terça-feira, 4 de agosto de 2009

contemplação



um homem velho encara o verão no centro,

não bem o azul puro, mas a transparência que o filtra.
esse clarão que esmaga a vista, e entontece.
esse centro ofuscado pela sua presença brutal, pelo véu
da sua realidade inacreditável.

e pensa, e sente, e pede não sabe o quê,
talvez que uma imagem se volte
e pronuncie o código do verão, as palavras que o abrem.
o homem velho está coberto de terra, e tenta ver
através do véu da transparência, encarar de frente
a sua liberdade, a juventude que desce do azul,
algo de resplandecente, que tenha sobrevivido
ao correr dos anos, à fadiga dos gestos, de tantas buscas.

e de súbito acontece, mas o quê? nada, talvez
apenas uma imagem que se volta, apenas um enigma
que se apresenta para sempre irresolúvel, talvez a morte
no centro da alegria do verão, entre flores e atmosferas limpas.

como saber? fica-se condenado à contemplação.




texto e fotos: voj, 2009




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