quarta-feira, 29 de abril de 2009

Marvão e Ammaia ao Tempo das Guerras Peninsulares

Marvão e Ammaia ao Tempo das Guerras Peninsulares


Foi apresentado no domingo, 19 de Abril, num dos auditórios da Câmara Municipal de Marvão, o número especial de 2009 de "Ibn Maruan", revista cultural daquele concelho, dirigida pelo Doutor Jorge de Oliveira, intitulado Marvão e Ammaia ao Tempo das Guerras Peninsulares (ISBN: 978-972-772-876-3).
Justificou-se este número especial por conter dois artigos que, cada um à sua maneira, se prendem com a problemática das chamadas Invasões Francesas (acontecimento ora comemorado, na passagem do seu 2º centenário) e que evocam um aspecto dessas lutas que ainda não terá sido suficientemente posto em realce: a existência de manuscritos deixados por intervenientes nesse conflito, manuscritos que, para além dos aspectos bélico-militares, podem ter - e têm -informações de índole histórico-arqueológica. Por isso, não hesitei em dar como título à apresentação «A magia de Marvão - antiguidade e espionagem de mãos dadas por ocasião das Invasões Francesas» (p. 11-13).
Sob o título «O estatuto jurídico de Ammaia, a propósito de uma inscrição copiada em 1810» (p. 35-55), Armin U. Stylow, do Instituto Arqueológico Alemão, dá a conhecer um pedestal romano (hoje desaparecido) que o coronel Sir Alexander Dickson (1777-1840) desenhou junto a Ammaia. Esse militar participou, desde 1809 até 1813, nas Guerras Peninsulares e foi redigindo um diário, com as mais diversas anotações. No ano de 1905, toda essa documentação foi editada em cinco tomos, a cargo da Royal Artillery Institution, pelo comandante John H. Leslie: The Dickson Manuscripts being diaries, letters, maps, account books with various other papers of Sir Alexander Dickson Series ?C? ? from 1809 to 1818.
Esse pedestal de mármore dá a conhecer o dúunviro Marco Júnio Galo, inscrito na tribo Quirina, que foi genro de Turrânia Cílea, a dedicante do monumento.
Quer pela onomástica quer pela estrutura formal, a epígrafe pode, pois, relacionar-se com Conímbriga, onde se regista a família Turrânia e onde também as iniciativas de louvores públicos partem, amiúde, de mulheres da família a que ficaram unidas por via conjugal.
Por seu turno, Juan Manuel Abascal (da Universidade de Alicante) e Rosario Cebrián (do Parque Arqueológico de Segóbriga), redigiram o texto «José Andrés Cornide de Folgueira e as inscrições de Ammaia (conventus Pacensis)» (p. 15-32).
Dentre os investigadores da Antiguidade hispânicos, poucas personalidades conheceram tão bem Portugal como Cornide (La Coruña, 25-4-1734 ? Madrid, 22-2-1803). E o grande empreendimento da sua vida foi a viagem a Portugal, encarregado pela Real Academia da História e encorajado pelo próprio Manuel Godoy, que via nele a possibilidade de conhecer, em primeira mão, o sistema defensivo do país vizinho, na perspectiva de um eventual conflito. Cornide realizou essa viagem entre 20 de Outubro de 1798 e 10 de Março de 1801.
Os dois autores observam a paisagem, o terreno e os lugares de um ponto de vista muito parecido, ou seja, as suas potencialidades para fins militares; mas, enquanto Cornide concilia a sua missão de espionagem com um vivo interesse de antiquário, Dickson, naturalmente educado com os clássicos, é, antes de mais, soldado, empenhado, além disso, numa guerra real, e interessa-se pelos vestígios arqueológicos apenas como um curioso.
O que, para os historiadores da Antiguidade e, nomeadamente, para os epigrafistas resulta interessante é que Cornide - para além dos inúmeros pormenores que narra acerca da paisagem e das fortalezas - vai à cidade romana de Ammaia e aí copia inscrições que, mais tarde, desapareceram ou chegaram até nós incompletas, por terem sido reaproveitadas em construções. E esse é, sem dúvida, um importante contributo.

José d'Encarnação
(divulgado na archport: 27 Apr 2009 18:10:55

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