quinta-feira, 6 de agosto de 2009

pianíssimo









apanho já demasiado tarde
o movimento que começou algures
e aqui começa a subir os degraus
da intensidade, com a dispersão das forças
em todas as direcções:

uma implosão parada, com as roupas
e os elásticos todos esticados,
um desespero estático, uma máquina
de atirar os músculos para o ar, contra
as paredes invisíveis:

um desligamento de ligas, uma febre
de tendões, uma electricidade que vem
não sei bem de onde, quando as aves
se tentam desesperadamente desprender
das suas penas, e encontrar no centro
da moela o próprio núcleo da intensidade:

é um concerto em que todos os instrumentos
dão o seu máximo, e no entanto estão parados
como pássaros capturados dentro da sua função
desesperada, tentando virar as vulvas do avesso,
desdobrar no ar as luvas em punho pelo interior.

um revoltejar de fluidos e de silêncios
que precisam apenas do som dos músculos
para encenar toda uma tragédia pianíssima.


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Fotos: Ernesto Timor
Texto: voj porto agosto 2009

2 comentários:

mariabesuga disse...

tanto quanto pianíssimo pode ser o movimento do lado de dentro dos corpos... retesados se encontrem os sentidos.

Um abraço

Vitor Oliveira Jorge disse...

isso !!!!!!!!!