toca depois a correr para hotel no meio do nevoeiro. Jantar agradável num pub. Chego ao hotel desfeito, mas tenho de fazer a mala.

18 Dezembro - levantar à mesma hora, pequeno-almoço, correria num táxi para a estação. Por 1 minuto 1 perco o comboio das 8,30 para Londres Waterloo. Apanho o das 9 h. Decido que isto não é vida, tenho de ir à Tate Modern pelo menos. Táxi. Visita das exposições, incluindo a de Rothko (por ser professor, com desconto, pago quase 12 libras - as exposições permanentes são gratuitas). Sublime momento, na vida há coisas boas, o paraíso ao lado do inferno. Incursão na loja do museu, maior que qualquer livraria do Porto. Em pouco tempo, tentar apanhar o que houver de mais importante para o que pesquiso. Compro dois livros e toca a marchar para a ponte sobre o Tamisa para apanhar o metro em Blackfriars. É necessário ir na Circle Line do metro, mas indicam-me mal. Se não estou atento, vou para leste; erros de quem vai poucas vezes a Londres mesmo, ficando-se pelos aeroportos, qual deles o mais torturante (dentro de dias já me vingo). Toca a mudar de linha e a voltar à Circle Line. Chego finalmente a Liverpool station, inserindo-me na onda de milhares de pessoas que por ali circulam. Comboio para Stansted. Almoço no aeroporto e procura de algo de interessante para trazer como recuerdo. Novo sistema de check-in da Ryanair: é preciso ir a uma máquina buscar o cartão de embarque com o nosso código de reserva. OK. Fila enorme, e lá me liberto da mala de porão, cujo fecho chegará ao Porto estropiado. É o menos. Finalmente lá entra tudo para o avião, tipo autocarro em hora de ponta. Mesmo assim leio um pouco do The Archive, livro que comprei na Tate. A mala chega, não se perdeu desta vez. Táxi para casa (os táxis em Portugal estão caríssimos). Não acredito. Estou em minha casa. Toca a comer algo, toca a desmalar, toda a ler centenas de mails.

19 Dezembro - estou a dar aulas de mestrado às 8,30 h. 3 horas seguidas. É milagre. Julgo poder vir para casa finalmente dormir. Doce engano... deito-me às 2 horas a trabalhar, a tentar pôr em ordem o caos resultante de ter estado fora apenas 5 dias.

Isto é vida?! E há pessoas que passam o tempo nestas viagens. Bem, pelo menos, está-se mais longe por uns dias de muita coisa chata deste país. Mudamos de calvário. É o que são as viagens actualmente. Fugir, andamos todos a fugir do calvário da vida.


5 comentários:

Anónimo disse...

Claro que não é vida. Se o dono do blog me deixar eu poderei descrever o que foram as minhas andanças pela Europa, na década de 90...a preparar exposições e congressos...como delegada portuguesa ao então Conselho da Europa.

jorgesapinto disse...

Fico abismado com tanta correria. Como africano, tudo isto me espanta. Mas bom, folgo em saber que o professor continua com a energia que sempre o conheci.
Parabéns!
Abrejos de todos nós.
Jorge e Ana Sá Pinto e restante pessoal.

Vitor Oliveira Jorge disse...

Toca a descrever! Mas é mais interessante o futuro que o passado.

Vitor Oliveira Jorge disse...

Caro Jorge, eu fui convidado há um ano pela organização do colóquio em homenagem à Prof. Susan Pearce a apresentar lá um paper em homenagem àquela notável colega. Através de mim, isso era também prestigiante para a minha Escola. Disse que sim; não podia recusar tal honra!
Qual o meu espanto quando, passado tempo, vejo que o TAG, onde vou sempre, e onde o colega Graeme Earl insistia para que eu propusesse uma sessão, calhava nas mesmas datas, ao contrário do que é habitual. Já vou ao TAG há muitos anos. Assim, organizei uma sessão mais pequena no TAG, mas fui, e isso abriu a porta a uma série de jovens a apresentarem comunicações.Quer dizer, uma pessoa é ela mas é sobretudo as suas circunstâncias. Escolhemos muito pouco, somos levados numa corrente,se queremos cumprir o nosso papel... é isso! Não se trata de correr por correr.Trata-se de ser um professor universitário, o que é lixado.

Anónimo disse...

Caro dono deste blogue: isto que vou descrever não é passado, é futuro! Aproveito uma gripe... para estes "recuerdos" dos anos 90 do século passado. Sempre aproveito o tempo..coisa que é tão cara ao professor. O tempo!

I- A saga dos aviões:

Num" fim de semana" de Dezembro apanhei um avião em Estrasburgo para Paris. Vinha "à cunha", como se fosse um táxi colectivo em hora de ponta, cheio de eurocratas. Nada ali era "normal"...Entrava-se até haver lugar..sem que eu me recorde de ter procurado "o meu lugar". Sentei-me ao lado dum asiático...e aquela hora de voo foi assim :eu, entalada na cadeira, com casaco e mala em cima das pernas a tapar-me a respiração, enquanto o meu vizinho do lado sorvia disciplinada e ruidosamente um sumo de presumível tomate! Aquela gente..que enchia o avião...era gente chique...atarefada...talvez...mas que pairava. E o avião não era bem um avião,era mais uma nave inter-galáxica, em trânsito, que ia deixar à Terra, durante 48h, uma centena de alienígenas, vindos de congeminar, em outra galáxia, aturados e complexos projectos de vida. Que fazia eu ali? Enquanto ouvia o sumo de tomate a entrar na boca do meu vizinho e a arrecadar-se nas suas entranhas...eu, terráquea, entre os alienígenas, ou já um pouco alien... também, eu perguntava-me o que fazia ali!

Ao sair da nave, em Paris, respirei fundo, e fugi para um táxi. Meti conversa com o motorista..não sem primeiro me ter certificado que era um taxista terráqueo parisiense. Ali já sabia o que fazia ali.


A gripe está a pedir-me que me deixe de fitas...e vá para a cama!


Ao Jorge e Ana: saravá! Não é preciso ser-se africano para se ficar espantado ao ver o que as pessoas correm, como se desgastam...para....corresponder às expectativas que geram e às quais se submetem de livre vontade...seja lá o que isto quer dizer! Quando estiver melhor.. escrevo mais sobre as minhas breves andanças eurocratas...que eu abandonei..felizmente...cedo! Até às cenas dos próximos capítulos!