VIVA O 25 DE ABRIL
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Nota:
Foi interessante o filme passado de madrugada já, pela SIC, e cujo realizador desconheço
(não tenho o jornal de ontem), sobre o 25 de Abril.
Mostrou bem como o poder, capturado pelos capitães, foi de imediato “transvasado” para a mais alta hierarquia militar - ou seja, como as contradições da revolução de Abril (quiçá inevitáveis) fizeram parte do seu próprio modo de se poder concretizar, foram internas. Uma revolução dos cravos, isto é, sempre com respeito por uma moldura determinada, é uma contradição nos termos, no seu lirismo. Isso está dado no filme de maneira muito interessante: as contradições de classe. Nesse sentido, a revolução do 25 de Abril não o foi: foi uma reforma (altamente corajosa e difícil) de um sistema que se tinha tornado totalmente caduco e oco para poder oferecer resistência, apesar das suas tentativas.
3 comentários:
Uma revolução é como uma viagem de comboio. Quem sai duma estação pode saír a meio, mas por vezes só quem entra a meio do percurso é que chega ao fim. Penso que analisar o 25 de Abril apenas pelos "factos" militares, duma forma que se positivista é muito redutor. E a revolução de Abril não se resume ao dia 25. Visto dessa maneira não passaria dum golpe palaciano e corporativo. Isso é o que alguns gostavam.A riqueza, diversidade e complexidade do processo de transformação social desencadeado a partir desse dia é que forma a verdadeira revolução. Quando se quebram as forma de sujeição e opressão que submetiam o povo e quando a antiga clase dominante vê tremer as suas próprias bases de sustentação. Basicamente poderemos dizer que a Revolução está em movimento até à promulgação da Constituição de 1976, que acabou por consagrar um certo "consenso social possível" saído directamente deste processo. Enquanto que no dia 25 os protagonistas foram os militares a partir daí é o povo que está na base das grandes transformações sociais.
o reformismo é uma ilusão. As grandes mudanças sociais significativas nunca se conseguiram com soluções reformistas. Apens por pressão da revolta popular ou por medo que o poder caísse na rua é que a classe dominante aceitou ceder parcelas do seu poder. Em Portugal os principais direitos políticos e sociais que hoje todos reconhecem foram conquistados primeiro por pressão da movmentação popular e só depois integrados na legislação. Não foi devido a nenhum impulso "reformista" por parte do poder estabelecido. Antes pelo contrário...
Tudo isso que você diz parece certo. O que eu estava é a querer reflectir sobre o carácter contraditório, complexo, do facto histórico em si do 25 de Abril. Há muitas versões dele, dos próprios protagonistas, como agora a aprece o Vasco Lourenço com o seu livro de entrevistas. E esta própria evanescência (pluralidade) do evento, do acontecimento histórico, era o que eu estava a referir. As classes sociais mantiveram-se no essencial intactas, como seria de esperar, antes e depois do 25 de Abril. A estrutura do aparelho de poder, se podemos simplificar assim, sofreu uma modernização, que prossegue, com a ajuda das mais diversas pessoas, há uma inflexão para novas e perigosas formas de controlo (através, como sempre, de certas técnicas, que passam sobretudo pela fabricação e difusão da "informação" e de entertainment), mas a opressão, por diversas formas, de largas camadas da população, prossegue. Tudo isto é muito complexo, mas faz por exemplo dos discursos que se produzem nestas e a respeito destas comemorações interessantes peças para estudar o que é a ideologia. O que é a relação entre as utopias, os vários autores delas, e os jogos de interesse que se movem em cada momento. E, no meio disto, uma ou outra atitude que ainda nos comove, sobretudo aqueles que sofremos tanto tempo com uma ditadura que era insuportável, mas insuportável de modos muito diferentes consoante as pessoas e sua situação no xadrês social. No meu caso, o regime anterior condicionou e determinou toda a minha vida, as minhas opções, frustrações e recalcamentos, até ao dia de hoje. O que também dá para pensar o que é a periodização e como se prolongam n tempo, de acordo com variadíssimas circunstâncias, os estigmas do passado, individual e colectivo. Etc. Tudo o que disse aqui são simplismos, é isso a matéria dos blogues, mais uma técnica para nos entreter.
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